7. Incapaz de viver

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Eu aperto minhas mãos com força, elas estão molhadas com meu suor, levo elas até o caminho do meu coração, segurando com força apertando sentindo a ardência das batidas que podem aumentar a cada segundo.

Levanto a minha cabeça em direção da atendente e ela parece me olhar preocupada, eu abro minha boca, mas nada sai e minha garganta se tranca formando um bolo de palavras que eu desejava pronunciar, mas que eu nunca conseguia.

Minha pele queimando abafava o ar do ambiente em nossa volta. Seu rosto que antes exibia um semblante preocupado agora era salpicada por fogos de artifícil que derretiam seu rosto em um completo nada.

Uma péssima qualidade de vida para algo que eu nem sei porque eu tenho, A fobia me faz ser fraco, insignificante e incapaz. Me faz parecer um bobo na frente do mundo, o mundo que eu poderia alcançar se não tivesse medo de toca-lo com minha proprias mãos, deixando que os outros fizessem por mim coisas tão básicas de convívio em sociedade, coisas que eu queria conseguir fazer sozinho, mas não sou capaz.

O pior era não poder desabafar sobre o que sentir com ninguém, ser julgado antes mesmo de falar.

"coisa boba" "isso acaba" eu esperava acabar, mas o fim nunca chegava.

— Você não respondeu nada que ele te perguntou... Isso foi extremamente rude! – disse Harry ao que seu novo ficante saiu da mesa.

Não respondi.

— Ele vai se sentar conosco todos os dias? – perguntou Niall.

— Não!! – respondi no lugar de Harry.

— Por que ele não pode se sentar aqui? Qual o problema, Louis? – perguntou Liam.

— Por que você odeia todos as pessoas que eu me relaciono? – perguntou Harry largando as batatas fritas na mesa. — Eu sei que não tem problema nenhum ser antissocial, mas isso já esta de mais!!!  – Tocou meu ombro.

Olhei para ele chocado enquanto negava com a cabeça.

— Eu não sou antissocial, eu n-não sinto desprezo por pessoas. – me afastei de seu toque.

— É sim, eu sei como você se sente não fique envergonhado por causa disso! – cruzou os braços.

— Não, não tem nada relacionado a ser antissocial!! Não fale como se você soubesse o que eu sinto, porque eu tenho certeza que você não sabe como é entrar em uma loja e ficar com medo de falar com o atendente, ou como é se sentir ansioso ao pedir um hambúrguer no Mc Donalds. Eu aposto que você costuma ir a restaurantes sozinho e nunca tem um ataque de pânico.

— Louis! – pegou no meu braço.

— Cala boca! – gritei. — Não importa quantas vezes eu tentar me forçar a falar com pessoas desconhecidas, isso é sempre um desafio, foi um com todos vocês!!! – olhei para os outros garotos que estavam chocados com o que eu falava.

— Coisas que você provavelmente faz com calma e tranquilidade, eu faço com dor, medo e vergonha. Procurar um emprego é algo que está fora de cogitação, a comunicação ainda me faz tremer de medo. Comer em um público não é algo que eu consiga fazer quando estou sozinho. Escrever com pessoas me observando faz meu coração desparar. Então pare de dizer que sabe como é se sentir um lixo como eu! – puxei meu braço de sua mão.

— Você senti tudo isso? – perguntou envergonhado.

— Sinto, todos os dias! – abracei meu próprio corpo.

— Por que você nunca disse que tem fobia social? – perguntou Zayn.

— Eu não sou diagnósticado com fobia social, eu nunca foi em um psicólogo, então não acho que tenho o direito de dizer que tenho essa doença! – abaixei a cabeça.

— Por que você não vai em um psicólogo?? Conversa com a sua mãe sobre isso, você vai conseguir ter um vida muito melho se tratar isso agora e não deixar avançar para algo pior!!! – Harry disse passando a mão no meu ombro.

— Eu não quero a sua pena!! – respondi para Harry. — Por favor parem de olhar me desse jeito! – senti minha respiração ficar ofegante.

— A gente só quer que você fique mais confortável, não temos pena de você!!! – respondeu Niall.

— Comece um tratamento com um psicólogo, isso vai ser muito bom para você. Tudo isso que você sente vai sumir, entende? Você vai se sentir confortável para viver, queremos ver você saudável! – disse Liam.

— Eu nunca falei com minha mãe sobre como eu me sinto... Sera que ela vai me entender e me ajudar? – perguntei e ele concordaram com a cabeça.

Enquanto eu voltava para casa caminhando após as três últimas aulas tentei colocar todos os meus pensamentos no lugar. Decidir se eu realmente iria falar com minha mãe sobre tudo que eu sofro ou se tudo isso era uma baboseira que iria passar com o tempo, porém eu tinha certeza que não iria sumir nunca se eu não procurasse um medico. E igual um câncer, com o tratamento não tem o direito de conseguir sobreviver.

Imaginei uma vida sem meus surtos e ansiedade... sem medo do mundo foi o que me fazer andar cada vez mais rapido para minha casa, correr para contar para minha mãe e me livrar de toda a dor nem que fosse com um passo de cada vez, mas o "um passo de cada vez" poderia ficar para depois, pois agora eu anda dois, três... quatro de uma vez, correndo quase tropessando na propria ansiedade. Eu ansiava por uma vida comum e feliz.

E quando eu cheguei na porta da minha casa me bateu o medo, desespero de não ser compreendido, medo da reação, mas aquilo não me afligiu, eu abri a porta como se quisesse derrubar ela a anos, como se ela fosse a parede que não me deixava a tempos ultrapassar a sociedade. 

— Filho? – minha mãe gritou da cozinha.

Larguei minha mochila na porta e fui correndo em sua direção.

— Mãe, eu preciso te dizer uma coisa muito importante, preciso te contar uma coisa ds minha vida, uma coisa que me machuca todos os dias... – falei ofegante.

— Calma, você pode me contar!! O que aconteceu? – perguntou me puxando para sentar na mesa.

— Mãe... Eu não sei se você vai entender, se vai levar a serio ou vai me julgar, mas eu vou falar mesmo assim! – respirei fundo. — Muito anos  eu venho sentido medo, sentindo medo de ser, sentindo medo de viver e conviver. Tudo me dói, eu sinto medo de ir ao mercado e medo de ir ao restaurante, medo de falar. Eu me sinto julgado por todos... Sinto medo da multidão, eu sinto ansioso em todas as situações. É como uma timidez, mas é algo muito mais incontrolável, eu me sinto incapaz de fazer coisas que todos fazem... Eu quero ser alguem, mas eu não consigo... Eu não consigo mamãe!!! – quando ela veio me abraçar não consegui aguentar, chorei tudo que tinha dentro do meu coração.

Eu me senti cuidado e protegido. Em uma bolha de conforto tão infinita que eu queria viver dentro dessa bolha, com esse sentimento me rodeando para sempre, confortável e sem sofrimento, mas eu lembrava que teria que lutar pela minha alma, e então ela voltaria para mim me aplaudindo e chorando orgulhosa.

E eu lutaria com toda minha força, lutaria mesmo sem ter minha alma, eu ganharia essa luta sorrindo e pigando suor.

NEVER BE THE SAMEOnde histórias criam vida. Descubra agora