Dia dois: Irmãos

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Lance diversas vezes se perguntava o porquê de ainda continuar a fazer orações. Ajoelhado na frente da imagem da virgem Maria, com o terço enrolado em uma das mãos e mãos postas, o cubano pedia proteção e sorte para ele e a todos com quem se importava.

O pequeno local de orações no trailer que ele dividia com Hunk era bem simples, a imagem de madeira da virgem, algumas flores de verdade, outras de plástico, velas e sua arma de fogo - uma 12 milímetros que ele comprou com o próprio dinheiro na Venezuela durante uma temporada que o circo passou por lá, quando tinha doze anos.

Lance respirou fundo e soltou devagar ao fazer o sinal da cruz e guardando a arma dentro da calça jeans que usava, a tampando com a camisa ao se levantar e dando as costas a imagem da Santa envolvendo o terço no pescoço e beijando o pequeno crucifixo de madeira que ele possuía.

- Indo trabalhar? - Questionou Hunk franzindo o rosto, preocupado.

O rapaz estava sentado no sofá pequeno, a perna ferida por um punhal esticada para cima do braço do estofado enquanto ele trocava os próprios curativos.

Lance se odiava por não conseguir nem mesmo o ajudar nisso, acabava se atrapalhando todo com os cuidados de uma ferida aberta. Se fosse de última necessidade ele podia fazer um torniquete e estancar o sangue, mas depois disso, quanto aos cuidados para evitar infecção, ele era uma negação. Hunk por outro lado havia passado muito tempo com médicos e curandeiros de diversos lugares do continente americano onde faziam apresentações e sabia de tudo um pouco, sendo a pessoa mais confiável que Lance conhecia para lidar com qualquer tipo e ferimento.

Claro, depois de Allura. Ela conseguia assustar uma bactéria só com um olhar de desgosto para as feridas, mas ela morava naquela cidade sem precisão de sair, então no geral, Hunk era o médico emergencial.

- Lance? - Chamou Hunk esticando a mão para tocar seu pulso e Lance ergueu o olhar. - Não se preocupa com isso. Foi só mais um machucado, logo vai ser só uma cicatriz. - Disse e Lance encolheu os ombros.

- Não peça o impossível, grandão. - Pediu o cubano e Hunk sorriu. - Além de ser o motivo disso, ainda não posso te ajudar... é tão... injusto! - Chiou o garoto e Hunk soltou o ar. - Queria fazer mais por você. Por todos da nossa família, mas...

- Lance, você já faz mais que o bastante. Ninguém aqui tem a coragem que você tem, ninguém desafia Sendak, ninguém pensa que tem escapatória. Mas você nos dá esperança por fazer isso, por imaginar formas loucas de mudar nossa vida. - Lance ergueu os olhos para o rosto de Hunk, que lhe sorriu. - Apenas seja você e faça o que sempre faz, no fim vai dar certo.

- Você confia de mais em mim, irmão. - Disse rindo e Hunk revirou os olhos.

- Se eu não confiar no cara que aguenta meus roncos, em quem eu vou? E também, eu sou um covarde, eu admiro você e realmente espero que consiga algo, porque se depender de mim, vou ficar aqui para sempre.

- Você sabe que isso é mentira. - Riu Lance e Hunk soltou seu pulso, voltando a mexer na ferida. - Obrigado, Hunk.

- Nada! Mas você não me respondeu, está indo trabalhar? - Questionou sem o olhar e Lance soltou o ar.

- Não. Tenho de ir falar com o Adam.- Hunk de imediato retesou o corpo.

- Já? - Questionou arregalando os olhos e Lance negou com a cabeça. - Pensei que tivesse rompido com ele e que apenas ia falar algo quando tomasse uma decisão sobre-

- Não, não por isso. - Adiantou Lance erguendo as mãos para acalmar Hunk. - Bem, na verdade é isso também. Aconteceu muita coisa e, bem, é sobre Keith e Zarkon. A coisa toda mudou e... Eu vou precisar dele.

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