Quase meia noite. Sem fazer barulho, ele fecha a porta ao entrar no apartamento. Observa a cozinha vazia, apenas uma das luzes acesa e com dois passos chega a sala. Emerson estava lá sentado, lendo um livro ainda com o uniforme do serviço e a televisão ligada.
— Oi... — Danilo cumprimenta.
— Oi amô. — Responde o Emerson, mal tirando o rosto do livro.
Danilo suspira pensativo, a aparência cansada. Os processos que teve de resolver desde a semana passada o deixaram exausto, pois, ainda faltava muita papelada para preparar antes do julgamento. Os clientes demoravam a trazer o que era preciso para o andamento do próprio caso. Danilo é advogado em um escritório de certo renome deixado pelo seu pai, e devido a isso, possui um nome a zelar e muitos clientes a atender.
Abrindo as panelas, encontra apenas duas sujas e uma vazia. Franze a sobrancelha. Seu estresse se acentua. Ao se virar percebe na mesa duas bandejas de marmitex, com yakissoba ainda quente. O cenho desce ainda mais.
— Então Emme, novamente comprou comida...?
— Sim. — Responde seco. Fecha o livro e vai até a cozinha. Trocam um selinho. Senta-se pra comer.
Danilo não quis se sentar, olhando para algum ponto na parede, pensativo. Servindo-se em pratos decorados, Emerson começa a se servir sob a mesa na bonita cozinha construída pelos dois.
Eles estão casados há nove anos e alguns meses; Bastante tempo para que o silêncio se instale como algo normal. Danilo verifica o celular, em um aplicativo bancário. Minutos se passam e o semblante de uma pessoa irada toma conta do rosto do Danilo instantaneamente, sua mão fecha-se em punho e recosta na mesa, numa tentativa de se acalmar.
— Por que todos os dias você está comprando comida?
Emerson engole antes de responder:
— Ai Dan, eu estou chegando tão cansado ultimamente pra ainda ter de fazer comida. Você sabe que tô cobrindo as férias de uma das meninas na recepção.
— Certo, mas... — Ele respira fundo — Por que você tá pegando dinheiro da nossa conta bancária?
— De onde mais eu tiraria? E também porque a comida não é só pra mim.
— Então você vem comprando comida toda semana com o dinheiro da nossa conta conjunta? É isso? – Sua voz já subiu um tom.
— Sim... – Responde estranhando.
— E quanto ao que tínhamos planejado, Emerson? Esse dinheiro era pra nossa viagem no final do ano. Nossas férias foram programas, depois de quase três anos sem a gente viajar, e você tá gastando o dinheiro que eu deposito com comida?!
— Alto lá! O dinheiro que eu também deposito todo mês. E por que você está falando comigo assim?
— Como você queria que eu ficasse? — Danilo quase gritando.
— Não sei, mas...
— Você não sabe?! — Danilo grita finalmente, perdendo a paciência. — Esse dinheiro não era pra ser mexido até o final do ano, esqueceu? Ou você é idiota? A gente faz compra todos os meses, as coisas estragam no armário e você aí comprando comida pronta!
Emerson entende aquilo como uma grande falta de respeito e sentia que o companheiro estava, mais uma vez, engrandecendo-se.
— Você acha então o quê? Eu é que devo chegar do serviço e ainda fazer janta pra você todos os dias? Eu também fico cansado e também me estresse, sabia?
— Você trabalha sentado, meo! — Interrompe Danilo aos berros.
— Independente! — Emerson aumenta o tom também. — Você também trabalha sentado e eu trabalho o mesmo tempo que você. E quanto ao que tínhamos combinado quando nos casamos?
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Sob as Cores do Íris
Short StoryContos Homoeróticos. Histórias de amores perdidos e ilusões encontradas, romances insólitos, violências e aventuras sexuais perigosas, os causos aqui narrados dispõem de teor sexual explícito, mas nem por isso puramente carnal e fazem parte de uma...