Verso 3

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Quem será por detrás desse disfarce, meu amor?

Tikki tentava - só tentava - acordar sua portadora desde que o alarme soou. Era uma tarefa difícil, senão impossível, já que ela tentava à meia hora.

Meia hora de atraso na cota Dupain-Cheng era um orgulho para a família e nome.

Mal sabia a kwami, que a garota já estava acordada a bastante tempo. Talvez até antes do alarme. Ela só não queria "acordar", levantar da cama, trocar de roupa, tomar banho... ela não queria ter uma vida. Só queria ficar confinada nas suas cobertas até o fim dos tempos. Lá não tinha nenhum garoto mascarado ou capa de revista. Nem sentimentos confusos e novos no seu coração. Só tinha ela e ela.

Claro que a tática não ia durar muito tempo.

"Marinette, você está atrasada para a aula" Sabine Cheng decidiu subir para acordar a filha dorminhoca, que gemeu em resposta.

"Não quero sair daqui, mãe", reclamou a Dupain, puxando novamente o lençol que a mãe havia tirado.

"Você não pode ficar aí pra sempre" diz a mais velha carinhosamente, agora pegando o lençol e dobrando. A mais nova abraçou as pernas e as puxou para o peito, os olhos ainda fechados.

"Eu podia tentar."

Era claro que ela não podia ficar ali para sempre, até porque tinha seus deveres como heroína acima até mesmo dos de Marinette Dupain. Mas ficar ou tentar ficar no seu casulo longe de tudo era o que mais lhe parecia certo.

A Cheng acariciou a cabeça da menina como quem já sabia do que se tratava e naquele instante tudo desapareceu. Era óbvio que a mais velha não tinha conhecimento algum, mas as mães tem esse poder. Mesmo que indiretamente.

Ela se afastou e pegou uma roupa para a filha, os sapatos e puxou as xuxinhas que estavam amarrando os cabelos negro-azulados da garota, que mais do que na hora reclamou. A mais velha só jogou as botas que tinha pego nela e abriu as cortinas.

"Se você acha que algo dentro de você está bagunçado, comece limpando o seu exterior" explicou sorridente. "Sabe, filha, é sempre bom estar apta para mudanças" e foi embora deixando uma Marinette confusa.

"Sua mãe tem razão, Marinette" Tikki apareceu no campo de visão dela, saindo do seu esconderijo "além de ter um ótimo senso de estilo" apontou as roupas.

"Não tá dizendo que eu deveria vestir isso mesmo, não é Tikki?"

"Desculpe, estou do lado da sua mãe. Agora, vamos, você tá mais do que atrasada!"

A azulada gemeu mais uma vez antes de entrar no banheiro e se preparar para ir para a escola.

● ● ●

Poderosa. Era assim que Marinette se sentia quando saiu de casa. O que uma trança, uma bota e uma roupa diferente não fariam com a garota?

Ela chegou na hora exata do intervalo, nem mais, nem menos. Quando ela passou pela porta do refeitório, todos já estavam sentados nas suas respectivas mesas, então uma única pessoa passando por entre as mesas tiraria sim a atenção.

"Amiga, decidiu vir apresentável hoje?" Alya brincou, mas estava surpresa com a mudança brusca de visual da azulada.

"Minha mãe que escolheu" respondeu apoiando o cotovelo na mesa.

"Não vai pegar nada para comer?"

"Eu acabei de comer" riu "teve alguma coisa importante na aula?"

"Nada demais" respondeu desinteressada.

"Olá, meninas" e lá estava ele. Adrien Agreste com seus olhos verdes, ombros largos e cabelos loiros.

Nino estava do lado dele, fones no ouvido e sorriso no rosto.

"Fala " saudou e se sentou na frente de Alya.

"Como vão?" a morena devolveu o cumprimento com um sorriso no rosto.

"Bem e você?" o loiro também se sentou, só que na frente de Marinette. Essa que ainda assimilava a imagem dele com a de Chat Noir.

Tinham que ser parecidos e os dois ferrarem com a minha cabeça, pensava emburrada. Cruzou os braços em cima da mesa e respirou fundo. Alya cutucou o braço dela e apontou a cabeça na direção de Adrien que a encarava sugestivo.

"Você bateu o recorde de atraso hoje" disse divertido.

A azulada revirou os olhos e encarou ele. O loiro se sentiu parcialmente intimidado com a intensidade do olhar que ela lhe lançou. Parecia querer despir sua alma. Me diga seus segredos, parecia dizer. Eu sei de tudo, mas me conte. Conte-me tudo. Não esconda nada.

Ele piscou uma vez e ela desviou  o olhar.

"Pois é" respondeu convicta à não gaguejar. "Minha mãe quis... me arrumar, digamos. Eu ia chegar só quarenta minutos atrasada, mas acabei perdendo um período todo" fez um bico indignado "e essa droga de trança já tá desmanchada."

Alya batia palmas mentalmente para a amiga que não havia gaguejado ainda na presença do amor da sua vida.

"Eu gostei da trança" Nino abaixa os fones e aponta na direção dela.

"Valeu, Nino" a azulada sorriu de orelha à orelha, feliz.

"Ficou diferente, eu também gostei" o loiro comenta distraído, mordendo seu sanduíche saudável.

O comentário a atingiu menos do que ela mesma esperava, oque não impediu das bochechas rosarem com o elogio. Estaria ela, Marinette Dupain-Cheng se desapaixonando pelo garoto que jurou amar a sua vida inteira?

Não. Um simples beijo não é o suficiente para desaparecer com uma legião de sentimentos. Qual é! Ela nem conseguia falar direito com ele! Seria um problema com a dicção?

Que bobagem. Idiotice, uma tremenda idiotice.

● ● ●

"Na sua direita, Chat Noir, cuidado!" Ladybug gritava para o parceiro.

Não adiantou muito, porque ele foi atingido do mesmo jeito. O gato voou de um lado ao outro e quando caiu, arrastou um pouco até realmente parar num lugar só.

Ah, merda, pensou a joaninha quando viu o exército do akuma vir na sua direção, obrigando ela à jogar seu ioiô para sair de lá. Ela estendeu a mão para o parceiro para ele levantar. Quando as mãos deles se uniram, Ladybug sentiu uma corrente elétrica passar por todo o seu corpo, o aquecendo. As batidas do seu coração, antes aceleradas por conta da adrenalina, explodiram no seu peito e ela temeu que o seu parceiro as escutassem.

Chat também sentiu oque ela sentiu. Os olhares se cruzaram: azul e verde, verde e azul, numa batalha épica.

Parece que não é só o gatinho que está apaixonado agora.

As mãos deles se uniram e se a cidade não dependesse deles naquele momento, elas não se separariam. Nunca.

Seu sonho mais forte

Azuis como a sorteWhere stories live. Discover now