A movimentação fora do normal para um domingo de manhã, acordou a Bia mais cedo do que ela gostaria. Voltar a dormir seria difícil, ficar na cama significava se obcecar com a chegada do Lourenço, e ela levantou e foi ajudar a mãe com os mil detalhes de última hora.
Apesar de ser um almoço só para a família e amigos próximos, sua mãe caprichou na decoração, e a Bia passou a manhã ajudando a espalhar enfeites prateados pela casa, inclusive os 25 porta-retratos, cada um marcando um ano da história do casal, e arrumando a mesa dos doces, com uma réplica exata do bolo do casamento enfeitado com o arranjo artificial de flores original, guardado carinhosamente aquele tempo todo.
— Ficou bom, não ficou? — Dona Heloísa deu um passo para trás, admirando a mesa.
— Ficou lindo — a Bia concordou.
— Vai se arrumar. — A mãe deu dois tapinhas no ombro dela. — Daqui a pouco os convidados começam a chegar.
E o Lourenço, seu estômago deu um pulo com o lembrete.
As duas seguiram caminhos opostos, a mãe para a cozinha checar o buffet e a filha para as escadas, dando uma paradinha para arrumar um dos porta-retratos muito perto da beirada da mesinha de centro.
A Bia acabou com o porta-retratos na mão, perdida nas lembranças daquela foto. Os pais, o irmão e ela, em frente a uma árvore de natal, todos sorrindo, mas dava para ver seu rosto avermelhado pelo choro. Culpa do Fred que quase estragou seu natal quando entregou que Papai Noel não existia. A decepção da Bia foi rapidamente esquecida, porém, ao ver a quantidade de presentes debaixo da árvore e entender que a inexistência do bom velhinho não significava que ela ia ficar sem ganhar a boneca que tanto queria.
Como seria bom se todos os problemas do mundo pudessem ser resolvidos com a inocência da lógica infantil...
Foi impossível não seguir o trem dos pensamentos para o futuro. Um dia ela teria nas mãos um porta-retratos que a faria sorrir com alguma lembrança construída com sua própria família. Talvez fosse cedo, e muita pretensão, colocar o Lourenço naquela foto imaginária, mas seu peito chegou a doer de vontade que fosse ele. E entre os filhos dos dois — todos parecidos com ele, claro, seria um pecado desperdiçar aquela genética toda — uma menininha chamada Alícia, que ia ganhar um sorriso especial cada vez que ele a chamasse pelo nome.
Não era um objetivo inalcançável, se ele mesmo já estava com o pensamento voltado naquela direção.
— Você ainda tá aí? — A voz da mãe a trouxe de volta à realidade e ela recolocou a foto no lugar.
— Tô indo.
Quando a mensagem do Lourenço chegou, avisando que ele estava na portaria do condomínio, a Bia estava de banho tomado, arrumada e de volta à sala, sentada no sofá, conversando com os avós. Depois de avisá-lo que o porteiro tinha uma lista, e que era só ele dar o nome, ela foi esperá-lo na porta de casa, com o coração batendo a mil.
Finalmente, as duas partes da sua vida iam se misturar.
O Lourenço tinha se esforçado. Apesar do jeans usual, ele tinha abandonado o tênis e usava sapato preto, uma camisa social azul clara com as mangas dobradas e carregava um vaso de orquídeas brancas.
O contraste da delicadeza da flor com as mãos grandes e fortes segurando o vaso prateado, trouxe um sorriso aos seus lábios. Que foi mal interpretado por ele, que parou no meio do caminho.
— O que foi? Eu dei mancada, né?
— Mancada? — A Bia se aproximou. — Com o quê?
— A flor. Foi ideia da Alexa. Ela disse que eu não podia chegar de mão vazia. E que era pra eu trazer alguma coisa prateada, mas de última hora, num domingo de manhã, eu não tive muita opção. E a moça da floricultura...
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Mau Amor [Concluído]
RomanceQuem nunca se enganou com uma pessoa? Aceitou primeiras impressões só para descobrir que não era nada daquilo? Ou será que era? Bia está longe de ser uma princesa, mas quando o príncipe encantado aparece em sua vida, ela resolve lhe dar uma chance...