Capítulo 5

521 101 5
                                    



E o tempo passou tão lentamente, que quando menos esperei, dois mês haviam passado, e com ele a certeza de tudo o que eu vivera e poderia ter vivido com Kadu, já era coisa do passado. Só que esqueceram de avisar a para uma convidada nada desejada, a Dor da Perda, que eu tava sofrendo muito.

Os momentos com minha família, os almoços na casa de nossos parentes, as brincadeiras dos meus irmãos, a zoação com a turma, nada disso me atraia mais. Eu me tornei um morto vivo, um robô, que só levantava cedo pra sair de casa, e rezava para que o dia de trabalho passasse o mais rapidamente possível, para que eu pudesse voltar pra casa e dormir.

Com muita sorte, eu trabalhava tal qual um relógio Suíço. Todos do setor do RH da empresa foram unânimes em me indicar para supervisor do departamento, três meses depois que minha vida voltara pros eixos. Haveria mais um pouco de responsabilidades, uma bom aumento no salário, e após um rápido treinamento. finalmente assumi a vaga deixada por um amigo que havia saído da empresa para morar no Brasil.

Se no emprego as coisas andavam as mil maravilhas, em casa a minha relação com minha mãe deteriorava a olhos vistos. Eu havia tido aumento de salário por conta do novo cargo, como já disse, e mesmo ajudando nas despesas, ela não parecia estar satisfeita nunca. Numa bela tarde de sábado, assim que cheguei em casa morto de cansado, minha mãe, D. Claudia Campos, deu mais uma de suas indiretas...

_ Já em casa, Franzé? Que milagre, hein? Se bem me lembro em outros tempo, você e aquele seu amigo, o filho da Jaqueline, já estariam a essa hora no maior grude, fazendo com que o povo dessa Rua falasse super mal de vocês. Mas graças a Deus que aquele lá foi pra nunca mais voltar. Confesso que a mim não deixou nem saudade.

Aquilo pra mim foi demais. Ela havia passado praticamente toda a semana falando a mesma coisa. Acho que minha mãe não tinha o direito de falar o que bem quisesse, como se fosse a dona da razão, e eu retruquei:

_ Deixou saudade sim, mãe. A senhora não faz a menor ideia do quanto. E sobre o falatório da Rua, ele só existe por causa de gente como a senhora, e esse bando de fofoqueira que tem nela.

_ Você tá louco, pra falar desse jeito comigo, Franzé? Você me respeite, seu moleque. Se eu falo as coisas, é pro seu bem, ouviu? Você devia dar graças a Deus não ser mais o alvo dessas fofocas.

_ Mãe, a fofoca só existe porque sempre encontra um par de ouvidos pra lhe dar atenção. E a senhora sabe que sempre gostou de falar piada pra todo mundo. Se tem uma coisa que acho super chato, são essas indiretas que a senhora dá, principalmente pra mim. Bote uma coisa na sua cabeça... A vida é minha, e se eu for isso, aquilo ou aquilo acolá, não é da conta de ninguém.

_ Se tiver debaixo do meu teto, garoto, é da minha conta sim, ouviu bem? E tem mais, se o que falaram de você com aquele tal de Kadu for verdade, saiba que preferia morrer agora, do que ter um filho gay.

Alguns minutos passaram, e não deixamos um momento sequer de nos encarar. Eu quebrei o silêncio com o maior prazer, pois já estava de saco cheio. Cheio não, transbordando...

_ Tá vendo? A senhora não morreu, e eu não deixei de ser o que eu sou e gostar de quem eu ainda gosto. Se não deu certo a minha história com o Kadu foi porque o nosso momento talvez não fosse agora. Me desculpe se eu sou assim, ou se eu decepcionei a senhora, mãe. Eu queria muito ter dado certo com ele, mas diante do que acabei de ouvir da senhora, agradeço a Deus a gente ter se separado.

Ela veio rapidamente de onde estava parada me olhando, e me deu um tapa na cara que me deixou meio zonzo. Olhei fundo em seus olhos, e ela completou:

Você, O Meu Maior Tesouro  -  Livro 1  -  Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora