XXIV. Uma Conversa

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Ilithia estava tão distraída entre os próprios pensamentos que só despertou deles quando estava num corredor totalmente desconhecido. Olhou ao redor, havia tapeçarias nas paredes, algumas armaduras enfeitando os cantos e uma janela enorme aberta, com cortinas vermelhas de seda abertas também, dançando ao som do vento. Ela se aproximou das cortinas para olhar lá fora... a janela dava para a capital, e estava bastante alto naquela torre. O corredor estava vazio, e ela se pegou olhando para o horizonte e a grande cidade por um longo tempo. Apoiou a mão livre no batente da janela, fechando os olhos para sentir a brisa suave nos cabelos curtos. Levantou a mão para passar pelos cabelos, sorrindo melancólica ao imaginar quanto tempo demoraria para que os fios crescessem de novo e ela parecesse uma mulher novamente. Deixou uma risada conformada escapar.

– Alguma coisa engraçada?

A voz conhecida fez com que ela se virasse rapidamente, alarmada, como se ainda estivesse na guerra e algum inimigo tivesse se aproximado demais enquanto estava desavisada. Suspirou mais tranquila quando viu Cáel parado a apenas alguns passos dela.

– Desculpe, te assustei? – ele se aproximou mais, apoiando uma das mãos no batente da janela também, ficando de frente para ela.

Ilithia continuava com a mão na nuca, os dedos enrolando nos cabelos curtos, e sorriu de volta.

– Não, não se preocupe. Acho que o treinamento me deixou muito mais atenta aos sons ao redor. – disse ela. – Estava pensando que vai demorar até meu cabelo voltar a parecer feminino. Agora que tudo passou, estou começando a sentir falta dos fios longos.

– Você fica bem de cabelo curto. – ele disse, gentil, olhando para a cidade também. – E a guerra e o acampamento acabaram, antes que perceba, seu cabelo vai estar longo de novo.

– É, isso se o Rei não decidir que vai nos prender ou mandar cortar nossa cabeça.

– Ele é um pouco severo, mas não chega a tanto. – disse Cáel. – Não se preocupe, vocês se saíram muito bem. Qualquer um que não as elogiasse teria sérios problemas.

Ele levantou a mão até o rosto dela, tocando a bochecha onde havia uns arranhões. Passou o polegar pelos ferimentos de leve, enquanto ela fechou os olhos para sentir o toque. Ele levantou a mão até que os dedos tocassem na faixa na testa dela, aproximando-se um passo discretamente.

– Você se machucou bastante. Está se sentindo bem? – perguntou, baixando os dedos pela testa dela até o queixo, acariciando-o com o polegar. – Desculpe, não devia ter ido à guerra, eu devia ter chegado antes.

– Não precisa se desculpar. No fim das contas, eu era um recruta. – respondeu Ilithia, levantando a mão para segurar a dele, abaixando os olhos para encarar a mão dele. – Você não devia se preocupar demais com um simples recruta, é o que fazemos, vamos à guerra e morr-

– Não. – ele levantou a mão até os lábios dela, impedindo-a de completar a frase. – Você não vai à guerra e morre, e nem é um simples recruta. Eu estava realmente preocupado, Ilithia, por um momento achei que fosse mesmo morrer.

Ele abaixou a cabeça, curvando-se o suficiente para que a testa encostasse à dela, e Ilithia começou a sentir a respiração dele perto demais. A mão dele escorregou pelo seu rosto até sua nuca, e ela sentiu o coração acelerar mais que o necessário, os pensamentos se confundindo de novo em sua mente, principalmente sobre ele ser um príncipe.

– Eu não morreria tão fácil. – disse ela.

– Ilithia, eu... – ele aproximou o rosto, a mão em torno de sua nuca mais firme, os lábios quase se tocando, quando ela abriu os olhos e levantou a mão, encostando-a no peito dele e afastando-o de uma vez.

A Tough Choice [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora