Capítulo 1

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Capítulo 1

    Dezoito Anos Depois...

— Quando Naruto ligar, diga que estou doente, ou melhor, diga que estou com uma terrível dor de cabeça e fui dormir. E que você não quer me perturbar. Combinado, Hina?
Hinata olhou para a irmã gêmea, com ar desaprovador.
— Hanabi, eu acho que.
— Hinata, não confia em mim? Não vou fazer nada de mais — Hanabi continuou, enquanto fechava o zíper de sua minissaia preta. Depois, virou-se para o espelho e observou sua imagem. — Ótimo! — ela exclamou, com um sorriso de satisfação nos lábios.
Hanabi estava linda como sempre, Hinata pensou. O novo corte de cabelo caíra-lhe muito bem. Por sinal, o mesmo que ela, Hinata, havia adotado dois meses atrás: Por mais que gostasse da irmã, não conseguia evitar aquele ressentimento por Hanabi ter copiado seu corte de cabelo. Mas era sempre assim, pensou com resignação. Tudo o que fazia para tornar-se diferente, e que resultava em algo bonito, Hanabi copiava. Sua irmã, mesmo não querendo prejudicá-la, gostava de ser a mais bonita das duas. Mas não eram gêmeas idênticas?
Conformada como sempre, Hinata concluiu que não fazia diferença sua irmã ter copiado seu corte de cabelo. Hanabi estava feliz e era isso o que importava.
Hanabi, ignorando os pensamentos da irmã, continuava a se admirar em frente ao espelho. Sapatos pretos de salto alto, minissaia também preta e um top branco que ressaltava os seios fartos e redondos. As meias pretas delineavam as pernas esguias e retas.
Qualquer roupa caía bem em Hanabi, Hinata pensava. Possuidora de uma graça natural, uma elegância de fazer inveja a muitas mulheres, sua presença era marcante mesmo se estivesse usando jeans surrados, camiseta velha e nenhuma maquiagem.
— Por favor, Hinata. E só uma mentirinha. — Hanabi voltou a implorar. — Só hoje.
Hinata não concordava e não ia ser cúmplice daquela mentira. Faria qualquer coisa pela irmã, mas não aquilo.
— Não é uma simples mentirinha e você sabe disso. É uma grande farsa. Uma mentira horrível. Você está comprometida, Hanabi. Seu casamento é daqui a duas semanas, esqueceu? Como pode fazer isso com Naruto? Com o tem coragem de enganá-lo desse jeito, às vésperas do casamento?
Hanabi saiu da frente do espelho e aproximando-se da irmã, pegou-lhe as mãos.
— Por favor, queridinha, faça isso por mim. — Os olhos clamavam por cumplicidade. — Essa não é a primeira vez que me ajuda. Lembra-se de quantas vezes já fez isso antes?
Hinata lembrava-se de tudo. Das inúmeras vezes que comparecera a uma festa no lugar de Hanabi, das situações em que assumira perante o pai alguma coisa desagradável que a irmã fizera. Lembrava-se também das vezes em que fora obrigada a mentir para proteger a irmã. Tudo por amor. Além de gêmeas, eram muito unidas pelos laços da amizade.
— Não precisa me lembrar. Sei muito bem o que já fizemos e só Deus sabe que não me orgulho nada disso.
Hinata, mesmo não concordando, sempre protegia a irmã, mas nunca Hanabi pedira algo tão comprometedor, como mentir para o próprio noivo. Não, com aquilo não podia concordar.
— Eu juro, Hina, é a última vez que peço alguma coisa. Se Naruto não souber de nada, ele não vai sofrer. Quero só aproveitar meus últimos dias de solteira. Nada mais. Acredite em mim.
Hinata não se deixou convencer. Não concordava e não ia cooperar, mesmo que Hanabi implorasse.
Quando Hanabi entendeu que não conseguiria o apoio da irmã, soltou-lhe as mãos e encolheu os ombros, em uma demonstração de desprezo.
— Está bem. Se não quer me ajudar, então não o faça. Quando Naruto ligar diga o que quiser. Eu não me importo. Pode até dizer que saí com outro. Você é quem sabe. Vou sair de qualquer jeito.
— Mas Hanabi, eu só acho.
— É esse o seu problema, Hinata. Você pensa demais. Nunca age por impulso. Você tem que aprender a viver. Deve aproveitar ao máximo as chances que tem a sua frente. Seja ousada. Viva. Viva enquanto você pode.
— Mesmo que para isso eu magoe outras pessoas?
Hanabi suspirou um pouco exasperada.
— Honestamente, Hina, acho que você é um caso perdido. Eu já lhe disse, o que Naruto não sabe não vai machucá-lo. E ele nunca vai saber que saí com outro homem, mesmo depois de casados, certo?
A tristeza estampada nos olhos de Hinata comoveu um pouco o coração duro de Hanabi.
— Hina, minha irmã querida, prometo que depois de meu casamento com Naruto vou ser a melhor esposa do mundo. Nunca vou traí-lo. E não precisa se sentir culpada. Sou eu quem estou agindo assim, não você. Eu só quero aproveitar meus últimos dias de liberdade. Só isso. E também porque não consigo resistir. Konohamaru é demais! Excitante, romântico, sexy. E Naruto. bem, você conhece Naruto, ele é. Hinata achava que Naruto era o homem mais excitante, romântico e sexy do mundo. Sempre pensara assim, desde a adolescência.
— Naruto é maravilhoso — ela falou, baixinho. — Você tem muita sorte em ser noiva dele.
Hanabi estava irredutível.
— Desisto de explicar. Você não entende porque não é você quem vai se comprometer pelo resto de sua vida. Aposto que no meu lugar você faria a mesma coisa.
Não, Hinata não entendia. Jamais entenderia. Porque se fosse ela a noiva de Naruto Uzumaki, seria a mulher mais feliz de Japão. O mundo saberia de sua alegria. Em sua opinião, quem se casasse com Naruto não precisaria de mais nada. Só o amor dele bastava.
— Olhe, se ele ligar, não vou dizer que você está dormindo. Vou dizer simplesmente que você saiu e que não sei para onde. Depois você inventa o que quiser quando ele perguntar.
Hanabi sorriu e deu um beijo no rosto de Hinata.
— Obrigada, queridinha. Eu te amo.
Ela deu uma última olhada no espelho, pegou a bolsa e abriu a porta do quarto para sair. Foi só então que se lembrou de um último detalhe.
— Oh, quase me esqueci disso — ela falou, enquanto tirava o lindo anel de noivado que Naruto colocara em seu dedo com tanto amor, jogando-o, sem o menor cuidado sobre a penteadeira. Depois acenou outra vez e saiu.
Hinata ficou sentada,por um longo momento, pensando na imaturidade da irmã. Como podiam ser tão iguais por fora e tão diferentes por dentro?
Vários minutos depois de o carro de Hanab ter saído da garagem, ela levantou-se, foi até a penteadeira e pegou o anel. Primeiro admirou a joia com um enorme diamante incrustado. Depois, vagarosamente, com reverência, colocou o anel em seu dedo, enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas. Se aquele anel fosse seu! Se Naruto fosse seu!
A dor que sentia no coração era enorme. Para espantá-la, fechou os olhos com força e rezou para que Naruto não ligasse aquela noite. Não queria participar daquela farsa. Não podia fazer isso com Naruto. Ele não merecia ser tratado daquele jeito. Naruto tinha todas as virtudes que admirava em um homem: era bondoso, amável, decente, e muito preocupado com as pessoas que amava. Como Hanabi podia achar outro homem mais atraente que Naruto? Para ela não havia como comparar Konohamaru Sarutobi a Naruto. Como ela dissera mesmo? Excitante, romântico e sexy? Será que sua irmã era cega? Será que ela não via que Naruto era tudo aquilo e muito mais?
O problema todo começara três semanas antes. Naruto estava fora em uma viagem de negócios e os Hyuugas foram convidados para uma recepção no consulado mexicano. Como Hiashi Hyuuga, o pai das gêmeas, tinha outro compromisso e Hinata estava gripada, Hanabi comparecera sozinha à recepção, representando a família. Foi assim que ela conheceu Konohamaru Sarutobi, um adido do consulado. Os dois sentiram-se atraídos um pelo outro e desde então Hanabi passara todos os momentos possíveis com ele. Hinata ignorava a desculpa que ela inventava para Naruto, mas sabia que os dois não se viam havia vários dias. E pior, Hinata tinha quase certeza de que sua irmã estava dormindo com aquele mexicano. Hanabi nada comentara a respeito, mas o modo como seus olhos brilhavam quando falava de Konohamaru a denunciava. E Hinata também não queria saber detalhes íntimos do envolvimento dos dois. Quanto mais soubesse, mais culpada se sentiria, como se fosse a responsável pelos atos inconsequentes da irmã.
Por que Hanabi tinha que ser assim e não se contentava em ser noiva de um homem tão bom quanto Naruto? O que mais ela queria?
Hanabi prometera que seria fiel a Naruto depois de casados. Será que ela cumpriria aquela promessa? Hinata não acreditava. Ninguém mudaria de uma hora para a outra só porque teria uma aliança no dedo anular da mão esquerda. Hinata não queria nem pensar no que poderia acontecer depois. E se Hanabi continuasse a se encontrar com Konohamaru?
E se Naruto descobrisse tudo?
"Meu Deus, que ele nunca descubra essa traição. O Senhor sabe que ele não merece".
A traição de Hanabi seria a morte para Naruto. Ele era a pessoa mais honrada que Hinata conhecia. Uma pessoa íntegra, respeitadora. Uma pessoa fiel. Hinata tinha tanta certeza das qualidades de Naruto, que apostaria sua vida por elas.
Santo Deus, ela ficaria doente se Hanabi magoasse Naruto depois do casamento.
E o que ela, Hinata, poderia fazer para mudar a situação? Contar para Naruto? Jamais. Confidenciar a seu pai? Nunca. Implorar para Hanabi não funcionaria. O jeito seria rezar e esperar que a irmã cumprisse a palavra e criasse juízo de uma vez por todas.
Como não tinha controle sobre a vida das pessoas, mesmo daquelas a quem amava tanto, decidiu esquecer Hanabi e Naruto. Os dois acabariam se entendendo. Talvez estivesse sofrendo por antecipação. Naruto escolhera Hanabi porque a amava. Quem sabe o amor dele conseguiria fazer milagres e transformar sua irmã em uma pacata senhora casada. Certa estava sua avó que costumava dizer, quando Hinata era pequena e se preocupava demais com o que poderia acontecer: "Não procure problemas, menina. Espere sempre o melhor. Pensando assim, o melhor vai acontecer".
Não procure problemas.
Era um excelente conselho. Por que se preocupar com o que poderia acontecer se Naruto descobrisse a traição de Hanabi? Melhor esquecer os dois e aproveitar sua noite. Sim, tomaria um copo de vinho, colocaria uma música suave e mergulharia em um banho de espuma para relaxar.
E procuraria pensar só em coisas agradáveis. Em seu trabalho, na viagem que faria em suas férias, no último filme que vira.

A TrocaWhere stories live. Discover now