22 - Aquele em que Roger faz 27 anos;

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"Não!" Bati na mesa de centro ao me levantar e encarar Freddie Mercury com um de meus olhares certeiros. Não haveria festa de aniversário. Simples.

"Mas, Roger, é você o cara que ama festas!" Ele insistiu. "E além do mais, vinte e sete é um número importante."

"Caguei pra porra do número vinte e sete!" Gritei. Eu estava ridiculamente exaltado.

Eu não queria uma festa de aniversário, não queria comemorar coisa alguma.

"Você não é assim", Freddie tinha o tom da voz baixo, calmo e suave, como sempre que a gente brigava. Ele sempre mantinha a classe e eu descia do salto. Ele sentado na poltrona chique, vestindo seu robe de seda na sua casa nova caríssima, bebendo chá.

"Do que você está falando?" Eu agora estava em pé diante dele, que nem mesmo se dava o trabalho de me encarar de volta.

"Que você está assim desde que alucinou que viu a Janis na festinha, no outro dia.", o vi sorrir antes de beber mais um gole do seu chá.

"Eu não alucinei! Eu a vi! Ela estava lá!" Meu rosto começou a aquecer e eu sabia que provavelmente estava vermelho escarlate à esta altura.

"E eu não acredito, meu querido!" ele deixou a xícara sobre o pires ao lado da poltrona e levantou para ficar de frente para mim, afagando meu braço "Você devia falar com ela."

"Você não devia se meter nisso!" Afastei sua mão de mim e me virei para ir embora.

"Só quero o seu bem."

"Não, você não quer nada." Saí batendo a porta atrás de mim e o deixei sozinho.

Não sei qual a dificuldade de simplesmente acreditar no que digo. Eu vi Janis naquele dia. Precisava ter visto. Não aceitaria o fato de eu realmente ter enlouquecido ao ponto de não poder confiar nos meus próprios olhos.

No carro, suspirei profundamente, fechando os olhos na tentativa de recapitular o que vi naquela noite. Era claro como o dia. Mas, confesso que de tanto o Freddie falar, eu estava começando a duvidar de mim mesmo... será que posso ter alucinado e aquilo apenas aconteceu na minha cabeça? Eu estava bêbado, mas ainda assim... estaria o meu julgamento tão prejudicado por tantas noites mal dormidas, o álcool e a profunda tristeza?

Eu sabia que precisava falar com Janis, independente de aquilo ser real ou não. E sabia também que Freddie estava querendo dar uma festa de aniversário pra mim porque assim ele a convidaria e eu seria obrigado a interagir com ela. Mas não podia ser assim. Depois de tanto tempo, ela merecia algo melhor que um convite indireto para uma festa. Além do mais, ela nem gosta de festas.

Quando Freddie se mudou, eu fiz o mesmo. Agora eu morava em um apartamento no Belgravia, um bairro chique demais entre o Kesington e o Westminster. Era a cobertura de um dos prédios mais altos de lá, tinha uma piscina, banheira com hidromassagem e uma série de coisas legais desse tipo. Tinha uma vista incrível também, de um lado eu podia ver o Buckingham Palace e os lindos jardins planejados do bairro, de outro, as ruas simétricas e nostálgicas do Kesington, o Imperial College mais ao longe, o Hyde Park. Era lindo. E ainda mais lindo nas noites de primavera, com o céu estrelado.

Não tive muito trabalho com a mudança pois comprei tudo novo. Levei apenas itens pessoais e alguns discos e livros.

Chegando em meu novo lar, me servi de Southern Comfort e acendi um cigarro. Amanhã, na terça-feira, 26 de julho, seria o fatídico aniversário. Era inevitável não lembrar do dia do aniversário dela, e como foi incrível fazer nada realmente 'especial' ou grandioso, e ainda assim ter sido absolutamente perfeito. O meu certamente seria diferente, primeiramente porque eu estaria trabalhando. Seria apenas um dia normal no estúdio. Só isso.

Vicious | Roger TaylorWhere stories live. Discover now