Ódio

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Quando já parecia terrível demais, tudo ainda podia piorar, e ele foi jogado com agressividade no meio da estrada. Empurrado aos chutes do carro em meio aos xingamentos; ele mal se levantou do chão áspero e o carro acelerou, jogando fumaça do carburador na cara dele, com os bandidos lá dentro.

Desolado, Max tirou a venda dos olhos e viu eles irem longe com seu adorado EcoSport laranja. O sol das três da tarde começara a arder em suas costas. Respirava fundo, o cenho franzido, tentando não chorar de tanta raiva e se conformar com a perda do carro, dos documentos, do celular e da grana que tinha nele. Por sorte, tinha um cartão de crédito quase sem limite no bolso da frente da calça jeans, esquecido de colocar na carteira depois do almoço da firma.

Tirou a camisa social suja e molhada de suor. Por baixo, a regata que usava deixava a mostra os braços e músculos brancos e algumas tatuagens tribais, dando-lhe um certo contraste. A careca, com alguns fios grossos já nascendo, tinha suor escorrendo por toda parte, deixando Max ainda mais irritado.

Só lhe restava caminhar e crer que a cidade de São Carlos não estivesse tão longe. Demorou bons minutos para acalmar os nervos e o coração acelerado depois do susto. O sol continuava forte. Pedir carona não lhe parecia muito viável, tanto porque havia poucos carros passando naquela tarde, quanto pelo fato de que ele não dava carona à ninguém; então, por que alguém daria carona à ele?

Continuou carregando seu orgulho e caminhando. 

Depois de quase uma hora e meia de caminhada, Max decidiu estender o braço, mostrando a mão de qualquer jeito, pedindo carona. Quem sabe alguém o atendia; e refletiu consigo mesmo que, quem pedia carona, era só porque não tinha mais nada a perder. 

Os caminhões não pararam; os ônibus muito menos; os carros com mais de uma pessoa dentro também não pararam. De repente, duas mulheres em um caminhonete diminuíram a velocidade, olhando pela janela enquanto passava, porém seguiu reto, acelerando. Provavelmente não gostaram da cara de mal-encarado do Max. Ou seria por causa de sua tatuagem “Max H8” num dos antebraços?

Berrou de nervoso, xingou vários nomes obscenos sozinho para todos que passavam e não lhe davam carona. Mais furioso do que nunca com toda a situação, ele pediu carona uma última vez e um carro passou por ele olhando, porém alguns metros à frente parou no acostamento. Ele olhou para trás e sem pestanejar foi correndo até o carro.

— Oi... Muito obrigado por parar... — Foi dizendo meio ofegante, mas logo interrompeu-se, quando notou o trejeito do rapaz moreno bronzeado ao mexer em seus cabelos longos amarrados num coque alto.

— Aconteceu alguma coisa com você? — Perguntou o rapaz motorista. Sua voz era gentil. Max não gostou nada daquilo.

— Na verdade, aconteceu. Aconteceu tudo quanto é merda comigo hoje. Eu fui assaltado, tipo... Foi um sequestro relâmpago, me roubaram, me vendaram e me jogaram aqui na estrada. 

— Caramba! — O rapaz tampou a boca, abismado com a história. — Se quiser carona… eu tô indo para São Carlos. — Aguardou a resposta. Agora o rapaz olhava desconfiado para aquele cara forte, com a pele vermelha do sol, rosto carrancudo e tatuagens indecifráveis.

— Tá... Pode ser. De lá eu volto para São Paulo.

— Ah, eu vou voltar para São Paulo também, só que mais tarde… — Ele comentou com certo receio. 

Max entrou no carro do rapaz, desconfiando de que aquele cara poderia ser gay mas, não estava aguentando mais o calor. O carro, um Honda Civic, era confortável e tinha um cheiro agradável. Seguiram pela estrada.

— E qual é o seu nome? — Quebrou o gelo uns trezentos metros depois.

— Max. Pode me chamar de Max. — Respondeu, olhando para a janela. — E o seu?

Sob as Cores do ÍrisOnde histórias criam vida. Descubra agora