Claro, Sr. Traficante

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Este conto, de certa forma, desmistifica uma frase filosófica e misógina que diz que "na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem."

Beto não sabia por quanto tempo ainda permaneceria naquele ramo de negócios: o das drogas. Mas, para ele naquele exato momento, era ótimo, pois assim ele ia seguindo sua vida sem as preocupações e responsabilidades dos "zé povinho", como costuma chamar os trabalhadores assalariados. Não se incomodava que lhe faltasse um dente, mas se incomodava quando, na maioria das vezes, não conseguia sexo — e principalmente afeto, por livre e espontânea vontade da mulher. Sempre rolava alguma troca, que hoje ele já entendia como equivalente.

***

Chegaram segundos depois que Beto tirou a mão de dentro da cueca. A noite estava escura demais, sem uma estrela no céu.

— Que vai hoje? — Falou de supetão saindo beco.

— Ahi! que susto seu, idiota! — disse Nanda, quase dando um tapinha no menino, mas hesitou a tempo. — Ah, é você Betinho...

— Beto. Só. — Retrucou ele levantando gravemente a sobrancelha.

— Ooopa, desculpa. — Ela debochou com uma risadinha boba, aproveitando-se de certa segurança por ser travesti há uns dois anos.

— Que que vai ser? — indagou o Beto, desta vez lançando um olhar desconfiado para o rapaz acompanhando a Nanda.

— Duas paranga e três pós — disse Nanda animada e mostrando-lhe o dinheiro.

— Chega aí... — Beto chamou com a mão, entrando no caminho estreito e escuro. Aquilo só era um "beco" por causa da copa alta das árvores de um dos lados. Ficava no fim de uma rua, com casas de um único lado e matos do outro, e ela ia se estreitando até àquele beco, bem no final, que hospedava ainda um casebre humilde de alvenaria, meio escondida.

Antes de chegarem até ela, Beto os parou, do nada, com da mão. Havia ali uma cadeira gasta jogada. Eles só enxergaram por conta da iluminação do poste que era forte, mas ainda assim, a penumbra imperava.

Parados ali, Nanda e Bruno esperaram alguns minutos o retorno do Beto. 

— Sabe quem ele é? — Nanda cochichou. — O dono da porra toda! — deu uma risada sarcástica — Sério! E eu já ouvi boatos que... Não deixa pra lá 

— Muito bom saber disso, Nanda. — Ironizou Bruno, mal respirando de tanto nervoso. — Eu nem queria vir e agora tamo aqui, num beco esperando o dono do lugar. Que Saco! 

— Ah sim, mas você também vai usufruir, não é "bunitona"? Então fica quieta, aqui não vai demorar muito, só uns minutinhos apenas e...

— Tá certo, tá certo, mas cê já sabe que, se eu me foder, todo mundo se fode junto. — Ele morria medo de ser pego pela polícia numa situação daquelas. 

Beto retornou, logo dizendo:

— E aê Nanda, ainda tá fazendo aqueles favorzinhos lá? — Riu safadamente enquanto pegava nos seios dela. Bruno estranhou, mas nada disse. Notou que faltava um dente da frente no sorriso do traficante, mas isso dava a ele um atraente ar de cafajeste. Seu medo ia aumentando, e deu até para o Beto perceber de onde estava, e indagou baixinho, ainda com uma mão no peito da Nanda e outra já entrando em sua bermuda:

— Ele é flor também? — Seu olhar era miúdo.

— Claro que é querido... E você tá querendo qual favor hoje? — Nanda disse manhosa. — Trouxe minha droga, né? — mudou o tom bruscamente sorrindo.

— Deu quarenta conto, gatinha — Ele disse, mas não a entregou. Seu cabelo cor de areia dava para ver pouco na escuridão, ao contrário do cabelo do Bruno, que era preto da cor da noite. — Então, assim... Tô afim de uma boa mamada, tá ligado? Esse “favorzin” seria dahora… — ele pausou, enquanto amaciava seu pau por dentro da bermuda, lançou um olhar rápido para o Bruno e continuou — ...ainda mais com duas boquinhas aqui, assim... Disponível... 

Sob as Cores do ÍrisWhere stories live. Discover now