Capítulo 34 - Eu mato você

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Quando aparece nos filmes o famoso walk of shame, eu nunca entendi o que tinha de vergonhoso nisso. Geralmente uma pessoa chegava no trabalho com a roupa do dia anterior e todo mundo ria sabendo que a pessoa passou a noite fora de casa.

Às vezes eu pensava na porquice de passar a noite sem banho e sem nem dar uma passadinha em casa, mas, sendo coisa de filme, a gente releva.

Até que foi a minha vez de tomar banho e por a mesma roupa do dia anterior. Nota: Não fui para o trabalho, foi pior. Pedimos um carro e fomos para o aeroporto, duas horas antes do embarque porque a minha mãe mandou mensagem com a foto das minhas duas bagagens no porta-malas do pai e disse que já estavam indo para lá.

Gabriel e Rafael também com a mesma roupa, na hora que acordamos nem pensamos nisso, mas sentados no banco de trás do Uber, olhei para a gente e ri de nervosa.

— Bem, – Rafael sorriu com a maior cara de pau do mundo – o que você queria?

Rimos, mas paramos logo. Não era um dia feliz. É na mesma proporção o sentimento de querer ficar e querer ir. É na mesma proporção o sentimento de chorar e ficar feliz com a oportunidade. Gabriel não disse nada o caminho inteiro, evitava falar porque, no café da manhã, ele quis falar e não saiu porque quase chorou.

Então, para não me deixar triste, preferiu ficar quieto.

Entramos em Guarulhos, o carro nos deixou na porta, e eu encontrei meus pais no café sem me preocupar, pela primeira vez na vida, no que eles diriam de me ver com roupa de ontem e namorados. Era um avanço, mas não era o foco, eu só me preocupei com o abraço apertado dele, o cheiro de colônia tão familiar e quentinha, e o sorriso orgulhoso e com pena que me deu depois que nos soltamos.

Num mesmo carinho, abraçou o Rafa e o Gabi.

— Quando a desalmada for embora – era piada do meu pai, mas foi assim que ele chamou o Guto por um bom tempo – Por favor, não parem de frequentar lá em casa.

Minha mãe é mais orgulhosa, só vai chorar quando eu virar de costas de definitivo, mas veio num abraço apertado, sem fazer piada comigo, nem com a minha roupa.

— Tem um chocolatinho na bagagem de mão, – Ela sorriu sabendo a filha que tem – não sei se no avião chique do árabe tem, então já incluí um.

As famílias do Lipe e do Guto demoraram mais para chagar, mas chegaram e eu ouvia a risadinha da Madalena lá do começo do corredor. A Bia brincava com a menina, assoprando na barriguinha gorducha, segurando na altura do rosto, e entortando a aba de seu chapéu.

Lipinho tinha o mesmo jeito fresco do pai, de banho tomado e colônia. Coisas que se aprende em casa realmente perdura na vida adulta. Agora que ele era pai, levava o jeito do meu. Segurando a pequenininha no braço, a esposa à tiracolo e só olhos para os dois.

— Tá pronta, Ogra? – Ele me deu um beijo feliz, esmagando a Olga entre nós.

— Pronta não tô, mas... – Suspirei – Vamos lá.

— O sheik disse que vai se atrasar. – A Bia comentou – Tá fazendo cera para mostrar para você quem manda.

— O quanto ele atrasar para mim, melhor.

Também, quando chegou, ele finalmente estava a caráter, não se parecia mais com qualquer um homem rico. Cinco seguranças, uma secretária correndo atrás, e ele falando ao celular. Alto, realmente bonito, e entrando num café qualquer para conversar com a Ferreirada.

Shall we? – Ele olhou para mim, sem desviar do meu vestido da noite anterior, percebendo que não passei a noite em casa e entendendo a narrativa de vadia que aquilo transmitia.

Para Sempre TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora