5 - Aproximando-se

759 102 393
                                    

***
Ao dia seguinte, depois do almoço, Verônica ficou esperando por Alejandra para as atividades planejadas. Entretanto, eram quase 3 da tarde e ela ainda não tinha se apresentado para as aulas daquela tarde. Ela era o reflexo da rebeldia juvenil e os temas que Verônica tratava com ela pouco lhe interessavam. Verônica, então, percebeu que precisava de uma estratégia para conectar-se com a jovem. Colocou alguns livros na bolsa e se dirigiu ao estábulo. Ali pediu que lhe selassem um cavalo para ir ao encontro de Alejandra. Não tinha certeza de onde ela estaria, mas tinha algumas suposições.

O comportamento rebelde da adolescente lhe incomodava por tudo o que ela havia feito questão de esclarecer com Julian. Não havia conseguido quase nenhum avanço com Alejandra em todo aquele tempo e odiava ver-se sem conseguir vencer o desafio que Julian lhe havia proposto, perdendo para alguém que era quase uma criança. Além disso, depois desse sonho de à noite precisava reforçar que a ligação dos dois não passava de uma relação entre patrão e empregada principalmente para si mesma. Em hipótese nenhuma poderia revelar esses desejos que lhe tentavam à noite à ninguém. Nunca!

Percorreu a cavalo os lugares que sabia que Alejandra gostava de frequentar. Depois desse tempo ali, já sabia grande parte dos costumes da jovem. Foi até onde os vaqueiros levavam o gado, mas ela não estava, acreditou que ela estaria no armazém, nas barras de Julian, despachando a mercadoria. Chegando bem perto, antes da entrada do armazém, encontrou a adolescente sentada ao lado de seu cavalo.

— O que você está fazendo aqui, não tínhamos um compromisso? — Verônica disse descendo de seu cavalo.

— Ah, é verdade, a aula de literatura, eu esqueci. — Disse cínica.

— Você não se esqueceu, você não quis ir, não é verdade? — Verônica a enfrentou.

— Se já sabe, então porque veio atrás de mim? — Ela a encarou firme.

— Porque seu pai me contratou para proporcionar-lhe um pouco mais de cultura a você, mocinha. E, se eu fui contratada para executar um trabalho, eu o realizo, simples assim.

— Tanto faz! — Desdenhou Alejandra.

— Tome. — Disse Verônica estendendo um dos livros que tirou de dentro da bolsa que levou até ali. — Este era o livro da lição de hoje. Vamos lê-lo aqui.

Alejandra arregalou os olhos surpresa. Tudo o que dizia respeito ao mundo que Verônica queria lhe apresentar não lhe interessava. As aulas de piano, de etiqueta, os conselhos e todos aqueles enfadonhos livros. Mas o que mais lhe incomodava era que essas aulas aconteciam naquela casa. Fechada, longe de toda a liberdade que a fazenda lhe proporcionaria.

— É sério? Aqui? — Verônica podia ver um brilho diferente nos jovens olhos de Alejandra.

— Sim, muito sério. Porque quando se trata de um livro, pouco importa o lugar em que você esteja quando o leia, apenas que perceba o quanto ele é capaz de te levar a qualquer lugar. — Verônica estava decidida.

— Eu não entendo. Qual o sentido de estudar literatura ou aprender essas bobagens que a senhora tenta me ensinar? Aqui eu não preciso de nada disso.

— Talvez agora você não tenha consciência, mas algum dia você vai entender. E vai fazer sentido. Por exemplo... leia o poema que eu separei.

Alejandra iniciou a leitura descrente porque não tinha alternativa:

Um rio soa sempre perto.
Há quarenta anos que o sinto.
É cantoria de meu sangre
ou melhor um ritmo que me deram.
Ou o rio Elqui de minha infância
por onde eu subo e vadeio.
Nunca o perco; peito a peito,
como duas crianças, nos temos.

Tentados Pelo Desejo - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now