Capítulo 20

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Gabriel

Tia Lu tirou o Tio Rodrigo e deu uma camisa azul costurada à mão, que ela esperava que ficasse boa porque usou o molde do Rafael; Tio Rodrigo tirou o Guto e fez cerveja artesanal para ele. Disse que provavelmente não ficou bom, mas o todo mundo sabe que o ele vai beber do mesmo jeito, bom ou não, dando caganeira ou não, porque Gustavo não tem frescura. Ele tirou o Rafa e deu um livro que não era dentro do propósito de artesanato. O Livro mais esbagaçado que você pode imaginar. Todo carcomido nas bordas, a capa empoeirada e gosmenta.

— Na mão eu não faço nem palavra cruzada. – Gustavo também não fez drama para contar quem tirou – Mas é o livro que eu mais gosto nessa vida. Li cuidando de Manuela com pneumonia. Vê se cuida bem.

O "vê se cuida bem" ficou propositalmente ambíguo. Gustavo dizia o que eu e Rafael entendíamos, o recado era para nós dois, o livro era só o veículo. Manuela era o presente.

Tá, tá: eu sei, Manuela não é coisa para ser dada de presente. Mas cê concorda que, o Guto sabendo que Rafael e eu estamos com Manuela, ele "dar" ela para a gente era o mesmo que uma puta bênção e voto de confiança?

Foi o que nós dois entendemos. Rafael se levantou para receber o presente, pegou o livro ensebado da mão dele, deu um abraço de obrigado, igual todo mundo que recebeu o presente antes dele também fez e o círculo se fechou. Só ficaram Manu e o Lipe de fora.

— Cê ganha um doce se adivinhar quem eu tirei, Manu. – O Lipe sorriu, o braço cheio de afeto para cima da irmã.

— Cadê meu presente, Lipinho?

— Seu presente foi um pouco egoísta e eu trapaceei um pouco.

— Hã:

Eu nem tinha reparado que o Lipe tinha o braço esquerdo fechado de tatuagem. Quer dizer, reparei que ele tinha algumas, mas não tantas. Ele puxava a manga da camisa para cima e o braço se enchia de linhas pretas e azuis. Só tinha isso de cor, cada tatuagem de matemática tão doida, que parecia coisa mística.

Na altura do bíceps, do lado de dentro, um triângulo com um monte de triângulo dentro.

— Tá, se esse é meu presente, você vai ter que me explicar. – Manuela entendeu tanto quando o resto de nós.

— Quando você chegou, você colou o pai na mãe de um jeito que não era antes. São três. Quando você chegou, você colou o Guto em mim de um jeito que não era antes: são três. Quando você chegou, você colou o Rafael no Gabi de um jeito que não era antes. São três. Triângulo de Pascal, Manu: você.

— Eu não sei porque você faz isso, Lipe! – Manuela chorava, a mãe dela chorava, o pai dela chorava também.

Manuela abraçou o irmão e eu entendi um pouco o porquê ela sempre parece ter cinco anos quando tá em família.

Para Sempre TrêsWhere stories live. Discover now