Capitulo 2

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P.O.V Anaí
Arrumei todas as minhas roupas no armário, não eram muitas, só levei o essencial mesmo, meu equipamento fotográfico ocupava a maior parte da minha bagagem.
Mandei um e-mail pra minha editora chefe dizendo que já havia chegado e já estava tudo pronto pra minha primeira entrevista em Paris. Meu estômago a essa altura já pedia por ajuda então resolvi descer pra comer alguma coisa. Andando pelo corredor me deparo com uma cena um tanto deprimente, se não fosse tão cômico ver uma mulher de aparentemente 25 anos falar "abracadabra" para uma porta. Resolvi ajudar, era evidente que sozinha ela não sairia daquela situação tão rápido.
-Quer ajuda?
A moça me olhou com uma expressão de espanto que logo em seguida se transformou em embaraço.
-Por favor.
Ela disse abaixando a cabeça. Soltei um risinho mais pra amenizar a situação vergonhosa dela e fui em direção a porta 508, ela me entregou a chave, e ficou me observando colocar o cartão até a pequena luz ficar verde e então utilizar a chave antiga.
-Ah, então é esse Mistério! Muito obrigada, acho que se não fosse você meu próximo passo seria dizer "Abre- te sésamo". Nem perguntei teu nome, né? Qual nome da minha salvadora de hoje?- Ela disse agradecendo.
-Eu sou a Anaí.
-Anaí, que nome lindo! Bom, prazer Anaí, meu nome é Flávia.
Só nesse pequeno diálogo já percebi que Flávia era uma pessoa muito falante e amigável, resolvi deixar de lado minha timidez e apenas tentar mesmo, fazer minha primeira amizade em Paris. Era hora de mudar esse meu jeito e me soltar mais, precisava aprender a me relacionar com pessoas de verdade fora meus colegas robôs e minha editora chefe mal amada.
Me mantive calada porque sinceramente não sabia o que dizer, parece que sempre que tento puxar assunto, é algo tosco demais, dessinteressante sei la. Flávia ainda me olhava despreocupada, com um olhar gentil - camramba Anai, fala alguma coisa, tenta, não vai doer.
- Ahh obrigada. Tá passando férias aqui?
-Na verdade acabei de me mudar pra cá, vou ficar um tempo por aqui no hotel até achar um lugar legal pra mim.
Ela dizia meio desacreditada nas proprias palavras, meio que tentando se alto convencer daquilo.
- Sério? Eu também to de mudança.
- Caramba, isso é muito legal, ta animada?
- Hum - anda fala, não seja estupida - é, acho que sim.
- Não parece - ela ri - mas olha eu também to me pelando de medo, nunca sai do Brasil assim, larguei tudo pra vim pra cá.
Flávia parecia ser muito legal, e melhor...parecia o tipo de pessoa com a qual eu me sentia bem em conversar. E isso não é tão facil já que na maioria das vezes prefiro me isolar do mundo e ficar sozinha, aprendi a ser assim desde pequena, não tive irmãos nem nada, eu e meu pai apenas.
- Eu já morei na Ucrânia, não tenho medo nem nada é só que...sei lá.
- Cara, eu te entendo eu também sei la. - Ela era engraçada e eu tive que rir, ela me acompanhou.- Hã...Anai, Vou entrar pra tomar um banho, viajem longa, sabe como é. E depois vou descer com a minha amiga pra jantar. Quer se juntar a nós? Acho que você vai gostar dela. Você pode entrar para me esperar ou nos encontramos lá em baixo?
Como dizer não? Era a primeira possibilidade de "amizade" que eu tinha, e ela tinha uma amiga que podia ser a segunda, enfim...O que eu podia perder? Se eu não gostasse era só vir embora.
- Ta ok, se não for incomodo pra você eu espero por aqui mesmo.
- Legal, então por favor, entre.
Escancarando a porta ela me indicou pra entrar, odiava esperar mas lá embaixo no saguão estava meio frio e no quarto quentinho, então fiquei por ali mesmo.
Por sorte ela não demorou muito, foi um banho rápido,os cabelos continuavam secos e num liso perfeito.
- Vamos? To varada de fome.
Assenti com a cabeça e fomos pro elevador.
- Minha amiga ta esperando la em baixo, a gente se conheceu na faculdade, a proprósito sou cardiologista e você o que faz?
Ela era tão leve, agia com muita naturalidade, queria ser assim também mas tinha algo que me prendia, nunca conseguia me soltar na frente de ninguém.
- Sou jornalista.
- Aiii que legal, já entrevistou alguem famoso?
- Alguns jogadores, sou jornalista esportiva.
- Isso é muita coincidencia, eu vou trabalhar no PSG dentro de uma semana, não vejo a hora, to muito animada com meu novo trabalho.
Opa, focada no trabalho mais um ponto pra essa tagarela esquisita, num certo momento da conversa notei que Flávia tinha uma magoazinha chata na parte emocional dela, posso ser calada mas sou muito observadora. Porém, meu lado investigativo teria que esperar até eu ter mais liberdade pra fazer algumas perguntas.
Chegamos no restaurante e ela continuava com as perguntas, aparentemente ela não dava freio ao investigador interno dela como eu dava ao meu, fui respondendo afinal eram perguntas bem casuais, nada demais.
Fomos até a mesa, quando percebi que a tal amiga dela era a idiota que esbarrou em mim mais cedo, tava tudo indo bem demais pro meu gosto.
- Agatha, essa é a Anai, Anai essa é a Agatha.
-Oi...Agatha.
Respondi meio seca, uma atitude ruim no quesito arrumar amigas, sei disso.
-Oi.
Bah, ela foi mais seca que eu. Que chata! Mas, vou manter meu plano e ser uma pessoa legal. Só espero que ela não provoque.
-Não sei vocês mas, eu preciso fazer meu pedido. Não aguento mais de fome.
Disse Flávia sentando-se e eu aproveitei a deixa para fazer o mesmo.
-Amiga, acredita que a Anaí acabou de se mudar para Paris, chegou hoje para o novo emprego igual a nós duas.
Continou falando Flávia enquanto examinava atentamente o cárdapio como se ele fosse um paciente seu.
-Hm...Que legal. Trabalha em que, Anaí?
Disse Agatha sem parecer muito interessada. Não sei se ela notou que eu era a pessoa na qual ela esbarrou mais cedo.
-Sou jornalista, Da aréa esportiva.
Falei, e forcei um sorrisinho no final, para tentar parecer sociável.
-Hum.
Dessa vez ela olhou pra mim, com raiva, sem duvida ela se lembrou, um silencio tomou conta e me senti bem desconfortável, Flávia murmurava pra si algumas coisas que eu não conseguia entender, Agatha mexia no celular e eu corria os olhos pelo grande salão tomado por mesas, como nós, vários passageiros do vôo estavam matando a fome, meu estômago me lembrou de olhar o cardápio e pedir logo alguma coisa.
Assim que fizemos nosso pedido Flávia se revezava em tagarelar e comer seu macarrão. Agatha respondia as investidas de papo enquanto comia delicada sua comida, notei que ela estava preocupada com alguma coisa, senti vontade de perguntar qual a profissão dela já que Flávia acabara de dizer que ela também estava de mudança pra Paris, mas me contive, tratei de acabar logo meu prato de arroz e um treco de nome complicado, porem bem gostoso.
- Amiga, aquele não é o Capitão do PSG?
Flavia disse com os olhos arregalados pra uma mesa logo atras de Agatha, que por sua vez se virou rapidamente, com um ar de afobação e ansiedade.
- É sim.
Afirmei mais pra mim do que pra ela, mas num tom suficiente pra ela ouvir e logo ficar toda animada. Agatha se virou de volta e continuou comendo como se aquilo não fizesse diferença.
- Não seria bom a gente ir lá dar um oi? Afinal vamos trabalhar com ele Agatha.
- Ta louca? Claro que não.
O volume da voz de Agatha se elevou um pouco mais do que ela queria, fazendo com que seu rosto enrubescesse de leve. Flavia visivelmente desanimada encolheu na cadeira.
Tive muita vontade de ir até a mesa dele e fazer algumas perguntas, pegar meu celular e tirar fotos mas meu foco era outro, meu tempo de paparazzi sem noção já passou. Graças a Deus!
- O que será que ele ta fazendo aqui?
Perguntei tentando arranjar assunto.
- Você não é repórter esportiva? Pergunta pra ele.
- Agatha!
Flavia a reprimiu de maneira mais ríspida do que ela havia feito a pouco. Sem pensar duas vezes Agatha se levantou e foi embora sem dizer nada.
- Anai, desculpa! Ela não costuma ser assim, eu não sei o que é, talvez seja a viajem. Sei lá.
- Tudo bem.
- Mas agora que ela foi embora a gente pode fofocar tranqüila. O que será que ele faz aqui? Ele ta lá sentado sozinho.
- Talvez esteja esperando alguém importante, geralmente jogadores tratam de negocio em hotéis.
- Verdade, você ja conheceu bastante jogadores?
- Pessoalmente não, eu fazia mais entrevistas por video conferencia.
- Entendi, ja teve rolo com algum?
Tossi um pouco meio engasgada, não esperava por aquela pergunta, senti o rosto esquentar.
- Não, sempre levei meu trabalho muito a sério.
- Tudo bem.
Ela disse rindo e piscando um olho, aquilo me incomodou porque eu realmente levava meu trabalho a serio e nunca, nunca, que eu ia confundir as coisas ou me envolver. Terminei de comer e achei melhor voltar pro quarto, me despedi da Flávia mas ela logo se adiantou e me acompanhou.
- Eu vou ver como a velha rabugenta esta.
- Velha?
Perguntei sem pensar muito, meu pensamento estava no relatório que eu passaria pra minha editora mais tarde.
- É, a Agatha.
- A sim.
Nos despedimos e eu fiquei o restante da tarde arrumando tudo pro outro dia, não queria perder tempo e dar a chance da minha chefe querer meu coro antes do tempo.

Linhas CruzadasWhere stories live. Discover now