carta silenciosa.

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          Oi. Tudo bem por aí? Espero que sim... Por aqui se eu te falar que estou bem, estarei mentindo, mas vamos indo. Ultimamente tenho andado desanimada, tudo me deixa triste e parece que todo mundo foi embora. E foi.

          Por isso, e apesar de tudo isso, te escrevo.

          Te escrevo porque sei que não vais ler.

          Te escrevo como uma forma de desabafo, porque lembro que me falavas que estavas aqui pra mim e pra me ouvir.

          Te escrevo porque não posso mais te falar tudo. Não me sinto na liberdade de chegar e despejar todos os meus problemas pra ti, como eu fazia antes, pois tudo acaba sendo um problema a mais.

          Te escrevo porque contigo eu consegui me sentir livre. E foi a melhor experiência que eu tive. Hoje estou de volta à "prisão" de guardar tudo o que eu tinha a falar e aguentar toda a dor no osso do peito, pois já não és considerado parte de mim. Mas tu ainda és. Só não sabe disso.

          Te escrevo porque ainda te sinto aqui dentro. Além disso, não sei se um dia vais embora daqui. E digo isso porque ainda me considero parte tua. Mesmo não sendo nada.

          Te escrevo porque aqui dentro ainda existe aquela necessidade de cuidar de ti; de saber se estás bem; de saber quando sais e entras em casa; de saber dos teus medos e receios; de saber o que ainda sou pra ti; se ainda tens a certeza de que podes contar comigo...

          Quebrei a cara, passei a desacreditar no amor e te escrevo por isso.

          Eu te escrevo porque és maduro, decidido e estás seguindo tua vida e eu, na minha falta de maturidade, firmeza e ajuda interior, vejo que a minha parece que estacionou onde a história que tínhamos foi forçada a ter um fim.

          Te escrevo para te dizer que por aqui o tempo anda se arrastando. E parece que só aumenta a contagem regressiva infinita para voltarmos a ser um.

          A vida parou, o tempo não corre mais e te escrevo porque sinto a tua falta.

          Sim, te escrevo porque tenho saudades. Tenho saudades da tua preocupação, da importância e da prioridade que davas pra mim, de como te sentias à vontade para falar sobre qualquer coisa comigo, da maneira como o meu mal estar te afetava, do jeito que me tratavas logo quando nos conhecemos.

          Te escrevo porque ainda sinto saudades do teu ciúme, do sentimento que tinhas de que eu era tua, do modo como dizias que eu era tua. Era... Dói dizer isso. Mas ainda sou tua.

          Hoje faz um mês e dois dias que não te vejo e te escrevo porque ainda tenho saudades de te ver aos finais de semana, de passar os domingos na tua casa, de chorar te dando tchau na rodoviária mesmo sabendo que ia te ver ao chegar o próximo final de semana. Hoje choro porque não te vejo mais.

          E te escrevo porque tenho medo de esquecer do teu rosto, do jeito como me olhavas, do poder que tinhas de fazer todo mundo parecer insuficiente e todo o tempo do mundo parecer pouco ao teu lado. Tenho medo de esquecer tua voz dizendo que me amavas, de esquecer da sensação boa que eu sentia quando escoravas tua cabeça no meu ombro ou quando minhas pernas serviam de almofadas para as tuas...

          Te escrevo porque me atormenta o medo de um dia não lembrar mais dos teus olhos sobre os meus, do gosto dos teus beijos lentos e quentes ou de perder a sensação que eu tinha como se estivesse abraçando o mundo ou simplesmente de estar em casa quando eu estava contigo. Porque tu eras o meu mundo. Hoje posso te ter como meu mundo em lembranças boas...

          E te escrevo porque ainda tenho muitas expectativas sobre ti.

          Tenho expectativas de um dia receber uma ligação inesperada tua só pra dizer que ainda me amas e que, por mais que procures em todo canto, ninguém no mundo consegue ocupar o meu lugar.

          Aproveito e te escrevo pra te dizer que ainda te amo e o meu sonho é que um dia me entendas. Tenho medo que encontres alguém melhor que eu.

          Te escrevo para informar-te de que, por mais que eu ame outra pessoa, tu ocupas uma parte considerável do meu coração por teres vivido comigo uma parte linda da minha história e ninguém vai conseguir apagar isso.

          Ainda te sinto em todos os cheiros, te sinto na tranquilidade, te sinto em meio ao caos, te ouço em todas as músicas, te leio em cada livro e te escrevo para te dizer que és o motivo de cada poesia que faço.

          Te escrevo porque, até então, eu tinha certeza de que eras a minha pessoa no mundo. Hoje posso dizer com segurança que eu vivi, sim, o amor da minha vida.

          E te escrevo porque tenho medo que vá embora a segurança de que vivestes o amor da tua.

          Mas, além de tudo isso, te escrevo porque te ainda te vejo em todo o lugar.

dores&amoresWhere stories live. Discover now