iii. a garota morta pede ajuda

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Quando de repente tudo ficou em silêncio Eliott abriu seus olhos e encontrou um teto com muitas estrelinhas coladas que refletiam a luz da lua e dos postes lá fora, o teto que estava daquela mesma forma desde quando Raven fez 12 anos e decidiu que iria mudar várias coisas em seu quarto. Eliott costumava dormir ali com frequência, sempre em um colchão localizado no lado esquerdo do quarto próximo a uma escrivaninha e a janela grande, poderia se sentir confortável, em casa, mas a atmosfera daquele lugar não sugeria nada de bom, não para ele.

— Você pode me ajudar? — uma voz ecoou de repente.

Eliott respirou fundo antes de sentar-se no colchão. Parada no arco da porta estava uma garota pálida olhando para ele fixamente. Era como se uma aura a rodeasse, um tipo de luz azul exalando cada pedaço de si, usava roupas rasgadas, um vestido longo idêntico a algum que ele pode ter visto em um dos muitos quadros da mansão Lohen.

— E quem é você? — perguntou baixo, se esforçando para não acordar Raven que ressonava sobre a cama.

— Treena, as pessoas me chamavam de Treena. — a garota respondeu baixo, parecia triste.

— Por que precisa de ajuda? — Eliott se arrepiou por um momento, a semelhança entre ela e Raven o incomodou.

— Eu queria conversar um pouco, talvez.

Eles andaram ao longo do corredor, e após descerem a escada sentaram-se lado a lado, Eliott sentindo mais frio que o normal pela presença da garota morta.

— Eu fui morta — ela sussurrou, olhando para o teto como se algo a encantasse profundamente.

— Eu me condenei ao inferno.

— Que triste, como fez isso?

— Como foi morta? — ele sorriu cínico, a garota morta deu risada e em seguida suspirou tão forte que parecia sugar as energias ao seu redor.

— Alguém que eu amava me matou.

Eliott iria rir, mas antes mesmo que tivesse tempo foi como se um filme tivesse começado a ser transmitido de repente, teve uma sensação de que sua alma havia saído de seu corpo e quando voltou a si estava de frente a mesma garota que estava ao seu lado junto de um homem alto e sombrio.

— O que você está fazendo? — a garota estava assustada.

— Eu agradeço por tudo o que fez por mim mas agora está na hora de mostrar o quão feliz você me faz. — com um sorriso neutro e sem sequer parar para qualquer coisa o homem puxou uma faca de dentro do seu blazer e apunhalou-a com tanta brutalidade que o corpo da garota foi ao chão imediatamente.

Quando Eliott piscou novamente, estava de volta a escada, ao lado da garota no mesmo lugar de que estava antes como se nunca tivesse saído. Aquilo já havia acontecido algumas vezes mas mesmo assim sabia que provavelmente nunca iria se acostumar.

— Isso foi...pesado.

— Como se condenou ao inferno? — a garota morta pareceu mudar de assunto de repente.

— Corrompi um ritual e agora qualquer demônio ou fantasma que esteja a menos de 2 km de distância pode me achar e me atormentar.

— Por isso me enxerga?

— Provavelmente.

— Que triste.

— Eu sei.

Uma corrente de vento passou por eles e fez com que Eliott sentisse frio ainda mais mas a garota ficou da mesma forma que já estava antes. Eles se levantaram ao mesmo tempo e começaram a andar, Eliott cumprimentou o homem que sempre costumava estar por ali quando ele passava, o mesmo estava sempre limpando as telas e outras obras de arte espalhadas pela mansão. Quando eles chegaram na cozinha ele acendeu a luz, quando o fez, a garota desapareceu com um sorriso breve nos lábios como se agradecesse o curto diálogo. Ele tomou um pote cheio de cookies e quando encostou no mesmo, uma criança passou correndo por ele.

— Por favor, crianças não. — clamou para si mesmo.

— Vamos brincar? — um garotinho loiro apareceu no arco da porta, sorrindo como se tivesse ganhado um doce.

— Ah...droga.

Entre a EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora