XXIII. Uma Estranha

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Quando Athena conseguiu finalmente recuperar a consciência, o simples ato de respirar fazia com que todo o seu corpo doesse. Sentiu uma claridade incomum alcançar os olhos e pensou que estava de volta à tenda do acampamento, em que a luz do sol invadia as lonas com bastante facilidade, apenas para acordar os recrutas cedo o suficiente. Aquele pensamento logo sumiu de sua mente quando sentiu o colchão confortável em que estava deitada, grande demais para caber numa cama tão pequena, e então, a mente finalmente começou a raciocinar tudo o que acontecera para que ela acordasse num lugar totalmente desconhecido.

As imagens surgiram em sua mente como uma pedra caindo de um lugar muito alto. Abriu os olhos de vez, levantando-se com pressa e sentindo a dor se espalhar rapidamente pelo ombro e pelo resto do corpo. Ela soltou um gemido de dor ao lembrar-se da cena aterrorizante da batalha, de todos os corpos e sangue, e principalmente daquela espada fincando em seu peito.

– Acalme-se, minha jovem. Se fizer movimentos bruscos assim, seu ferimento não vai melhorar.

A voz feminina e melodiosa fez com que ela voltasse o olhar imediatamente para o lado de onde estava deitada. Os olhos verdes e alarmados pousaram sobre a imagem de uma bela mulher dentro de um bonito vestido branco de tecidos finos, com detalhes em dourado combinando com os cabelos longos e loiros, cacheados, presos num meio coque baixo, lateral, alguns fios soltos caindo por sobre o ombro e alcançando a cintura dela com facilidade.

– E-Eu... – Athena olhou ao redor imediatamente, notando um quarto muito grande e bem iluminado, uma janela aberta que ia do chão até quase o teto alto, coberta apenas com cortinas de seda branca que voavam ao som da brisa. Não havia som de batalha vindo do lado de fora. Não fazia ideia de onde estava, mas era um lugar extremamente elegante e a cama em que estava era grande, confortável e com tecidos finíssimos. Puxou o cobertor para cima do corpo ao notar que os seios estavam em bastante evidência, embora enfaixados com uma marca vermelha de sangue na faixa um pouco acima do seio esquerdo. Os próprios cabelos também caíam sobre os ombros, em ondas mais curtas do que os da mulher sentada ao seu lado. Voltou o olhar para ela, notando finalmente uma peculiar tiara dourada que estava adornando os cabelos dourados. – A... guerra... eu estava na guerra...

– Pois é, você estava. – ela sorriu gentil. – Era para estar?

– Eu...? Bom... eu... – ela engoliu em seco, sem saber quem era a mulher e sem saber exatamente o que falar. Puxou o lençol mais para cima do corpo, a dor ainda incômoda no ombro. – Eu acho que era...

– Meu filho disse que foi se alistar no recrutamento para salvar seu irmão da guerra. – ela comentou, ainda sorrindo tranquila, seu tom de voz era de longe repreensivo. – É verdade?

– Erh... sim. – ela suspirou resignada, voltando o olhar constrangido para a mulher, ainda sem saber quem ela era e por que estava lhe fazendo companhia. Ou melhor, onde estavam. – O que aconteceu? Eu estava mesmo na guerra, não estava? O que aconteceu com o Reino? E o Ra– er, o comandante? Ele está bem? Estão todos bem? Ai, Deus! A Ilithia...!

– Não precisa se preocupar. – a mulher ressaltou, estendendo os braços na direção dos ombros dela e fazendo-a deitar-se. – A guerra acabou, não se preocupe. Todos estão bem, na medida do possível. E sua amiga também está bem, estava recebendo tratamento pelos ferimentos, logo deve vir visitá-la.

– Ainda bem... é culpa minha que ela se machucou tanto, nem devia ter ido pra o alistamento. – disse Athena, deitando-se, mais tranquila, passando a mão no rosto.

– Ela me parece uma ótima amiga, afinal... estava tentando cuidar de você, não era? – disse a mulher.

– Sim, não sei o que teria feito sem ela. – Athena concordou, virando o rosto para a mulher. – Desculpe, mas... onde estamos? Eu não conheço esse lugar... a senhora é...?

A Tough Choice [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora