Julia

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Ana Clara

Acordei nervosa, bem nervosa mesmo. Em menos de uma hora estava pronta e rumando para a casa da Julia naquela tarde. Eu queria acabar logo com isso, queria saber tudo que vem causando esse rebuliço em minha vida. Mas havia uma parte covarde de mim que estava morrendo de medo de todas as coisas que eu poderia descobrir, e acho que essa parte que ficou comandando os meus pés enquanto eu dirigia. Normalmente levaria uns vinte minutos de carro da minha casa até a da minha amiga porém, graças a covardia, eu levei em torno de um hora. Fui tão devagar que meu caminho teve a maravilhosa trilha sonora feita pelas buzinas dos carros que seguiam atrás de mim. Em um sinal vermelho um homem chegou a parar o carro ao lado do meu carro para perguntar se eu estava bem, passando mal ou coisa do tipo. Por um lado foi bom saber que ainda existe gente boa nos trânsitos desse mundo a fora. Porém, agora, não tenho mais para onde fugir. Estou sentada no sofá da sala de Julia enquanto ela, rapidamente, faz um chá para gente.

- Prontinho. - Ela me entrega a caneca e senta-se ao meu lado.

- Julia...

- Calma. - Ela me interrompe.

- Calma é tudo que eu não tenho. - Falo soltando um riso nervoso. - Porque pediu que eu viesse e para quê não contasse a Bárbara?

- Bem, primeiro porque eu sei de algumas coisas sobre a Vitória e segundo porque se a Bárbara souber que eu estou pensando em te contar vai querer me matar. - Explica. - Olha Aninha, eu não sei tanto quanto a Bárbara possivelmente sabe, e não pensa que a Bá não te conta por mal mas é porque ela realmente não pode.

- O que ela poderia saber que não pode me contar? Só se envolvesse o traba... - Paro de falar ao ver o olhar de Julia. - Não, não, não, não. - Digo. - Não pode ser.

- A Vitória foi paciente no hospital. - Julia diz. - Eu não sei bem a história, mas parece que a mãe dela quem internou ela quando tinha uns quatorze pra quinze anos.

- Porque ela internaria a própria filha em um manicômio?

- Hospital psiquiátrico. - Julia me corrige.

- Dá no mesmo no final do dia, não? - Digo.

- Eu não sei o motivo mas pela idade da Vitória você consegue notar que ela foi internada mais ou menos na época que a Bárbara começou a estagiar lá. - Assenti. - Quando a Bá começou lá haviam rumores de que Vitória havia matado algumas pessoas ou coisa do tipo.

- Algumas pessoas? No plural? - Pergunto confusa. - Não pode ser, Vitória não mataria uma mosca.

- Não? - Julia pergunta e eu não respondo.

A verdade é que não posso responder essa pergunta, não sei como. Eu quero acreditar que ela não mataria mas na realidade não tenho a menor ideia do que ela é capaz.

- Olha, eu não sei o que é verdade e o que não é. - Julia diz. - Bá já leu a ficha de Vitória mas não pode me contar o que tem lá, assim como não pode contar para você.

- Sim, se ela contasse poderia acabar com um processo gigantesco. - Digo entendendo o lado de minha amiga.

- Como ela não podia te contar vem tentando fazer com que você se afaste da Vitória.

- Você acha que ela pode ter dito algo a Vitória que fez com que ela quisesse terminar tudo comigo?

- Não sei, mas se fez não foi por mal.

- Não acho que Vitória possa ter matado alguém. - Volto ao assunto ainda incrédula com a possibilidade.

- Mas e se matou?

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