21 - Aquele em que Roger precisa de alguém;

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"Ok, agora só preciso de uma letra!" Freddie disse depois de martelar o piano incessantemente por o que pareceram horas "Isso vai ficar incrível, meninos, é sério! Quero aquele sentimento de gospel ecoando pelas paredes, iremos pregar para eles, queridos!"

"Pregar? É sério isso?" Perguntei, entediado.

Estávamos o dia inteiro no estúdio e eu ainda não havia conseguido produzir nada que prestasse. Eram os primeiros dias das gravações, no final de julho, faltava apenas alguns dias para o meu aniversário. E não, eu ainda não havia falado com Janis.

"É, meu anjo, pregar. Eu quero uma música que irá falar direto com os corações das pessoas. Como gospel." Ele soava sonhador.

Deacon estava ao meu lado no sofá, com seu baixo, dedilhando qualquer coisa, Brian fazia o mesmo com sua guitarra em um banquinho próximo ao piano. Estávamos todos em um marasmo sem fim, aquele não estava sendo um bom dia, e eu sentia que as minhas más energias eram as culpadas.

Eu estava infestando o local de bad vibes.

Eu sinto falta daquela mulher todos os dias da minha vida! Eu não consigo nem ir a festas e me divertir mais, porque eu simplesmente não quero me relacionar com mais ninguém.

Gente, a coisa tá ficando muito séria.

Muito mais séria do que eu pensei ser possível. Eu estou há dois meses, repito, DOIS MESES (d o i s m e s e s) sem transar. Isso é um recorde na minha vida desde a minha primeira vez, que já foi há muitos anos. E não é como se não houvesse oportunidades, havia de montes, mas eu honestamente não queria. Eu não sentia vontade alguma.

Ok, talvez eu tenha exagerado. Eu fiquei com uma pessoa em um bar há alguns dias, mas foi vergonhoso demais, prefiro fingir que não aconteceu.

Vou contar aqui porque gosto de vocês que leem as minhas desgraças, apesar de me maltratarem tanto. Vocês estão sempre certos. Ando muito bom em gostar de quem não gosta de mim. E melhor ainda em me autodepreciar para desconhecidos.

Enfim, descobri que meus passeios como um cara aleatório acabaram. Eu não posso ir a lugares comuns sem ser reconhecido e abordado por algum fã, ou vários. Mas eu ainda não sabia disso naquela noite em que eu decidi passear em um barzinho só para encher a cara em paz e voltar caindo para casa. Naquele dia, fui abordado por essa garota que sabia meu nome completo, minha data de nascimento, minha cor favorita, minha comida favorita, e era, resumidamente insuportável.

Linda, mas insuportável.

Talvez eu fosse um ingrato porque, afinal, era uma fã, mas... cara, eu não tenho paciência não! Não estou mais disposto a me esfregar com groupies pelos cantos. Eu estou ridiculamente apaixonado.

Bem, como eu ia dizendo: linda, mas insuportável. Porque ela claramente queria muito ficar comigo, e tudo que eu queria era ficar sozinho. Mas, como eu estava estupidamente bêbado e ela tremendamente disposta a me levar pro banheiro mais próximo, eu acabei cedendo depois de algumas doses.

Entretanto, as coisas começaram a dar errado quando estávamos no famigerado banheiro – na verdade, começou a dar errado quando eu decidi sair e casa naquele dia, mas tudo bem –, a porta trancada, ela me beijando contra a divisória das cabines. Primeiro que eu comecei a pensar na Janis e na merda que eu estava fazendo naquele momento; segundo, a menina não parava de pedir pra gente foder logo e, quando eu pedi que me deixasse encontrar a camisinha na carteira, ela disse um 'eu não ligo, vamos sem, por favor', aí eu fiquei com medo porque deus me livre e guarde de fazer filhos numa estranha ou pegar qualquer doença, e aquilo pareceu realmente mal intencionado da parte dela; terceiro, eu já estava num loop de pensamentos obsessivos sobre a Janis e a possível gravidez que eu... bem, eu brochei. É isso.

Vicious | Roger TaylorWhere stories live. Discover now