24 ( Final )

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1 ano depois.

Ethan Ross

- Pai, eu não consigo, é difícil. - Harry joga o lápis na mesa e me encara com os braços cruzados.

Respirando fundo, imito seu gesto e dou de ombros.

- Sua mãe vai ficar chateada. Prometeu a ela que faria isso. Vai mesmo magoar ela?

Apelo para chantagem emocional. Sei que isso não é correto, mas descobri que Harry não é tão flor que se cheire como todos pensam. O moleque fez a mesma coisa comigo há duas semanas.

- Mas, ela vai entender que não sou capaz de fazer isso e vai respeitar minhas limitações.

- Para alguém dá sua idade ter um linguajar tão rebuscado, isso aí é bem fácil para você. - Aproximo meu rosto do de Harry, o encarando dentro dos olhos - Está com preguiça - Acuso sussurrando.

- Retire o que disse. - Ele responde no mesmo tom, evidentemente revoltado com a acusação.

Harry é uma criança esforçada e incrivelmente inteligente, às vezes fico preocupado por suas preferências. Nessa idade, eu jogava bola e vídeo game, mas ele me pediu um livro sobre a história da América em seu aniversário. O acusar de preguiçoso é quase a mesma coisa de o acusar de algum delito.

- Assuma - Provoco.

- Jamais! - Ele diz exaltado. Seguro o riso e permaneço sério.

Um grunhido interrompe nossa pequena disputa de quem desvia o olhar primeiro.
Olho na direção do barulho e é Emily. Está escorada no batente da porta, seus braços estão cruzados sobre o peito e escorados na barriga saliente da gravidez. Nos encara com curiosidade.

- Estavam discutindo de novo?

Harry me olha e sorri malicioso. Aperto os olhos e ergo uma das sobrancelhas.
O que esse garoto vai fazer?

- Mãe, o papai comeu o pedaço da torta de chocolate que guardou ontem.

Não... acredito... nisso.

Eu estava sozinho ontem. Como esse pestinha sabe?

Volto o olhar pra Emily, que agora, se fosse o Superman, estaria lançando lasers pelos olhos em minha direção.

- Eu não acredito nisso Ethan. Você vai sair para comprar mais, agora. - Ela vira as costas e sai batendo os pés.

Volto a atenção para Harry, revoltado.

- Dedo duro. - Levanto puto. São onze horas da noite e terei que sair para comprar torta de chocolate.
Se fosse há alguns meses atrás, eu esperaria até amanhã. Mas, descobri que existe um ser pior do que a Emily com TPM, e esse ser é a Emily grávida.

- Nunca mais me chame de preguiçoso. - Ele levanta e se põe à minha frente - Boa noite, pai. - Reviro os olhos e abaixo para beijar sua testa.

- Boa noite, moleque. - Ele sorri sapeca e sai em direção às escadas.

Ele pode ser um pestinha, mas eu amo esse menino.

Dizem que os soldados são heróis, lutam em guerras e protegem seu país. De fato, são. Mas, em toda minha vida, essa é a primeira vez que me sinto realmente um herói. Meu filho me faz sentir assim. Me sinto assim todas às vezes que ele me pede ajuda em algo, todas às vezes que o ensino algo. Quando está com medo e corre para o meu abraço.
E agora, Emily está carregando minha menininha, que também espero ser seu herói.

Eu não poderia ficar mais feliz. Achei que sempre sentiria um vazio no peito por falta de Anne, mas não sinto. Me sinto completo e realizado. Óbvio que a saudade é grande, mas não é destruidora ou corrosiva.
Eu só queria que ela estivesse aqui para ver, ver que me casei com a mulher que amo, que estou me saindo bem como pai e vou ser pai novamente. Que parei com os remédios controlados e que estou mentalmente quase saudável.
Mas, de alguma forma, sei que ela sabe de tudo isso e está orgulhosa de mim.

Amor De GuerraWhere stories live. Discover now