Encantada

visitando o inimigo

O vento daquela noite, era fraco, mas forte o bastante para balancear seus cabelos ruivos. Da sacada de seu quarto, Mia contemplava as estrelas, deixando que a paz lhe preenchesse. Fechou seus olhos por um momento, deixando aquela brisa leve lhe envolver, se forçando a tentar deixar a paz tomar conta do lugar que o medo ocupava em seu coração. Mas ao contrário disso, uma dor forte invadiu seu peito, tão forte que fez ela se encolher soltando um gemido, suas mãos repousando acima de seus seios. Seu peito doeu tanto que ela acabou por se encolher até o chão, no entanto, não era uma dor física. Algo ruim estava por vir e Mia sentia com intensidade aquele mau agouro. Fechou seus olhos novamente, enquanto uma lágrima rolou por sua face até descer e morrer em seu queixo. Imediatamente a cena surgiu, Austin, caído no chão com o rosto coberto por sangue, enquanto levava golpes e mais golpes de uma figura masculina. A imagem que estava tendo, lhe causou arrepios e uma dor ainda mais forte em seu coração. O seu guardião estava sendo agredido e Mia sabia que não era por um humano violento.

- Cade a garota? - gritava uma voz feminina de fundo, alguém que a fada não podia vislumbrar. - De uma forma ou de outra, iremos encontra-la.

O garoto caído ao chão continha olhos cheios de lágrimas e uma expressão de dor. Mas era forte, durão, e jamais iria se dar o privilégio de fraquejar ou chorar na frente de qualquer um, muito menos das pessoas por quem ele alimentava puro ódio.

- Vocês perderam. - murmurou com sangue escorrendo por seus lábios. - Me matem se quiser, mas a Princesa das fadas cumprirá o seu destino.

Sua visão voltou ao normal, apesar de um pouco turva, a garota não pode mais vislumbrar o desenrolar daquela agressão. A dor foi embora, mas ainda assim chorava com um aperto no coração. Começou a correr desesperada para fora de seu quarto. Ultrapassando sua porta avistou uma casa completamente as escuras, o que quase lhe levou a cair das escadas enquanto digitava apressada o número de Cassandra.

- Aló? - a voz soava sonolenta.

- Austin está em perigo. Preciso de sua ajuda. - quando disse isso as lágrimas escorreram com mais rapidez. - Pode pegar o carro de seu pai e vir aqui?

- Estou a caminho.

Depois daquele breve ligação, não demorou muito mais do que dez minutos para estar sentada ao lado de sua melhor amiga, que apenas a uma chamada, foi ao seu resgate.

- Tente ficar calma. - pedia Cassie revezando seu olhar entre a estrada e a outra.

- Não dá. - disse fungando, seu rosto todo encharcado. - Você não viu o que eu vi.

- Ele é forte. - a loura segurava suas lágrimas para não chorar também. - Vai ficar tudo bem...

Cada segundo que se passava parecia uma eternidade. A estrada estava vazia e o carro de Heitor percorria por ela em extrema velocidade. Sem ser o ruido do automóvel em movimento, o único barulho era o choro alto de Mia. De repente o carro parou, as duas garotas se encararam agoniadas.

- Pronta? - Cassie perguntou com uma pequena lágrima fugindo.

Mia assentiu com a cabeça e desceu do carro, logo estavam entrando dentro do Hotel Grigori de mãos dadas. Haviam secado suas lágrimas e tentando parecer o mais normal possível, aliás, estavam prestes a ter de passar por um porteiro as duas da madrugada, tudo já soava muito suspeito. Lado a lado e de mãos dadas, as meninas adentraram no hotel. O coração da fada doía cada vez que pensava em seu guardião nas mãos daqueles bruxos impiedosos.