ÁUDIO NÚMERO 287: Oi, eu arrumei um emprego na loja de conveniência daqui...

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— Oi, eu arrumei um emprego na loja de conveniência daqui perto porque meu amigo foi demitido e olha! Eu acho que sou melhor que ele.

Jimin já balançava contra o banco do ônibus enquanto esperava por ele continuar a falar. Imaginava quais eram os segredos daquele homem, já que ele contava de tantas coisas. E se ele realmente tinha algum, Jimin saberia identificar?

Continuou encarando o lado de fora da janela, procurando por algo que não tinha percebido antes. Assim como um treinamento.

Ruas molhadas, anotado. Lixo na calçada, anotado. Barzinhos abertos, anotado. Adolescentes molhadas e rindo? Essa era nova. Então realmente existiam pessoas que iam para a balada numa sexta a noite, e chovendo.

Franziu a sobrancelha quando não ouviu o homem continuar a falar. E quando ia checar seu celular, ele deu uma tossida falsa.

— A vitória é finalmente minha então eu não tenho muito o que falar. 

E então terminou assim, do nada. Soltou uma risada incrédula e olhou para o motorista segundos depois, checando se ele continuava o olhando estranho.

Faltavam mais cinco paradas até a mais próxima de seu apartamento com os pais. Depois, teria uma caminhada de cinco minutinhos e lá estaria ele! Bem em sua casa quentinha e confortável.

Estaria mentindo se dissesse que nunca questionara ter um apartamento, um lugarzinho só para si. Mas o conformismo não deixou-o continuar. E também, se estivesse triste e quisesse conversar com alguém, era só ir para o fim do corredor e entrar no quarto dos pais.

Batendo na porta primeiro. Em hipótese alguma entre antes de anunciar sua presença.

Tirou o celular do bolso e pausou a reprodução. E sem fechar a aba do blog, fechou o navegador. Depois, foi para seu Twitter. Deixou-o carregar por no máximo três segundos, antes de começar a apertar no ícone de conversas diversas vezes.

Seu grupo de amigos ainda enviava mensagens freneticamente. Abriu um sorriso com as mensagens preocupadas de Taehyung e sua falta de notícia. Começou a escrever.

| Ainda não estou morto.

Não demorou muito para que seu celular se recheasse de notificações.

Passou o resto da viagem de ônibus daquele jeito; encolhido no seu banco de ônibus, como se não quisesse que ninguém mais visse o que ele estava fazendo, mesmo que estivesse sozinho.

Estava frio, e chovendo. Jimin estava cansado, exausto, e não via a hora de chegar em casa.

Estava satisfeito com suas conclusões, porém.

...

— Acho que vou trancar a faculdade até decidir o que realmente quero fazer.

Taehyung o olhou e franziu as sobrancelhas. Era sábado de manhã, e seus dedos estavam congelando mesmo dentro das meias. Encolhidos no sofá, tomando chá e comendo bolacha, Taehyung soltou uma risada, caçoando-o.

— Eu pensei que quisesse fazer Literatura?

Jimin negou quase que imediatamente.

— Eu só não queria deixar um ano em branco, mas acho que essa é a melhor opção. — Viu Taehyung assentir e assentiu junto. — Eu pensei que talvez eu pudesse fazer literatura funcionar. Mas não consegui.   

Não precisou falar nada para fazer Jimin perceber que entendia. Taehyung não tinha começado a faculdade, e desde que tinha sido aceito numa agência de modelos, não planejava.

Só olhou para o amigo mais uma vez, com olhos tranquilos, e bebericou seu chá.

— Tem que pensar bem e não se arrepender depois. De novo. —  Taehyung anunciou seu meio sermão, e quando Jimin ameaçou revirar os olhos, abriu um sorriso sapeca — Se percebeu que Literatura não ia funcionar, achou alguma coisa que o interessa?

Jimin franziu a testa.

Era uma boa pergunta. Não tinha nenhum hobby em particular. Passava suas tardes livres do trabalho e da faculdade comendo, e tremendo de frio nos dias de chuva. Quando podia, ajudava Hoseok em seu estúdio. Ajudava-o a gravar, murmurava suas letras de música arrastado, só para ele saber como soava. E quando Yoongi aparecia, ele já não tinha utilidade nenhuma. 

Quando Taehyung saia com ele, gostava de ajudá-lo a tirar fotos para suas redes sociais. A sensação engraçada de deitar-se no chão de forma entusiasta enquanto o amigo posava, preocupado com sua própria câmera nas mãos de Jimin, era boa. E também, gostava das opiniões de Seokjin quando ele parava no café da família alguns dias da semana, sentava no balcão, e não fechava a boca enquanto não tinha acabado de falar sobre todos os seus boatos. Ele comia os bolos e salgados com prazer, e depois, dava umas dicas para Jimin e para a família.

Jimin nunca tinha se encontrado com Namjoon, e nem nenhum de seus amigos, e por algum acaso ele tinha parado no grupo de amigos deles no Twitter. Estranho. Engraçado.

— Várias coisas me interessam. — Respondeu, com um sorriso frouxo na boca.

Taehyung deu uma risadinha. Encarou Jimin enquanto ele franzia a testa mais uma vez, batucando as unhas lixadas em sua caneca, pensando. Viu seu rosto se iluminar e fingiu beber de sua caneca, esperando com que ele falasse.

— Talvez Gastronomia. — Jimin começou, forçando uma linha séria nos lábios, como se não fosse nada demais — Talvez eu só continue fazendo o que eu sempre fiz.

Por fim, quase cuspiu o chá de sua boca ao tentar segurar a risada, os lábios de Jimin tremendo enquanto ele tentava manter-se sério. Um sorriso torto iluminou sua boca.

— Eu não faço a mínima ideia.

Taehyung assentiu, achando graça.

Os dois se viraram na direção da televisão, e bateram as mãos uma na outra ao buscar pelo prato de biscoito colocado no meio dos dois. Taehyung retraiu sua mão, enquanto Jimin pescara-os com a ponta dos dedos e enfiou tudo de uma vez na boca.

— Não precisa saber. — Taehyung deu risada — Enquanto vocês não falirem, você não precisa fazer faculdade tão cedo.

Jimin o olhou feio. 

so i failed at acting like a normal human beingWhere stories live. Discover now