Capítulo 2: Um dia você irá gostar do que não te agradava.

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O corredor do apartamento estava em silêncio, como sempre, me aproximei da porta e a abrir calmamente, Vivien estava deitada sobre o sofá ao me ver se levantou-se desesperadamente como se estivesse ansiosa.
– E aí como foi? – Vivien me olhava apreensiva enquanto cruzava os dedos com toda força, parecia que ia os quebrar.
– Podemos falar disso depois Vivien, por favor? – Sem esperar resposta, caminho em direção ao meu quarto. Podia sentir algo me perseguir e caminhar aceleradamente, já sabia o que estava por vir.
Abro a porta do meu quarto e ao tentar fechar, Vivien me impedia com sua mão entre a beirada da porta.
– Alguma coisa aconteceu e eu não irei a lugar algum até me contar o que te deixou assim.
– Hoje não Vivien, por favor. Olha, estou super atrasado para a faculdade, e quando chegar ainda tenho que editar a entrevista, ou seja, hoje será um dia muito do cansado e por isso não estou com saco pra comentar a respeito de nada, tudo bem? – Mais uma vez tentava fechar a porta contra a mão da Vivien.
– Tudo bem, vou deixar você em paz, mas não pense que irá escapar porque não irá, você ainda vai me contar o que anda acontecendo, entendeu?
Abaixo minha cabeça, normalmente quando costumo abaixar minha cabeça para Vivien, ou estou pedindo desculpas, ou estou pedindo com licença, no caso, foi a segunda alternativa. Vivien some de vista e eu fecho a porta.

Já deveriam ser umas 18:45 da noite, estava exausto, mas não fisicamente e sim psicologicamente, aquela conversa tinha acabado comigo, mas queria evitar que aquilo tomasse conta de mim. Pego minha mochila da faculdade que estava jogada sobre a escrivaninha ao lado da janela do quarto, guardo dentro meu notebook que se encontrava jogado em cima da minha cama, que por sinal, estava inteiramente bagunçada, eu precisava urgentemente arrumar aquele quarto. Saio as pressas do quarto sem fechar a porta. Molly estava ao lado do sofá onde sempre costumava ficar, jogava minha mochila sobre as costas e tirava a Molly de dentro do apartamento. A faculdade não era muito longe, dava para ir com a Molly se andasse apressadamente, o que no meu caso eu estava fazendo. Conseguir chegar a tempo, joguei a Molly apressadamente sobre o estacionamento de bicicletas e a prendi com o cadeado, corri pelos corredores feito louco, parecia até um velocista. O que basicamente eu não era, só um louco com medo de perder as matérias para não reprovar. Sr. Gibbins já se encontrava dentro da sala, estava vestindo sempre o mesmo visual, uma calça social preta e sua camisa xadrez azul com branca por dentro da calça, o que já não era agradável para os olhos de quem vê, sem contar com seus óculos, o que era terrível, mas no fundo ele era um dos melhores professores da faculdade.
– Atrasado de novo, Srto Russell?
Não pude nem ao menos bater na porta para pedir licença, Sr. Gibbins permaneceu a escrever no quadro.
– Prometo que irei melhorar. – murmuro.
– Quantas vezes irei ouvir isso esse ano? – Ele olha para o livro que segurava em sua mão e em seguida retornava a olhar a classe. – Ah, deixa pra lá. Sente-se e mantenha silêncio.
– Obrigado.
A sala toda estava em silêncio. Entro de pressa para que não pudesse atrapalhar mais a aula do que já tinha atrapalhado, o que me deixava mais envergonhado. Pude notar algo diferente no meu local de acento, um garoto meio pálido, cabelos negros de olhos castanhos com uma jaqueta e uma calça toda rasgada preta composta por uma camisa branca estava sentado ao meu lado, o que era basicamente estranho, porque quem só sentava ali era o Tristan, e ele não estava dentro da sala. Me sentei, coloquei minha mochila sobre o canto da cadeira e peguei meu notebook, rapidamente observei uma mão vim na minha direção, era o novato. Ele tinha uma tatuagem no seu antebraço, estava escrito "vindicta", ele percebeu que eu notei e logo escondeu puxando a jaqueta. Isso, é basicamente estranho, muito estranho.
– Prazer, meu nome é Gregory. Mas todos me chamam de Greg.
Me virei para o olhar melhor. Puxa, aquele menino era realmente lindo. Levantei minha mão para o cumprimentá-lo. A mão dele estava totalmente gelada.
– Prazer, meu nome é Matthew, mas todos me chamam de Matt. – murmuro.
Noto-lhe que ele percebeu a ideia do murmuro.
– Sou o novato. – Ele sussurra.
– É. Eu sei. – sussurro.
Ele solta um sorriso alegremente. Dava para ver o quanto o sorriso dele era lindo e combinava perfeitamente com ele. Me sentir com vergonha, e aturdido, retiro minha mão da dele e me ajeito no meu lugar, ele se afasta um pouco.
– Eu sou apaixonado por jornalismo. Tá, isso é uma coisa que eu não deveria dizer para uma pessoa que acabei de conhecer, até porque acho que você não queria saber. Bom, eu estou falando demais, deixa pra lá. É que eu só queria me enturmar. Cheguei agora, não conheço ninguém e pelo visto ninguém gosta de conhecer gente nova por aqui. – Ele termina de falar olhando ao redor da sala para debochar de toda a classe.
Não consigo me conter e dou um sorriso.
– Bem-vindo ao clube, eu também me sinto assim aqui.
– Ah, ótimo! Pelo visto não sou o único que se sente reprimido por aqui.
– Não, não é.
– O que eu disse a respeito de silêncio Srto. Russell? – Sr. Gibbins aumenta o tom de voz na frente da sala e eu apenas abaixo a cabeça, envergonhado.
Gregory solta um sorriso parecendo se divertir com a situação e eu correspondo com a cara mais envergonhada.

O sinal já tinha tocado, todos estavam na lanchonete da faculdade. Procuro uma mesa vazia, costumo sempre me sentar sozinho, não gosto de barulho, e as vezes preciso colocar as matérias em dia o que facilita muito já que quase não tenho tempo para nada dentro de casa. Peço um suco gelado de laranja a garçonete e abro meu notebook, logo me vem na cabeça a tatuagem de Gregory, e o que significava e porque a escondeu de mim. Sempre fui curioso, até porque quando me escondem uma coisa quando eu já notei é o que me deixa mais curioso. Pesquiso na internet o que significava aquela palavra, vinham do Latim e se significava "vingança". Que pessoa em sã consciência escreve "vingança" no corpo? Isso está ficando mais estranho ainda.
Uma voz abafada logo chama pelo meu nome, estava atrás de mim e eu podia sentir o calor da boca vim a tocar meu ouvido, estava sussurrando "Matt", me viro para observar quem era. Era ele, estava logo atrás de mim. Fecho o notebook rapidamente. Não queria causar a impressão que estou vasculhando a vida dele. Ele estava com um sorriso estampado, ao notar eu fechar o notebook ele fica sério e se senta na cadeira ao meu lado. Dou um sorriso sínico meio sem graça e o observo calmamente.
– E aí? Posso ficar aqui com você? Ainda não cheguei a me enturmar com ninguém, infelizmente. Mas se quiser que eu vá embora, eu irei.
– Não, tudo bem, pode ficar, imagina.
– Ah, o que você estava fazendo? – ele olha para o notebook.
– Ah... Bom, só começando a editar a nova entrevista que fiz com a Meredith Van Kirk.
– Meredith Van Kirk? A socialite? – ele olha sem acreditar. – Posso dar uma olhada?
– Ah... Acho melhor não, não está bom. Me desculpe.
– Tudo bem. Mas se você não mostrar seu potencial para as pessoas, nunca será o que deseja ser, precisa acreditar em si mesmo, até nas coisas ruins. As vezes precisamos experimentar coisas nunca provadas por nós mesmo, quem sabe um dia isso não seja um beneficio não é? – ele me encara com os olhos e se aproxima de mim.
Me sinto inseguro naquele momento e tento fugir, mas não quero assustá-lo e permaneço quieto no meu canto.
– O que você quer dizer com isso? – murmuro.
– Simples, você nunca saberá o que é bom se não experimentar. É a regra, use e abuse daquilo que você insistia em negar. Um dia você irá gostar do que não te agradava.
Estava incrédulo, não sabia o que responder. Obviamente me veio na cabeça a conversa que tive com a Meredith. O que ele sabia daquilo que se encaixava tão bem essa conversa com a outra? É paranoia da minha cabeça, só pode ser.
– Ei garotos. Festa em comemoração a chegada dos novos alunos, você não podem perder. Será na La D'Guste¹, ás 22:00. – era Georgina, aluna de Fisioterapia. Entregou um convite para mim e para Gregory, logo em seguida o sinal toca.
– Vejo você lá. – Gregory se levanta balançado o convite e me encarando com um sorriso.
Ainda estava sem acreditar, o que ele sabia de mim que eu não sabia dele? Isso realmente fazia sentido. Guardo meu notebook e saio em direção ao estacionamento de bicicletas. Retiro meu celular do bolso, junto com o cartão da Meredith.
– Srta. Van Kirk falando.
– Meredith?
– Sim, a própria.
– Aqui quem fala é o Matthew Russell. E eu gostaria de dizer que... – Paro um pouco para pensar enquanto esfregava minha testa. Ai meu Deus, isso é absurdo! E por fim falava: – Eu aceito o acordo.
– Será ótimo fazer negócio com você, Matt.
– Também espero que seja. Até amanhã. – desligo meu celular, guardo-o e vou embora.





1. La D'Guste; (fictício); Bar mais badalado da cidade, onde todos da faculdade costumam se encontrar pra fazer as festas de comemoração

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