i. sonhos

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Em uma manhã típica congelante da fatídica Holth, dentro de uma mansão e imersa em seus demônios e contos de fadas, uma garota ruiva acordou de supetão sentindo que o ar havia fugido completamente do seu corpo ao mesmo tempo que uma figura embaçada estava a apertar seu pescoço com tanta força que já sentia o gosto amargo da morte se aproximando para rir de sua desgraça. Tentou respirar, tentou outra vez, outra vez e outra vez, repetiu várias vezes para si mesma que nada havia passado de um sonho mas ainda assim seu corpo reagia como se cada detalhe tivesse sido real. Algo a mais a incomodou, se sentiu observada, tocou seu pescoço devagar quase como se tocasse uma porcelana e levantou o olhar para porta. Dallon, seu irmão mais novo, estava lá, olhando-a de longe com seus olhinhos verdes herdados do falecido pai.

     — Dallon, tá tudo bem? — ela tentou perguntar alto, fingindo que nada havia acontecido.

     — Mamãe pediu pra te acordar, mas disse que não posso te acordar quando estiver tendo pesadelo. — Dallon disse baixinho, em um tom quase inaudível.

     — Está tudo bem, Dal. Pode ir, eu já vou descer.

     — Tá bom. — ele murmurou com um sorrisinho infantil e saiu correndo, deixando a porta aberta.

     Foi como se barreiras tivessem se rompido, ou como se ela tivesse soltado o ar que estava preso a mais tempo que deveria, ela desmoronou e levantou o mais rápido que pôde pelo lado esquerdo da cama, declamando maldições às superstições, a ruiva correu para seu banheiro e abriu a torneira da pia para que pudesse molhar seu rosto que deveria estar simplesmente horrível da mesma forma que se sentia estar por dentro.

      — Bom dia, Raven Lohen. — murmurou para si mesma, ousando levantar o olhar para o espelho.

     Estava horrível como já pensava estar, a região ao redor dos seus olhos estava tão escura e o resto da sua pele tão branca que parecia ter saído de um filme de terror, seu cabelo ruivo estava completamente bagunçado como se tivesse passado por uma turbulência, estava digna de um filme barato.

     Raven tentou respirar novamente e só então percebeu que a sensação de queimação em seu peito já era nula, tentou estabelecer ordem entre seus pensamentos e em seguida se despiu do pijama de joaninhas e entrou por completo debaixo da água quente que corria do chuveiro.

     Sua cabeça ainda a torturava pouco a pouco, amaldiçoada pelas visões que a condenavam para um destino melancólico era a quinta vez seguida que sonhara que alguém tentava matá-la, sempre de uma forma diferente. Dessa vez a silhueta negra agarrava seu pescoço com uma corda trançada e não hesitava em enforcá-la independente do quanto tentasse gritar, espernear ou se soltar, aquilo se repetia em sua mente em um loop que parecia ser infinito, mas quando fechou o chuveiro, ordenou sua mente a pensar em gatinhos e filhotes de cachorrinhos para que aquilo sumisse de uma vez.

     Estava atrasada.

     — Bom dia, bela adormecida. — Jane Lohen disse alto no exato momento que a ruiva entrou na cozinha. Ela sorriu o mais simples que pôde e foi dar um beijo na tia que tanto amava. Jane era conhecida por seu jeito meigo e gentil junto de seus olhos verdes brilhantes, mas também pelo seu bom gosto e pelo fato de que comandaria um batalhão sem o mínimo esforço, andava sempre bem arrumada, ousando de terninhos e batons tons de vinho fortes e chamativos.

     — Olá, querida. — Ellize Lohen, sentada do outro lado da ilha no meio da cozinha, disse fria por detrás de folhas de jornal. Ellize era conhecida por sua frieza e por seus tons fortes e determinados, sabia facilmente intimidar alguém e o fazia até sem intenção. Como a irmã, usava terninhos de alta qualidade e batons vermelho-sangue.

Entre a EscuridãoWhere stories live. Discover now