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Acordei numa sala escura, ela fedia, não havia janela. Com certeza eu estava no quarto de torturas. Aquele cheiro fétido de sangue ecoava pela sala. Minhas mãos estavam amarradas fortemente para trás numa cadeira de ferro. Não havia nem como jogar meu corpo pra trás porque a cadeira não ia quebrar, e eu ainda iria me machucar. Eu precisava sair dessa. Até que na situação que eu me encontrava os museus não era algo tão ruim assim. Merda.
- Acordou princesa?
Ele entrou naquela sala com uma faca em mãos e um vidro de álcool.
Fingi que não era comigo, fiquei olhando para o outro lado enquanto ele andava até o meu lado.
- Você facilitou muito minha vida vindo até aqui, sabe? Agora eu vou ter duas coisas que eu queria, o Alemão e o morro dele. E você.
- Nem em sonhos, falei revirando os olhos.
- Engraçadinha você, vamos vê até onde você aguenta até implorar para que o Alemão venha te salvar.
- Henrique não implorou que você o salvasse.
- Diaba.
ele veio direto em mim fazendo um corte fraco pelo meu braço e jogando álcool em cima. Ardeu feito fogo. Parecia que parte de mim tinha ido embora, mas permaneci olhando ele fazer mais um corte, outro corte até se cansar. Minha dor tinha virado prazer, eu ficaria com ótimas cicatrizes, mas teria sido válida se eu tivesse a cabeça dele na minha sala, aquele desgraçado.
Ele havia se cansado, e me deixou sangrando naquela sala fria e imunda. Ainda bem que minha imunidade era boa. Se não eu estaria ferrada de preto e amarelo.
Gritei feito louca por ajuda mas ninguém me ouvia, a boca já estava seca.
A noite foi longa, até alguém aparecer no meio da noite, limpando minhas cicatrizes, o vapor que eu ajudei, o rato apareceu, e abriu uma garrafa de água me dando um pouco. Limpou minhas feridas com sua camisa.
Vou te tirar daí, você me ajudou cedo, e Karen já me contou o que aconteceu. A Nee tá bem? Falei sussurrando, e agradecendo.
- Ela já voltou pro alemão. Eu vim buscar minha arma e ouvi você gritando. Vou te soltar. Só um minuto.
Ele saiu, e nisso voltou a peste do Lc parecia até que eu estava pagando meus pecados, e talvez estava. Ele estava chapado, me deu alguns tapas e me xingou. Quando ele ia apertando a arma rato derrubou ele, e os dois começaram a brigar feio.
Os dois saíram da sala, a luz foi acesa e um tiro havia sido disparado. Eu sonhei que rato havia feito aquilo. Mas eu era a intrusa no formigueiro. Lucas acendeu a luz e entrou com os olhos vermelhos, buscando alguma coisa. Pude ver que havia várias ferramentas e instrumentos dentro daquela sala, correntes, e qualquer outra coisa que me levasse a morte. O piso era sangue. Sangue seco, e molhado. Mistura de sangue para todo lado.
Ele puxou uma cadeira e se sentou. Me olhando de frente. Por segundos. O ponto fraco dele era indecisão. Chutou a cadeira de lado.
- Você trata de ficar calada, vou receber dois clientes já já. E se você soltar a boca pra falar alguma coisa, pra pedir socorro. Eu venho aqui, e vou fazer você sofrer até pedir pra morrer sua vagabunda.

E ele sumiu, me deixando naquele estado. Nessa hora, o rato estava morto. E a Karen iria me matar com certeza.
Continuei sentada, esperando o sono vim. Cochilei por causa da dor, era melhor dormir, eu precisava comer e usar o banheiro. Mas tudo doía. Eu estava comendo o pão que o Diabo amassou. Cochilei cerca de 3 horas. Ouvi passos e conversas lá fora. Era vapores, Lc entrou e me desamarrou da cadeira, eu estava folgada demais. Chamou um vapor, me levantou, e me amarrou minhas mãos pra cima, me deixando pendurada. A corrente era longa. Amarrou uma camisa na minha boca para não demonstrar barulho. E fechou a porta. Com certeza seus clientes estavam chegando.
Conversa vai, conversa vem. Eles podiam ser tão ruins quanto o Lc, mas eu ainda tinha uma chance de fracassar. Eu precisava fazer barulho, então comecei a andar pra trás pegando impulso para pendurar pelas minhas mãos, eu só tinha uma chance. Peguei impulso e segurei firme pelas correntes, aquilo me feria insuportavelmente. Não daria pra gangorra novamente. A corrente se soltou do teto, e eu cai deitada naquele sangue meu e de outros. Fazendo barulho suficiente para Luís e Gustavo entrarem pela porta na minha frente, me vendo ferida e ensanguentada.
- Lc pode me explicar?
- Vadia Piranha querendo me matar, agora vai sofrer. Tira a mão dela, vou matá-la.
Gustavo tirou a camisa da minha boca, e desamarrou as correntes. Questionando o Lc. Era minha única opção. Ficar ou morrer correndo. Levantei mesmo sentindo dor, eu precisava achar a rua onze, e a casa vinte seis. Mesmo que a Karen me odiasse por ter feito com que rato morresse. Levantei e comecei a correr, vi a rua 5, 6, 7, 8, 9, na 10 que eu consegui despistar os vapores. Achei rua onze, uma escadaria enorme, subi de três em três degraus até chegar na casa da Karen, não bati na porta, abri e fechei me jogando dentro da cozinha. Karen me olhava assustada.
- Você está bem?
- Me desculpa, eu não queria que o rato morresse por minha culpa. Eu juro que não queria que isso acontecesse.
- Do que diabos você está falando louca? O rato tá dormindo no sofá da sala.
- Mas eu ouvi um tiro.
- Aqui você ouve um toda hora, vem vou te ajudar a tomar banho. Rato me contou, já já alguém vem te procurar, você precisa atravessar.

Ela me ajudou a subir as escadas, jogou fora minhas roupas, me ajudou a tomar banho, limpou meus ferimentos e colocou curativo, me ajudou a vestir um conjunto de moletom preto da adidas dela, um tênis, e me deu comida e água.
- Karen, obrigada por tudo. Mas onde minha mochila pode ter ficado?
- Pra que você quer? Deve está na boca.
- Minha arma.
- O rato tem uma, mas não vai ser fácil pegar. Olha só estou te ajudando porque você é amiga da Nêssa, e eu odeio o Lc.

Ela saiu me deixando esperando, e voltou com uma glock na cintura do short. Era louca igual a Vanessa mesmo.
Saimos pelos fundos da casa dela, andando olhando pra baixo. Ninguém estava desconfiando, andando feito, gato.
Um vapor nos viu, e começamos a correr, a Karen corria e eu acompanhava ela, até o Lc bater de frente com ela. Ela pegou a arma mas não conseguiu atirar, afinal nem destravar a arma, ela tinha feito. Lc deu muita risada. E empurrou ela de lado fazendo ela bater a cabeça no meio fio. Droga!
O vapor dele, estava bem atras de mim. Eu não tinha pra onde fugir.
- Vamos.
E segui ele até o topo mais alto do morro, dando vista a um galpão. Ele tirou o celular do bolso, ligando diretamente para o Alemão (pai). Isso me daria uma dor de cabeça.
- Alemão?
- O que é desgraçado?'
- Sabe o que está na minha frente agora? Ele disse rindo debochadamente. Fala Piranha!
Balancei a cabeça negativamente, eu não colocaria ele em perigo jamais. Eu era o perigo, e ia sair dessa sozinha. Ele virou um tapa na minha cara e eu grunhi. Mas não ia demonstrar sensação nenhuma. Nada que fizesse o alemão se deslocar, eu estava no poder. Eu queria o poder, era meu mundo, e eu só faltava comandar. Lc desligou o telefone. Seu vapor amarrou uma faixa em meus olhos. E me levou pra dentro daquele galpão a força.
- Sua última chance de falar com o alemão. Ele riu novamente.
Continuei balançando a cabeça.
- Porque tão difícil? Sabe o que será fácil?
Abri as mãos em questionamento.
- Te matar com um tiro na cabeça. Ou devia começar atirando na perna e vê você sangrar até a morte?
- Creio que no meu coração seja melhor, aconselhei.
- Olha só ela fala.
Ele se afastou me colocando de joelhos, era minha hora.
Ouvi ele destravando a arma... E o tiro..


Estão curiosos?


O tiro acertou em cheio na perna dele, fazendo ele cair, a alma boa veio em minha direção, me tirando daquele transe. Eu não havia morrido. Não era minha hora de pagar pecados e dívidas com o Diabo. Me levantou e desfez a venda. Gustavo me ajudou a levantar, enquanto Luís apoiava com o pé Lc com dor no chão. Eu só queria o poder, um malote e a cabeça dele. Era pedir demais?
mas eram duas pessoas querendo isso, duas pessoas querendo a cabeça do Lc. Mas Luís era a cara do meu avô que foi dado como morto. Fiquei parada olhando para ele, como se tivesse visto um fantasma. Mas agradeci. Não disse uma palavra, era assunto para outra hora. Se foi meu avo que me salvou? Ok. Mas não era o momento ainda. E quem era o Gustavo? eu não sabia. Só via uma Karen desesperada com a cabeça sangrando do lado de fora, eu corri e abracei ela. Era a única pessoa que eu conhecia naquele momento, e devia um monte de favor. Mas eu tinha que acabar com o que eu comecei. Tirei a arma da mão de Karen, andei até o galpão tirando o celular da mão de Lc, ligando diretamente para alemão em chamada de vídeo.
- Olá. sorri meio derrotada depois do sofrimento.
Abaixei a câmera, fazendo eles olharem a tela do celular, e deixando os outros três em choque. Dei seis tiros, descarregando o final do pente em Lc. Desliguei o celular. Não dizendo nada.
- Podem ficar com o corpo, se quiserem. Estou atras do cofre. E o morro, é meu.
- Só queremos um malote de dívida. Falaram em uníssono.
Afirmei a cabeça andando até a casa do Lc, todos já sabiam o reinado que haveria. Ninguém precisava saber que Luís e Gustavo me ajudaram a conquistar a Rocinha. A Karen poderia contar mas ela apenas pediu dinheiro para arrumar a casa. Entreguei dois malotes a Luis e Gustavo, um malote para Karen. Atravessei o fuzil que achei nas costas, e coloquei a pistola na cintura.
A vida bandida me pertencia. Não tinha como fugir do meu mundo. Eu era uma assassina, fria e egoísta. Não sei que rumo tomou aqueles três, eu desci para a boca mas antes passei no galpão arrancando a cabeça detonada do Lc, e sujando minha camisa com sangue, minhas mãos, e um um pouco na minha testa por ter esfregado a mão sem querer. A garotinha imunda, rainha vermelha, mulher do Diabo. Os vapores ficaram espantados com aquela cena. Gritando que eu era a nova chefe. Antes de um bom baile, eu precisava entregar algumas coisas ao Alemão.


vou conseguir postar quarta feira, estou em semana de prova. Desculpem a demora. Um ótimo domingo à vocês. ♡

Garotinha Imunda Where stories live. Discover now