O Segredo do Ponto Cego

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    "Naquela noite eles descobriram que monstros não estão embaixo das camas.
Eles gostam de estar em cima delas".

Eles gostam de estar em cima delas"

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Século XV

    Se aquela noite o pequeno Vlad pudesse regressar para a cela gelada onde viveu por um ano, se pudesse sentir o incômodo solo rochoso e o cheiro bolorento daquele ambiente nocivo, se pudesse rever a face miserável do carcereiro e vê-lo lançar uma comida de péssima qualidade, seria imensamente grato, mais do que tudo, desejou voltar para a nostálgica masmorra e lá permanecer sozinho e abandonado, desejou estar em sua antiga cadeia, preferia viver lá até o fim de seus dias do que presenciar aqueles homens malignos entrarem no alojamento sem quaisquer impedimentos e escolher, cada um deles, um garoto, como quem escolhe um brinquedo.

No canto cego do alojamento, um pequeno conde incapacitado testemunhava as atrocidades cometidas em sua nova prisão, os meninos búlgaros no ponto cego junto dele afundavam as faces nas mãos e direcionavam-nas aos joelhos, ele creu que seria melhor fazer o mesmo, mas não conseguiu, não quando avistou um dos malefícios tocar em uma criança que deveria ter a idade de seu irmão mais novo.

Ele tentou se soltar do monstro que o agarrou, mas era inútil, já era incapaz por ser menor e mais fraco, sua maior debilitação eram os machucados sob seu corpo enfaixado.

– Essas feridas estão doendo muito? – o nojento o segurava por trás, o jovem se contorcia com o aperto do maldito, seus olhos revelavam dor e medo. – Não seja assim, vim aqui para ajudá-lo – ele falou aproximando os lábios maldosos do ouvido do garoto, este mostrava claramente repulsa pela aproximação. – Vou te fazer esqueçer da dor esta noite – achega seu corpo ao do menino, deita-o na cama e segura seus cabelos impiedosamente, enquanto sua mão livre desfazia as amarras de suas vestes.

O conde não suportou mais olhar daquele momento em diante, sem poder fazer absolutamente nada, tranca os olhos e se encolhe ainda mais, as mãos cobrem os ouvidos, até mesmo ouvir seria horripilante, se entristeceu pelo menino, isso o aborrecia de grande maneira, mas seu medo era maior. Seu espírito desejava impedir o acontecimento, no entanto seu corpo amedrontado não correspondia à mesma vontade, foi como se estivesse amarrado e obrigado a assistir.

– Por que fazem isso?! – fala furioso abafando a própria voz nas mãos. Ficou assim por um tempo, até sentir um toque em seu ombro.

– Eles já foram – era o jovem búlgaro apalpando um menino gelado e pálido. – Pederastas. Eles sempre voltam, às vezes uma vez, às vezes mais. Nunca durma na sua cama. Nunca.

   Vlad desejou poder estar no calabouço novamente como nunca antes em sua vida, era uma vontade muito maior para alguém de seu tamanho, era como se seu coração implorasse pelos, seus antigos grilhões, mas não por solidão. Desejava regressar para a costumeira cela por ser lá onde mais sorria, onde conversava, onde se divertia, dividia segredos e se sentia bem. Vlad desejava retornar para sua pequena enxovia, pois se estivesse lá, poderia estar com Eclésia. Se perguntou onde ela estaria, rezava para que onde quér que estivesse, estivesse mais segura do que ele, até que em meio sua silenciosa petição, o pensamento do que sua amiga sofria não deixava de ser perverso e similar ao que presenciou agora a pouco.

Segredos de Vlad(PAUSADO)Where stories live. Discover now