Capítulo 31

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Manu


— Mãe... – Dei dois toquezinhos na porta do quarto dela, em mais um dia em que cada uma jantava num horário e não se dava mais do que bom dia. – Mãe, a gente pode conversar?

Tá certo, o Lipe me convenceu. A convivência com a esposa o tem feito ficar às sombras, manipulando todo mundo, inclusive a manipuladora. Esperei qualquer resposta dela, mesmo que fosse um "não", mas não ouvi nada e tentei de novo.

E, depois, cansada de tomar vácuo, abri a porta sem ser convidada. A mãe estava no banho. Por isso que não me atendeu. De todo jeito, esperei ela sair do banheiro, evitei ao máximo olhar a prateleira dos saltos altos que ela nunca usa, nunca vi usando, e todo mundo sabe porque eles estão ali, tentei até não rir deles, olhei as fotos coladas com durex, bem ao estilo relaxado do meu pai, de todas as pontes que a minha mãe vai colocando pelo mundo e sorri para isso. O jeito do pai de incentivar a mãe em tudo, seja com tatuagem, em falar dela para todos os seus clientes, o jeito como ele se orgulha dela. Mais que meu pai, o pai é um puta marido.

— Tá perdida? – A mãe perguntou quando saiu do banheiro, pelada, em busca da camisola de dormir jogada em cima da cama desarrumada. Nessa casa nunca houve um que arrumasse a cama todos os dias. Nem meus pais.

— Quero falar com você.

— Sei que quer.

— A gente pode conversar?

— Se vai falar sobre os seus carrapatos, é melhor que não fale.

— Não é. – Poderia ter sido, mas já que ela já disse que não queria falar deles, preferi abordar outro assunto.

— Então qual foi?

— O Lipe quer que eu vá para a Inglaterra.

— Ah, isso – Ela puxou a camisola da cama e a vestiu. Eu fico impressionada no quanto a minha mãe é bonita. Puta merda. Sentou numa poltrona no canto do quarto, o mais longe que conseguia de mim, a poltrona que ela e o pai largam roupas mais ou menos limpas, e cruzou os braços – O que foi? Você não quer ir?

— Eu só quero saber o que você acha.

— Você nunca precisou do meu aval para fazer as coisas.

— Não tô pedindo isso. – Segura o choro, Manuela! – Eu só quero... que você me aconselhe.

— Também nunca precisou dos meus conselhos.

— Você disse que não quer falar dos meus namorados – Cutuquei.

— E não quero.

— Então porque tá sendo hostil?

— Porque eu tô puta com você, Manuela. Porra! Não sou um botão de liga e desliga e nem tenho sangue frio para tratar você diferente só porque não vamos falar do assunto que claramente me incomoda.

— Por quê?

— Por que o quê?

— Por que te incomoda tanto?

— Há quantos anos você está com eles?

— Cinco anos.

— Estava com eles já quando o pai do Gabi o expulsou, não é?

— Estava. – Confessei.

— É isso o que me incomoda. Que você dê para dois eu não tô nem aí, cada um usa o que tem como quiser, o que me dói é que minha filha está há cinco anos namorando, não meses, nem dias, mas são cinco anos, e nunca achou por bem me contar. Eu defendi você em todas as brigas na escola, defendi o Gabi do pai dele, os meninos frequentaram a minha casa, eu trato os dois como filhos, são dois garotos muito legais e eu gosto do jeito como vocês três quando estão juntos, sempre gostei, mesmo antes de saber, mas a questão é a sua mentira, Ogra.

Para Sempre TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora