Minha Redenção ou Minha Morte

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New Haven
Gaspar

As costas da cadeira me incomoda feito o inferno mas mesmo assim eu me mantenho ereto, sem demonstrar nenhum indício de que eu estou sentindo dor. Minhas feridas ainda não cicatrizaram o que é ruim e bom ao mesmo tempo, ruim porque qualquer movimento brusco que eu faça sinto como se os ferros do cilício ainda estivesse cravados na minha carne. Bom porque a dor me faz lembrar que pensar em Lila é proibido. Pensar nela me causa dor e dor é o único sentimento seguro que eu posso ter. 

Termino de assinar os papéis da compra da loja que fica no centro da cidade, ergo meu olhar e pergunto para meu fiel mordomo.

- Meu irmão já chegou da escola?

- Não Sr.

Faço uma careta para ele, odeio toda essa formalidade dentro de casa, mas o velho insiste em me chamar de Sr. Me levanto da cadeira, minhas costas fisga e eu gemo me apoiando na mesa de mogno. Jow o mordomo sai de seu lugar e vem até mim, preocupado ele segura meu braço e me ajuda a me erguer.

- O Sr. Está bem? Precisa de um médico...

- Não. Estou bem, foi só...

Fecho a boca e respiro fundo, absorvo a dor e controlo meu corpo. Fecho meus olhos e tudo que eu vejo é a escuridão, sorrio fraco. Pelo menos a imagem dela não me vem a cabeça como tinha acontecido dede o dia que nos conhecemos na casa de Chloe. Ela é nova de mais pra mim e além desse fato, eu não fui sirvo para relacionamentos. Abro meus olhos e agradeço Jow.

- Obrigada. Eu já estou bem, foi só uma tontura!

- Posso pedir para que uma das meninas cozinhe algo para o Sr.

Nego com um balanço de mãos, reúno os papéis na minha mesa e coloco dentro de um envelope. Passo por Jow e digo parando na porta.

- Não comente isso com ninguém Jow.

- Sim Sr.

Abro a porta e saio de meu escritório, passo pela sala e sigo direto para a garagem. Pego as chaves de meu carro e ando até ele as pressas. Entro e ligo o motor que emite um ronco baixo, saio da minha propriedade e acelero o carro. Passo pelas modestas caminhonetes dos moradores de New Haven como se estivesse pilotando um avião. Provavelmente a metade da cidade deve sentir inveja de nós. Stephen e eu somos mais ricos do que qualquer um que more aqui. Em minutos estaciono no parque, saio do caro e ando calmamente pela calçada, atravesso a rua e como num passe de mágica eu a vejo. Bem na minha frente, com algumas sacolas de grife nas mãos. Como se ela pudesse perceber a minha presença, ela se vira e me encara com um sorriso enorme. Meu coração descompassa por uma batida, ela é fodidamente perfeita para sua idade. Sem perder o ritmo eu alcanço ela e paro na sua frente.

- Olá Gaspar!

Ela diz toda alegre como se estivesse cumprimentando a pessoa mais importante de sua vida. Jovens, sempre tão excitados com tudo. Ela me faz me lembrar do tempo que eu tinha sua idade, me faz pensar no jovem que eu devia ter sido. Alegre com a vida, querendo descobrir cada pedacinho desse mundo com uma mochila nas costas. Mas ela também me faz lembrar na aberração que eu era, que eu me tornei.

- Lila, é um prazer revê-la novamente!

Ela abaixa seus olhos e fica ligeiramente corada, meus olhos registram cada detalhe, cada movimento e respiração dela. Fazendo um backup em minha memória para me atormentar na calada da noite. Uma mulher mais velha que ela, com alguns traços parecidos com o de Lila surge do seu lado e ergue a mão pra mim.

YOUNG. DUMB & BROKENWhere stories live. Discover now