Verso único

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Talvez não seja você

Chat Noir vagava sozinho por cima das pessoas curiosas e de suas vidas descomplicadas. Sua cabeça estava tão cheia de tantos pensamentos intrusos quanto nunca. Após todo o caos que vivenciou nas últimas horas, ele pensou que espairecer seria uma boa ideia.

Não era.

Ficar sozinho apenas fazia com que toda a confusão em sua mente se tornasse insuportável para ele mesmo. Porém, ele não foi longe o suficiente até sentir uma mão segurando seu pulso.

Era Ladybug, que sorria triste para ele e que de alguma forma havia o alcançado na corrida e o segurava enquanto se esforçava em mantê-los correndo lado a lado.

Chat Noir parou simplesmente e se virou para observá-la melhor. Nada no seu rosto dizia sobre o que suas intenções ou sobre o que sentia, mas os olhos levemente avermelhados constatavam que ela havia chorado.

Por culpa dele.

Chat Noir desviou o olhar para baixo e suspirou fundo. Ladybug apertou seu pulso levemente uma última vez antes de soltá-lo.

— Me desculpa — ele pediu, incapaz de olhar para o rosto da super heroína. — Eu não deveria ter sido influenciado por ele. Eu.... apenas....

Ele se interrompeu quando a mão dela se encostou no ombro dele, causando-lhe uma corrente elétrica que chegou até a ponta dos pés. Esse era o efeito de Ladybug em Chat Noir, uma energia viva que lhe acendia a alma.

A mão dela se arrastou todo o caminho do ombro até o queixo dele, virando-o na direção dela. Fazendo com que os olhos dele se virem em sua direção.

— Você não deveria se desculpar pelos erros dos outros — ela disse, compreensiva como sempre. Adrien não merecia ela, nem em mil anos ele mereceria. — E eu não o culpo. Se minha mãe estivesse... — ela se engasga com as palavras como se as repudiasse. — Bem, e eu tivesse uma chance de vê-la novamente, eu também não pensaria no lado racional.

Chat sentiu as lágrimas pinicarem seus olhos e teve que piscar até que elas voltassem para dentro novamente. Mais uma vez ele sendo fraco com ela, falhando.

— Eu a amava tanto — ele disse com a voz embargada. — Eu não pude sequer sofrer por sua perda, meu pai não me permitiu sequer essa paz. Ele não permitiu que ela descansasse e passou meses atrás de meses me enganando. Eu pensei que ela estivesse viva em algum lugar, eu tive esperanças. Meu pai me afastou, deu as costas para mim, mas o que realmente me destruiu foi saber que esse tempo todo, ela estava bem debaixo do meu nariz. E agora eu pude ver com os meus próprios olhos que ela se foi.

Ladybug não soube o que dizer para servir de consolo, então o máximo que fez foi puxá-lo para seus braços e o abraçar, na ponta dos pés, para que ele pudesse apoiar a cabeça no contorno de seu ombro. O garoto logo retribuiu passando os braços ao redor da cintura da mestiça.

Chat inspirou o cheiro adocicado dela e isso só fez com que as lágrimas descerem vergonhosamente dos seus olhos.

— O que acontece agora?

Ladybug acariciou os cabelos dourados com a ponta dos dedos com o maior cuidado possível, como se tivesse medo de que ele se quebrasse em um movimento em falso.

— Vou fazê-lo se esquecer dos miraculous e de Hawk Moth e toda essa história de destruir o mundo, se possível.

Chat soltou uma risada fanhosa que fez os pelos da nuca dela se arrepiarem.

— Não vai contar para todo mundo sobre quem ele é?

— O luto dele já vai ser castigo o suficiente. O resto é com você.

Azuis como a sorteWhere stories live. Discover now