17- Acredite, acredite no melhor e o pior virá

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Azul ou vermelho? Olho as duas peças estendidas na cama. O azul é mais bonito, num tom escuro e pequenos corações pretos, mas sempre tive uma preferencia pelo vermelho, sem contar nas alças finas e tecido fresco. Ambos os vestidos são bonitos.

— O que você acha, mãe? — pergunto. Dona Ana desencosta do batente branco adentrando no meu quarto. Senta na cama e começa a dobrar o vestido azul. — Por que está fazendo isso?

— Porque não importa a minha resposta. Você vai escolher o que preferir. — diz. Comprimo os lábios. Mamãe me oferece a peça. Reviro os olhos.

— Sou tão previsível assim? — Pego o vestido. Enquanto guardo escuto a sua risada. Ela não poupa esforços quando o assunto é me responder. Varia de uma risada para algo espertinho. Será que puxei isso dela?

— Você não é previsível, eu que sou mãe e te conheço muito bem. — responde. Rio junto. Bem, contra esses argumentos não posso contrariar. Quando viro-me, percebo que tem algo a mais.

— Quer me contar algo, senhora Ana? — pergunto contraindo as sobrancelhas.

— Quem disse que eu escondo algo? — replica. Sento do seu lado na cama. Deito em seu colo e ela acaricia minhas madeixas soltas.

— Eu sou sua filha e te conheço muito bem? — uso seu argumento contra ela. Ouço seu riso. É, no fim, eu tenho quem a puxar. Levanto e pego a mala deitada no chão. — Eu já peguei tudo? — pergunto. Minha mãe é organizada, mas nada que se compare a Caroline. Quando estava nessa época do ano, quem me ajudava era ela, vinha aqui em casa e ficávamos fazendo essa tarefa maçante.

— Figurino? Ok. — começa a listar mentalmente cada item. — Roupa para ir? Ok. Maquiagem? Ok. Sapato? Ok. Saco de lixo? Ok. Coisas para o cabelo? Ok. Sapatilhas?

— Ok. — falo em seu lugar. Sorrimos. Talvez as coisas fiquem bem no final.

Mamãe levanta, pega a mala, a deixa ao lado da cadeira da pequena escrivaninha, começa a andar e segura a porta, fechando-a parcialmente. Apaga a luz e vira a cabeça para mim antes de sair.

— Vai dormir agora que o dia vai ser longo. — diz. — Boa noite, filha amada. Até mais tarde. — despede-se fechando a porta.

Pego a fina manta purpura para me enrolar. Caroline tinha vindo mais cedo e deixou ela aqui. Disse que achava uma boa ideia, para dar sorte, já que havia entendido que não a queria mais perto de mim. Só estava nós duas no apartamento. Hoje também seria o dia que ela voltaria para a casa dela. Pelo visto não foi apenas os meus pais que voltaram antes do previsto.

Não sei até agora porque aceitei. Deveria ter recusado. Por vários motivos meu orgulho diz que fiz a escolha errada, mas não escuto, afinal, é o meu orgulho e teimosia, mesmo que ela não tenha surgido. Em compensação, para contrabalancear, meu coração, e o mais importante, o meu cérebro dizem que fiz o certo.

Ela é a minha prima, mesmo que vocês não estejam se dando tão bem. Culpa sua. Você tem noção disso.

Viro para o lado encarando o breu. Pequenos círculos fluorescentes pontilham a visão quando fecho os olhos. As cores são vibrantes. Talvez as únicas que tenham sobrado dentro de mim.

Em compensação, eu e Henrique estamos nos dando muito bem. Como é difícil acreditar como as coisas estão se modificando em pouquíssimo tempo. Parece que foi ontem que éramos inseparáveis, hoje mal olho na cara dela e de seu novo namorado.

Pelo menos, nesse fogo cruzado, meu coração está inteiro. O mesmo, creio, não ocorreu com Alex. Ele era um doce, vivia conosco, agora está mais para um estranho. Nem sei se Dmitri sabe sobre o ex dela. Como o termino dos dois modificou tantas relações. Nem sempre as mudanças vem para melhor. Todavia, torço que no final da tempestade o arco-íris venha, e que seja logo.

V.A.JAMES Onde histórias criam vida. Descubra agora