13- O belo sonho que eu sonhei

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Passei o resto da noite no quarto e ninguém se incomodou em ir ver como eu estava. Não se se agradeço a isso ou fico ainda mais triste. Choro, soluço, mas não saio da cama em nenhum momento. Com os olhos já inchados, o nariz vermelho e com os ombros balançando menos, consigo pegar no sono. Só acordo no dia seguinte com uma dor de cabeça dos infernos. Quero tanto apagar as últimas lembranças, pois elas me machucam mais do que qualquer machucado que eu já tive. Muitas emoções fundindo-se. Isso enlouquece a minha cabeça.

Levanto da cama, meus ossos reclamam, muitos estralando, outros travando, fazendo eu criar uma careta. Vou na direção da porta para descer, entretendo, antes, decido ver as horas. Dez da manhã. Isso é melhor do que nada, mas ainda continua sendo pior que muita coisa, pior do que quase tudo. Não posso simplesmente sair agora para encontrar com Iryam.

Ah. A perspectiva de eu me encontrar com Iryam é a única coisa capaz de fazer eu ter vontade de levantar dessa cama. Um propósito. Era isso que eu precisa. Só disso. Nada mais.

Desço as escadas em direção da cozinha. Hoje, ainda bem, não encontro com os Limas, mas em compensação vejo Caroline e Dmitri abraçados, todo melosos, parecendo libertos pelo jantar de ontem. Sinto meu estomago embrulhar. Nunca fui muito fã de coisas melosas, agora não sou muito fã deles, isso não é uma mistura muito boa para ver em jejum.

Caroline nota a minha presença, finalmente. Num salto, se desgruda de seu namorado e vem na minha direção. Seu olhar preocupado é ainda pior do que o animo de Cássia.

Acho que preferiria ver os Limas de novo.

— Bom dia, Vanessa. — diz alegre. Contraio o cenho e passo os dedos pelas têmporas. Parecia que o sino de Belém está tocando dentro da minha cabeça. — Oh, desculpe. Quer algum remédio? — indaga afagando o meu braço. O puxo bruscamente. Torço que não tenha parecido com repúdio, mesmo eu sentindo um pouco agora, muito menos raiva, que está comigo a um pouco mais de tempo. — Tudo bem? Quer conversar?

— Não. — respondo seca, com a voz um pouco rouca e a língua áspera. As palavras saem firmes. Sinto como tivesse um punhado de areia na garganta. Caroline se afasta como eu a tivesse a machucado. Talvez tenha mesmo. As palavras são as armas mais mortais, pois te rasgam, criam uma ferida tão profunda que só com o tempo, muito tempo, talvez comece a curar. Não é com um simples "eu sinto muito" que vai fazer tudo voltar como antes.

Dmitri vem na nossa direção, preocupado. Está nítido que quer ver o que houve. Não pretendo estar no meio do casalzinho, então eu saio na direção geladeira. Pego uma pequena garrafa de água e bebo com o remédio para cabeça. O estressadinho foi acudir a sua amada, e o não culpo por isso. Na verdade, fico até agradecida. Acho que ele é o único que eu sinto menos raiva. Ele foi sincero comigo, ele escondeu o namoro dele do pai, de minha tia, mas eles estão bem, ele me contou sobre a traição de Caroline, me salvou daquele verme. Ele é o verdadeiro príncipe encantado num cavalo branco. Ele não tinha nenhum dever em me contar os detalhes sórdidos de sua vida, só descubro de enxerida, na realidade. Mas eu sempre contei as coisas para ela... bem, quase tudo... só duas coisas escondi.

Gabriel e Iryam.

Ela nunca o encontrou, nunca fiz questão de tentar fazer eles se conhecerem; e Gabriel... bem, está longe de ser algo fácil de contar.

Pego uma nectarina. Essa é uma fruta interessante. Não é um pêssego, parece com um, é menos macio, mas parece mais doce, não tem aquela camada felpuda do mesmo e é tão boa quanto. Quem fez eu ter todos esses questionamento foi Anastácia há muito tempo atrás.

Bellem.

Oh, Bellems. Família unida e difícil. Mesmo gênio os primos compartilham sem saber, todavia Anastácia sempre foi sempre mil vezes mais fácil que Gabriel. Oh, os Bellems. Cheios de aventura, querendo uma boa viajem, um novo desafio, nunca ficam muito tempo no mesmo lugar, nem tão misteriosos. O verdadeiro ponto de interrogação é Flor Bellem, a matriarca... Digna de Sherlock Holmes.

V.A.JAMES Onde histórias criam vida. Descubra agora