20 de Abril de 1912

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Naruto lia o jornal enquanto terminava o seu pão. Queria saber como a White Star Line lidava com os sérios problemas que causou. Só pensava na opulência e no tamanho do navio, esquecendo de medidas de segurança mais rigorosas, de modo que buscou ler os depoimentos dos sobreviventes. Foi através do jornal que soube que muito poucos tripulantes sobreviveram, tal como os passageiros da terceira classe e da segunda e que todo este pessoal contabilizou mais de 1500 mortos.

Os sobreviventes, quase 800 pessoas, foram resgatados dos botes salva-vidas muitas horas depois. O transatlântico afundara completamente por volta de uma hora e quarenta minutos da manhã, mas o Carpathia - navio mais próximo que correspondeu ao aviso -, chegou por volta das quatro horas da manhã. Os últimos sobreviventes foram retirados da água quando o sol já brilhava forte no céu.

Um dos relatos mais marcantes naquele jornal era de uma jovem rica que perdeu seu marido, seu pai e sua empregada no naufrágio. “Pior do que passar quase 30 minutos ouvindo os gritos das pessoas clamando para que voltássemos e lhe ajudassem, foi o silêncio que enfrentamos logo depois. Aquele foi o pior momento para mim, enquanto segurava firme a minha aliança, pois foi o sinal de que eu era oficialmente viúva e órfã. Enquanto ouvia os gritos, ainda havia a esperança de que meu pai e meu marido estivessem vivos e que poderiam ser salvos, mas o silêncio era morte.” dizia parte do relato.

Naruto não conseguiu segurar as lágrimas que verteram de seus olhos ao saber que milhares de vidas foram destruídas, pois mesmo que não houvessem embarcado, muitas mulheres e muitas crianças perderam seus pais para o mar, trabalhadores das entranhas do Titanic, enquanto outros perderam suas esposas e seus filhos que viajavam de retorno a Nova York, de modo que nada do que a White Star Line fizesse, poderia reparar aqueles danos.

Nenhum corpo foi encontrado e o Titanic desapareceu na escuridão para todo o sempre. Até mesmo Edward Smith, seguindo a tradição do mar, afundou com o navio como seu primeiro e único capitão. As notícias eram de fazer qualquer um chorar, principalmente porque havia uma lista enorme dos nomes dos mortos. Dentre eles, estava Naruto Uzumaki, mas ele não se incomodou com isso, apenas pensava naquele devaneio de corpos submergindo nas águas escuras como fantasmas serenos. Sua vida nunca mais seria a mesma depois daquilo.

Ele deixou o jornal no local onde o achou e observou suas mãos depois de comer. As feridas ainda estavam ali, cicatrizadas, mas jamais se fechariam por completo, pois aquela história jamais morreria. As marcas do sofrimento que passou naquelas caldeiras, rasgando e queimando a sua pele para retirar o carvão do fogo, ainda latejavam, como um lembrete. Um lembrete sombrio de que ele tivera sorte, muita sorte, coisa que mais de 1500 pessoas não tiveram.

Naruto rumou para o fim do porto, fitando seus próprios pés descalços sujos de lama, e parou quando chegou na ponte do píer. Ele desceu lentamente pela madeira até sentir a areia escura e úmida entre seus dedos. Suspirou, meio cansado, ao continuar sua caminhada pela orla enquanto Naruto tentava encher sua mente com os sons das ondas quebrando na praia. O mundo parecia um pouco mais calmo e mais harmonioso naquela parte mais distante da cidade de Southampton.

Assim que entendeu que estava longe o suficiente da área urbana, quando nem ouvia mais os sons dos carros, das pessoas reclamando diante do escritório da White Star Line, nem dos navios aportando por ali, Naruto passou por algumas rochas grandes e se deparou com uma espécie de mirante baixo, onde o mar rebentava embaixo.

Um homem apenas de calça preta lhe esperava ali, parado com as mãos nos bolsos, observando o mar se mover conforme os ventos o sacudiam. Naruto esfregou seus braços cobertos por seu casaco e suspirou pesadamente ao se aproximar devagar, depois de pigarrear alto para atrair a atenção daquele homem. Ele lhe fitou,sorriu pequeno para Naruto, esticando sua mão para recebê-lo num abraço carinhoso, e os dois se beijaram com paixão.

Nas ProfundezasWhere stories live. Discover now