Tentados Pelo Desejo - DEGUSTAÇÃO

Prólogo

México - 1949

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O balanço da charrete fez com que Verônica sentisse um forte enjoo obrigando a que Miguel parasse pela quinta vez naquele dia. Não o fez a contragosto, pois compartilhava com a esposa a alegria de finalmente sentir que se aproximavam de seu destino final. Contavam cento e vinte dias desde que saíram da casa que ocupavam na imponente La Tormenta, a invejada fazenda de Severiano Aguillar em Vera Cruz nos arredores de Xalapa a centenas de quilômetros dali.

Dois dias antes haviam conhecido, em uma pequena venda de Villahermosa, Fulgêncio e sua esposa Eloísa. Miguel havia combinado com o homem de conhecer suas terras e, caso encontrassem aquela identificação que buscavam, comprá-las para pôr fim à essa exaustiva viagem.

A parada fez com que ela pudesse observar mais detidamente a paisagem. Verônica havia ouvido muitas vezes falar da beleza das terras de Tabasco desde que conhecera Miguel. Ali seu avô havia feito sua vida no século XIX e suas vivências, deixaram na memória de toda sua família uma sensação de pertencimento que seu marido jamais havia sentido na fazenda La Tormenta e, talvez, nem mesmo ela.

Entretanto, nenhuma descrição se aproximou da impressão que sua própria vista lhe deu, pois depois de atravessar o país e ver tantos lugares incríveis, sabia que havia algo diferente naquele lugar, talvez tivesse encontrado seu lar. Seus pensamentos foram interrompidos pela agradável sensação de aconchego produzida pelo abraço de Miguel por trás que lhe fez sorrir de felicidade.

— Vou montar nossa tenda aqui. Quero começar a construir nossa casa o mais rápido possível. — Não foram necessárias palavras para que Miguel soubesse que Verônica queria ficar.

— Eu seria feliz em qualquer lugar com você, mas aqui... Este parece o lugar perfeito, meu amor. — Suspirou Verônica.

— O povoado, a cachoeira, as fazendas, toda essa vegetação. Este é o lugar que sonhamos. — Alegrou-se Miguel.

— E suficientemente longe de meu pai. — A lamentação fez com que seus olhos vissem nublada aquela contemplação. — Você acha que chegamos realmente ao lugar que suas pistas nos indicaram?

— Felizmente — Introduziu Miguel com insegurança. — depois de tantas perguntas, especulações só pode ser este lugar, Verônica. Era aqui que ela queria nos trazer. Que ironia que seja o mesmo lugar de que meu avô me falou. Ou talvez seja outra coisa...

— Destino? — Verônica estranhou porque sabia o quão cético era Miguel.

Talvez carma! — Ele pensou. Mas isso não disse a Verônica. Havia coisas das quais ele preferia poupar sua esposa e, muito mais agora.

— Meu único medo é de descobrir o pior. — Verônica lhe confessou. — Faz tanto tempo que ela enviou essa carta, foi tão difícil decifrá-la e depois, nenhuma nova notícia. Se não fosse o seu empenho, nunca saberíamos que Fernanda queria que viéssemos até aqui.

— Eu fiz isso por você! — Miguel recordou todo o trabalho que teve para convencer Verônica a finalmente abandonar a La Tormenta. — Fernanda, assim como você, como nós, não desejava outra coisa que não fosse afastar-se de Don Severiano e buscar sua felicidade, Verônica. Ela queria se proteger de que ele a encontrasse. E ele não a encontrou, como não vai nos encontrar!

Verônica nunca havia querido sair da La Tormenta de maneira tão sorrateira. Tinha suas diferenças com seu pai, mas, ao contrário de Fernanda, não queria fugir, não acreditava que fosse esse o melhor caminho. O amor de Miguel foi maior que seu receio a deixar tudo para trás. O passo seguinte foi cuidar de não deixar vestígios. Amealharam uma quantia em dinheiro suficiente para começar uma vida confortável e tomaram cuidado de não depositar em nenhum banco para não serem alcançados pelos tentáculos de Don Severiano.

Preferiram enfrentar as estradas naquela charrete para não deixarem rastros inevitáveis em uma viagem de trem ou de ônibus. Estavam próximos de Villahermosa quando descobriram que esperavam um filho, o que solidificou a certeza de que não deviam voltar. Miguel abriu suas mãos na altura da barriga de Verônica e acariciou seu ventre.

— Nosso filho vai ser muito feliz aqui. — Disse emocionado. — Longe de qualquer passado que um dia nos perseguiu.

— Nossa família vai ser muito feliz aqui, amor. — Respondeu Verônica segurando a mão de Miguel sobre seu ventre. — Esta, sem passado, que construiremos nesta terra: você, eu nosso filho e... Fernanda que sinto que vamos encontrar! — A esperança se materializou em um sorriso.

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