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Ethan

Sinto a água gelada apartar o cansaço da minha mente. Não há nada como um bom banho gelado.

Missile começa a tocar pelo rádio embutido no chuveiro, via bluetooth, foi meu dinheiro mais bem gasto.

Saio do banheiro com a toalha amarrada na cintura. A farda já está estendida sobre a cama, Anne deve ter a deixado ali enquanto eu me banhava.

Já arrumado, guardo a arma no coldre e saio do quarto.
Encontro Anne na cozinha, terminando de colocar a mesa do café.

- Bom dia Ethan. - Me sento em uma das cadeiras e sorrio para Anne, que se senta ao meu lado.

Anne é minha empregada há exatos dez anos e foi minha babá quando eu era criança. Já é uma senhora de cinquenta anos. Já tentei convencê-la a parar de trabalhar e se aposentar, mas ela se recusa a me deixar, é como uma mãe para mim.

Devido sua idade, tudo que peço para ela fazer é a comida que eu amo. Tenho outros empregados para os demais serviços.

- O senhor Denova ligou. - sua voz ressona com pesar.

Quando Jeremy Denova liga, nunca é coisa boa.

- Ele falou sobre o motivo da ligação? - Ela apenas nega com a cabeça.

Droga.

- Outra missão? - Ela me olha tristonha. Seguro sua mão que descansa sobre a mesa.

- Vai ficar tudo bem, não deve ser nada. - Anne retira sua mão de baixo da minha com rapidez e me olha com raiva.

- Nós sabemos que não vai ficar tudo bem, a última vez que você saiu para uma dessas guerras, voltou todo furado de bala - Reviro os olhos.

- Foram apenas três tiros, não virei uma peneira. - Tento fazê-la rir, mas falho.

- Isso não tem graça Ethan, eu não criei você para vê-lo morrer antes de mim. - Suspiro.

Seguro em seu braço, levando-a para meu peito.

- Eu sempre volto, sempre. - Beijo sua testa.

......

Ando em passos apressados pelos corredores do quartel até chegar à sala de Jeremy. Bato na porta e ouço um "entre".

- Senhor Ross, sente-se por favor. - Me sento em sua frente. Uma mesa de madeira cheia de papéis nos separa.

- Qual a emergência que o fez ligar para minha casa? - Vou logo ao ponto.

- Preciso dos seus serviços para mais uma missão.

Olho dentro dos olhos de Jeremy imaginando a melhor forma de o estrangular sem deixar rastros que poderiam me incriminar. Eu falharia com certeza, não sou muito delicado.

- Eu sei que está com raiva, sei que não faz muito tempo que voltou da Síria, mas...

- NÃO, NÃO FAZ MUITO TEMPO - Perco o controle - Existem outros capitães nessa base que podem assumir esse compromisso, eu estou fora.
Jeremy respira fundo e junta suas mãos sobre a mesa.

- Não, não existe. - Ele me encara - Não um como você. - Reviro os olhos. - Ethan, você é o melhor. Seu último pelotão voltou vivo, todos vivos. Eles te respeitam, é um ótimo líder.

- Não dá, eu ainda tenho pesadelos com essa merda, preciso de mais tempo, porra.

- Não temos mais tempo. - Jeremy pega um dos papéis e estende na minha direção. Pego. - Será sua última missão, poderá se aposentar se essa missão for bem-sucedida. -Junto as sobrancelhas.

- Só poderei me aposentar com trinta e sete. - Olho para ele. - E mesmo assim, não quero, pretendo chegar à General.

- Sim, ainda teria mais dois anos aqui. Mas você participou de muitas guerras, talvez mais do que o recomendado. Ethan, eu não estaria pedindo isso se não fosse de extrema necessidade. - Respiro pesadamente. Droga.

- Quando? - Digo em rendição. Ele sorri aliviado.

- Daqui a três dias serão, mandados para Faixa de Gaza. - Aperto os olhos com força. É por isso, claro.
- Gaza - Repito grunhindo. - Sabe que dificilmente vou trazer todos vivos, talvez nem eu volte dessa.

- Eu sei, mas também sei que você é capaz Ethan. - Faço um sinal para que ele continue - Irá com um pelotão de oitenta soldados. Ficarão em um bunker americano em Beersheba por dois dias, os soldados serão treinados para uma missão de resgate. Irão para Gaza e preciso que resgatem o máximo de vidas que conseguirem, assim que a noite cair, serão colocados em um bunker idêntico ao de Beersheba, porém bem mais perto da Faixa de Gaza. O tempo da missão é indeterminado.

- Os soldados israelenses estarão presentes?

- Apenas alguns, irão ajuda-los a treinar as táticas de resgate, primeiros socorros e tudo mais.

- Então não irá haver confronto? - Tento não soar esperançoso.

- Pode haver, não sabemos o que os palestinos podem fazer, então, é preciso que estejam preparados para tudo.

- Está com a ficha dos soldados? - Ele abre uma das gavetas de sua mesa e me entrega uma pasta fina.

Abro e retiro de dentro as fichas com todos os soldados do meu pelotão. Vejo um por um, reconheço alguns. Meus olhos param no rosto de uma menina. O que?

- Por que colocaram uma mulher no meu pelotão? - Jeremy aperta os lábios e sorri.

- Tenente Emily Mitchell, é médica militar, como é uma missão de resgate, achamos necessário. Também é ótima fuzileira. Será bastante útil.

- Ela ficará em um bunker com setenta e nove homens? Por tempo indeterminado? - Encaro ele com recriminação.

- Ela terá um quarto próprio, com banheiro próprio. Não terá sua privacidade invadida, assim espero. - Mordo o canto interno da bochecha

- Quantos anos ela tem?

- Vinte e sete. Ethan, terá que ter cuidado com ela, a volta dela com vida é inegociável.

- Qual a diferença dela para os outros soldados? - Jogo a pasta sobre à mesa.

- A diferença é que o padrasto dela é o ministro da defesa.

- COMO VOCÊS JOGAM ESSA RESPONSABILIDADE PARA CIMA DE MIM? - Me levanto indignado. - Essa garota nem deveria estar aqui primeiramente.

- Acontece que ela está aqui desde os dezessete anos de idade, é uma excelente militar e já fez várias missões humanitárias em diversos países. Agora irá com o seu pelotão para Israel, e será sua responsabilidade trazer essa garota inteira e respirando, estamos conversados? - Droga. Porra.

Apoio meu corpo sobre a mesa de Jeremy e paro bem perto de seu rosto. Ele se afasta receoso.

- Ela pode ser até filha do presidente - falo baixo - Ela não é mais importante do que nenhum dos outros homens, o que eu farei para mantê-la viva, farei pelos outros.
Me afasto e caminho em direção a porta, giro a maçaneta e abro uma fresta. Olho para Jeremy.

- Reúna os soldados que irão na missão, quero todos amanhã às seis horas da manhã em ponto no pátio. - Termino de abrir a porta e saio.

Amor De GuerraWhere stories live. Discover now