1.03: artur

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Caminho até a quadra que fica no fundo do colégio, onde alguns alunos mais novos jogam futebol. Tento me lembrar de como eu gostava de estar em equipe, de depender do time para conseguir um resultado. Hoje era algo que me daria nos nervos.

Meu treinador nem finge prestar atenção no jogo que deveria estar apitando.

– Treinador! – grito, e ergo uma das mãos para sinalizar que estou ali.

Ele vira de costas para a quadra e caminha na minha direção.

– O que traz meu o garoto prodígio a essa humilde quadra? – ele bajula, e eu tento segurar o sorrisinho. O treinador sabia que nunca ia ter um aluno melhor que eu, mas não gostava de falta de humildade.

– Tava pensando em treinar um pouco hoje.

– Para desestressar ou pra ter uma desculpa pra faltar as aulas do último dia? – ele me conhecia como ninguém.

– Você sabe. Os dois.

O treinador me olha sério por um momento, provavelmente concluindo que eu causaria mais prejuízos ao pobre professor tentando dar a última aula do ano em paz. Ele se vira na direção aos alunos na quadra, joga o apito para um dos meninos que espera sua vez para jogar e segue para sua sala, sem dizer nada. Eu espero, e ele retorna com um quimono na mão.

– Tem certeza que vai passar nessa desgraça de vestibular, não é? – diz com o quimono na mão esticada.

– Cem por cento de certeza.

– Então vai se trocar. E se prepara pra apanhar muito.

Eu não estava esperando nada além de um treino leve. Só para suar um pouco e colocar os pensamentos no lugar. Mas o treinador está decidido a descontar alguma coisa em mim. Mesmo sendo os treinos pesados que ensinam mais, tem alguma coisa especialmente sádica no seu olhar.

Eu assinto. Tranquilo.

– Qual foi a primeira coisa que te ensinei, logo quando você começou, antes de você ficar bom?

– Os mais fortes devem defender os mais fracos.

– E você acha que isso é apenas sobre força?

– E não é?

– Lógico que não, menino prodígio. – ele ostenta a arrogância satisfeita de quem consegue me encurralar com argumentos – Solidariedade é o que está por trás de tudo. Se é tão inteligente quanto dizem, já devia ter percebido.

De repente, estava muito claro o que o treinador estava tentando descontar em mim.

– O senhor é um dos que acha que Matheus devia receber tudo de bandeja, sem se esforçar o mínimo. – eu afirmei, sem me preocupar em fazer uma pergunta. Eu não queria saber da resposta. – Eu me lembro do senhor dizendo que sem disciplina nunca seremos bons. Isso mudou? Quer que eu faça a prova pra ele também?

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