O Som Da Meia-Noite

Capítulo II

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A sala de jantar estava pronta quando cheguei ao castelo no cair da noite. Me ocorreu à mente ter entrado pela porta da cozinha quando vi os vários reis e rainhas da região e seus respectivos príncipes, depois do pronunciamento de ontem durante o baile sobre a princesa das terras menores ter atingido a idade para o casamento, eles foram convocados para discutir o acordo da futura cerimônia que unirá nosso reino com outro dos sete reinos do norte. Mason está sentado ao lado de seu pai, o rei Philip IV das terras de Ravenearth . Agora vejo as semelhanças entre os dois, cabelos negros como a noite, o mesmo olhar intrigante e a facilidade com que despejam as mesmas palavras manipuladoras. A arrogância dos dois inunda a sala. Mason nem percebe minha presença até um dos lordes sentados à mesa se dirigir até mim com seu tom de voz pouco amigável.
-Ora, aí está a prometida aos sete reinos!- Lorde Jacob, do reino Highground anuncia minha chegada levantando um copo cheio de vinho- Venha sentar-se conosco, mileide.
Em seguida todos da mesa se voltam para mim, inclusive a Rainha Avalon, a quem eu não tinha notado a presença. Seu olhar me transmite certa segurança e passa a mensagem de que preciso mesmo sentar-me com eles. Desejei mais uma vez ter entrado pela porta dos fundos. Sento-me ao lado de Jacob e fico frente à Bernard.
-Uma donzela não deveria estar lá fora sozinha à uma hora dessas- Fala Mason com um sorriso perspicaz.
-Receio que seja preciso um guarda para acompanhar Melinda durante seus passeios, já que, não se contenta com os afazeres no castelo.- Bernard soa quase como um pai.
-Creio que aprender à cozinhar ou à costurar não sejam atividades tão atrativas, Vossa Alteza.- Digo fitando-o.
-Isso é essencial para uma mulher que servirá seu marido por toda a vida- Mason ri como se tivesse a certeza de sua vitória pela minha mão. Os outros, inclusive as rainhas, parecem não notar seu tom irônico e riem juntamente com o rei. Porém Avalon, mantém o rosto sério.
-Um homem de verdade, Senhor- Evito dizer seu nome- não quer uma esposa para ser sua criada.- Minha voz sai calma, mas carrega um ataque iminente.- Nem todos enxergam a mulher como uma máquina que serve apenas para satisfazer o ego masculino.
-Você tem razão, Melinda- ele pronucia meu nome com desdém- uma criada não seria tão insolente.- um sorriso maldoso se esboça em seu rosto.
-Se é assim que o senhor pensa, a única coisa que posso dizer é que sinto pena da sua futura esposa.- Falo sem titubear.- O ambiente é tomado por um clima totalmente pesado, enquanto todos se entreolham o rei toma a palavra e direciona ao último baile de outono que acontecerá dentro de um mês, para anuciar o príncipe que se casará comigo e unirá seu reino ao de Northern Snow.
Durante o resto do jantar, os mesmos assuntos do baile de anuncio real: reis gabando-se de suas guerras vencidas, rainhas falando sobre seus vestidos caros, suas jóias e os pretendentes de suas filhas. À todo momento sou bombardeada com perguntas sobre minha infância e sobre tudo que envolva minha vida no passado. Não sou em nada parecida com o rei ou a rainha, enquanto Bernard é bondoso e altruísta, sou egoísta e grossa. Avalon, possui cabelos lisos e negros como a noite, sua pele é alva como a neve e seus olhos são de um verde estonteante, da cor em que as matas ficam no auge do verão. Por outro lado, meus cabelos são ruivos e ondulados meus olhos são cor de mel. A diferença é notável. Os outros sabem que algo está errado, só não sabem exatamente o que é.
Quando o jantar termina finalmente estou livre dos olhares curiosos e das perguntas. Me despeço de todos e subo as escadas na lateral esquerda que dão para o corredor, iluminado por pequenas tochas nas paredes ao lado de grandes quadros onde está retratada toda a linhagem de reis e rainhas de Northern Snow, em breve minha pintura estará nessa parede, é um futuro que não quero, mas um futuro inevitável. Antes que possa chegar ao meu quarto, última porta à direita, uma mão rodeia meu braço e me puxa para trás, não tão delicadamente como deveria. Mason me olha e me segura com tanta firmeza que parece não pretender me soltar tão cedo.
-Me larga, seu idiota!- Quase grito- O que você quer?!- Tento me desvencilhar, mas ele é mais forte. Tapa minha boca e me encosta na parede enquanto fala.
-Esse seu joguinho está passando dos limites!- Ele rugi, enquanto tira a mão da minha boca.
-Eu não estou fazendo nada!
-Nada do que diz me interessa, eu vou me casar com você, vou ser rei em breve e não vai ser uma bastarda insolente que vai impedir isso.- Ele fala a última parte com um sorriso maldoso, como se soubesse de algo que eu não sei.

-Como você sabe que eu não sou filha do rei? Como tem tanta certeza de que vai conseguir se casar comigo?-Falo assustada.
-Sei mais do que você sabe e um segredo como este não fica guardado senão por um preço muito alto. Não entre no meu caminho, garota, juro pelos céus, você irá se arrepender se isso não acontecer como planejado.
Ele me solta e dá meia volta direto paras as escadarias. Vou para meu quarto e junto à janela vejo a noite escura e a lua dar seu brilho prateado ao jardim. As palavras ressoam em minha cabeça: "sei mais do que você sabe", "você irá se arrepender se isso não acontecer como planejado." Mason está chantajeando o rei, e agora eu também estou em suas mãos.