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Thomás não teve seu pacote, apenas o doce e quente inferno. Aquele dia eu recebi mais onze mil reais do Alemão, e tudo fluía perfeitamente. Eu tinha o que precisava mas não era apenas aquilo. Eu necessitava de diversão, de cabeças rolando, e de toda aquela vingança, eu precisava de mais, algo estava incompleto e eu me sentia só. Eu me ofereci para ser a chave mas precisava de uma porta para minha fechadura. Alguns dizem que era idiotice da minha parte. Mas olha só, quantas coisas davam para comprar com 26mil, porém não poderia me arriscar.

No final do dia, recebi uma ligação desconhecida de um menino me ligando. Mas quando atendia era engano. Achei que minha cabeça iria rolar, quando você faz algo culposo qualquer coisa que você pensa em fazer até andar parece suspeito. Minha vó me olhava de canto de olho, ela sabia exatamente tudo que estava acontecendo mas continuava a varrer a casa como se não houvesse algo de errado. Meus pais no movimento de seus serviços e atividades pessoais.. Finalmente uma ligação de alguém que eu conhecia, Amanda, minha melhor amiga.
Ligação On
- Elisa?
- Amanda, vamos sair?
- Claro, na minha casa as 21h?
- Você está bem?
- Porque eu não estaria? As oito.
E ligação desligada.
A ligação estava estranha, Amanda estava trêmula, sua voz falhava. Isso me preocupava muito. Mas como ela havia dito, estava tudo ok. A relação de Amanda com a família não era das melhores, creio que naquele dia ela discutiu com o Padrasto. Mas infelizmente só tive certeza de mais um pecado cometido. E de um erro.
O seu padrasto bebia, enchia a cara e chegava em casa sendo uma tormenta para todos, inclusive minha melhor amiga. Maltratava sua mãe, e as vezes batia. Mas eu havia apenas onze anos e não podia fazer muita coisa. Infelizmente.
Era 20:15 e eu já estava praticamente pronta. Só faltava vesti os jeans rasgados, um all star velho, uma blusa preta e um casaco jeans. De noite o frio caia demasiadamente, e ficar até de madrugada na rua era torcer para ficar doente. E minha família, e muito menos a de Amanda havia condições financeiras para comprar rios de remédios caso acontecesse algo. Já vivíamos uma crise antes de ter uma.
Me arrumei e peguei cem reais do dinheiro ganho, eu merecia. Papai me deu vinte reais, era o que ele podia na época e eu até entendo que para uma adolescente de onze anos, vinte era o paraíso.
Um carro preto de vidros escuros parou em frente à minha casa buzinando. Era ela, pensei . Acenei para meus pais na sala, e fechei a porta enfiando meu celular e um canivete no bolso de trás da calça, proteção nunca é demais.
Entrei no carro, e quando íamos prosseguindo levei um susto por completo.
Não era minha amiga, não era alguém conhecido, as portas foram trancadas e a idiota nem percebeu. Eu poderia está caminhando diretamente para a morte e nem me despedi das pessoas direito. Era apavorante. Era terrível a sensação.
- PARE O CARRO.
Eu ordenei e a pessoa continuava, o frio subia pela minha espinha, congelando meus ossos e fazendo com que eu trema de nervoso. Quem me olhasse via o desespero correr do meu olhar.
- Só estou cumprindo ordens do chefe.
Mas que chefe? Será que o Th havia amigos pela cidade? Meu couro estava por conta deles. Eu era a caça, e eles os predadores. Me enrolei no meu próprio jogo. Perfeito! Como eu fui tola.

Eu respirei fundo assim que percebi que havíamos chegado. Eu não poderia fazer com que eles enxergassem meu medo, ou o desespero. Fui eu que quis desde o início, agora aguentasse as consequências como a morte.

Talvez a morte fosse até agradável.

Engano completo, a morte é linda de perto. Os olhos escuros feito à noite, a camisa no ombro, os músculos definidos e as tatuagens de caveira, armas e tráfico. Esse era o mandante de Alemão. O cara que realizava o sono profundo eterno. Outro que trabalhava para o Diabo por sei lá qual motivo. Mas trabalhava.

E Alemão, estava mais lindo que antes. A garotinha imunda já estava pensando em desvios. Mas para que eu estava lá? No alto de um morro, com vista da cidade inteira, o que ele queria?

Garotinha Imunda Where stories live. Discover now