CAPÍTULO 06

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I'm friends with the monster
that's under my bed
Get a long with the voices inside of my head
You trying to save me

Eminem ft. Rihanna

MIA

Fazia muito tempo que eu não sabia o que era ter uma boa noite de sono. Desde que Horation me deixou no quarto e eu deitei nessa belíssima cama, permiti que a sensação de proteção me envolvesse. Ele tinha me entregue a minha própria chave, o que significava que eu tenho total controle sobre quem entra e sai do meu... Olho ao redor. Meu quarto. Fecho os olhos por alguns segundos, sentindo o peso do alívio naquelas palavras silenciosas. Pela primeira vez em muito tempo, eu tinha voltado a ser dona de alguma coisa. Sei que essa teoria não se aplica com esmero à minha atual realidade, já que a casa não me pertencia e todos os móveis dentro deste quarto não foram comprados por mim, mas ainda assim, me permite um pouco de possessividade.

Não demorou muito até que eu adormecesse. Foi como se a noite inteira tivesse passado em apenas uma piscada. Tanto que, ao despertar, saltei da cama sentindo o meu coração acelerado, totalmente desorientada.

Aquela noite outro dia, não havia sido nada legal. Quando Horation saiu da cozinha e me deixou sozinha com meus pensamentos, temi que algo ruim pudesse acontecer. Eu havia falado demais e ainda não tinha certeza sobre a minha segurança nesta casa. Na verdade, ainda não tenho certeza nenhuma sobre nada. Por mais que Horation não demonstrasse ser uma ameaça para mim e que, de nenhuma forma ou por qualquer motivo iria me fazer algum mal, eu ainda sentia muito medo do seu irmão, o Matteo. Eu não sei o que há nele, mas algo me assusta. Talvez seja o seu humor sarcástico e o olhar sombrio. São um par de olhos difíceis de se esquecer.

Desde que cheguei aqui, tenho mantido pouco contato com ele. Para falar a verdade, eu mal o tinha visto, apenas ouvira Horation falar com ele por telefone em raríssimas ocasiões. Eu nunca prestava atenção no que eles conversavam, mas conseguia ouvir o chiado da voz do outro lado da linha e, de alguma forma, a minha mente sabia exatamente o som que elas estariam emitindo se estivessem sendo pronunciadas perto de mim. Matteo tinha um tom de voz firme, emoldurado por um sorriso perigoso. Por um instante, pensei o que poderia ter acontecido se, ao invés de Horation, ele tivesse me pego no flagra ontem.

Me lembrar daquilo ainda fazia as minhas bochechas corarem de vergonha! Na noite passada, eu achei uma caixa de primeiros socorros enquanto procurava algo para me ajudar a relaxar. Não conseguia dormir, estava ficando maluca achando que a qualquer instante, Knayev passaria pela porta. A preocupação do que eu havia dito para Horation fez o favor de me perturbar mais do que o necessário. Até aquele instante, eu não conseguia pensar em segurança ou proteção. O desespero me fez agir por impulso quando vi um frasco de antidepressivos. Eles não pareciam novos, mas ainda assim, eu acabei tomando aquela quantidade absurda de remédios. Imaginei que, desta vez, eu conseguisse atingir o meu propósito. Não era a primeira vez que eu fazia aquilo. Perdi a conta de quantas vezes tentei me suicidar quando ainda estava na Mansão dos Horrores. Sempre aparecia alguém para me impedir ou, quando eu conseguia tomar tudo, ficava esperando alguma coisa acontecer por horas. Foi naquele instante que eu percebi que os remédios que Artêmio me dava, não tinham efeito algum. Eram como um pão e circo para a minha mente. Ainda assim, eu precisava deles. Tinha consciência de que não me fariam mal algum, nem ao menos serviriam para o que deveriam, mas mesmo assim, eu o implorava por eles.

Matteo não teria sido tão cortês, imagino. Horation agiu rápido e confesso que a gentileza silenciosa com o qual ele me tratou logo em seguida, me desarmaram. A forma como ele tratou de ser paciente o suficiente para esperar até que eu me recuperasse daquele baque momentâneo, passando a mão úmida no meu rosto e sendo o meu apoio quando, finalmente, pousei os pés no chão outra vez... Eu não conseguia decifrar os seus pensamentos. Seus olhos não me diziam absolutamente nada nos instantes em que eu os fitava. Tinha a sensação de que ele estava agindo conforme sua obrigação e não porque sentia que queria fazer eu me sentir melhor. Mas, em algum momento, naquele instante em que ele me segurou pela terceira vez e nossos olhares se encontraram, eu o senti. Senti de verdade. Não suas mãos, porque elas estavam envolvendo todo o meu corpo, mas pude sentir a sua inquietação. A respiração ofegante e os olhos que me analisavam. Por Deus! Eu gostaria de ter tido forças para sair correndo e nunca mais voltar a vê-lo.

Segredos no Escuro - Irmãos Santori I.Where stories live. Discover now