Pedaços de Verdades

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Século XXI

   Observando pela janela, o vampiro já não era capaz de associar a reação de David Harker à um sentimento existente; parecia enraivecido, mas também feliz; frustrado, bem frustrado e muito confuso. O vampiro sentiu falta dos tempos em que as pessoas apreciavam um sentimento por vez. De certo que se comemorava ou maldizia, o vampiro não se interessava em saber, seu maior anseio era poder encontrar uma maneira de entrar na residência. Resolveu por fim, fazer à moda antiga, seria clássico: se revelaria para a presa, convenceria a deixá-lo entrar e então... Então agiria como bem conviesse, estava pronto para a vingança que acreditava ter o direito de conquistar.

   Seria agora, pensava o nosferatu, pronto para deixar as trevas de seu esconderijo quando uma rajada de vento o acaricia por um longo e incomum momento, e junto com ele, vem a sensação de mau presságio.

    O vampiro já sabia quem era. Foi tão intenso, tão triste, tão... Pela primeira vez em séculos o vampiro sentiu o indescritível por perto, e com a presença intrusa, talvez essa história se aprece um pouco antes do tempo, e, possa ser que parte de um segredo interligando as três histórias que aqui se pretende contar seja parcialmente revelado.

    O certo era que foi um real incômodo para o vampiro, sentir aquele ser, aquela entidade, a presença de tal ser o pertubava em extremo, de maneira alguma desejaria ver ou falar com ela, Vlad odiava-a intensamente, assim como tinha muita mágoa pela mesma, e, agora a sentia bem próxima e soube que não era um encontro que pudesse evitar; evitou-a o quanto pôde, mas, quando esta resolve aparecer, já não há como protestar. Vlad sentia os lábios quentes proximos à superfície de suas maçãs faciais, sussurrando docemente, enquanto a feição do monstro, por um momento, tornou-se mais apaziguada.

– Vlad – murmura com gentileza numa saudação onde um "olá" não teria a capacidade de expressar a melancolia ali criada.

   Abandonando a visão do psicológico, o olhar fosforescente do vampirose é dirigido ao da intrusa daquela noite. As pupilas dilatam de surpresa quando o vampiro reconhece a falsa vidente que conhecera no refeitório, se incomodou por vê-la novamente e achou arrogante a entidade haver escolhido tal corpo para contatá-lo.

– Lilith – respondeu sorrindo sem graça, não se agradava daquele reencontro e sua visita notava muito bem isso. – É muito deselegante aparecer nessa pessoa.

Assim como ele, ela sorri decepcionada.

– Não consegui encontrar um receptáculo descente, isto é o melhor que pude fazer para a ocasião.

   Logo ele desconfia dela, o tempo em que suas visitas eram benéficas se foi há muito tempo, sua índole era totalmente duvidosa, jamais o vampiro conhecera seus propósitos diretamente, seu passado e origem igualmente era um pergaminho oculto. O que ela estava tramando? Qual seria o jogo dessa vez? Fosse o que fosse, o vampiro achou recomendável ser extremamente cuidadoso.

– Veio para o grande espetáculo?

– Eu venho aonde há trabalho a ser cumprido – disse com modéstia, fitando a bela casa da família Harker.

– E é só isso? Conheço-a por tempo bastante para saber que quando aparece, há sempre um propósito oculto no fim da visita.

– Sim, você está certo. No fim das contas estou sempre aqui por meus próprios interesses – soltou, como quem foi vencido pelo cansaço.

– Ah! Finalmente disse algo em que acredito! – riu em deboche, mas quando ela sinalizou para parar, ele obedeceu. – O que quer comigo?

– Têm sido minha responsabilidade desde muitas eras e o destino esconde inúmeras surpresas para você. Eu estarei presente quando as mais importantes acontecerem – ela o encarou bem no interior dos olhos.

Segredos de Vlad(PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora