Capítulo 17

29 4 0
                                    

Cinquenta e sete dias antes

Medo. Nunca senti tanto medo de alguma coisa quanto naquele dia.

Não só pela altura, mas pelo fato de que eu de alguma forma, sabia o que iria acontecer. De alguma forma, sabia que se meu irmão ficasse muito tempo naquela beirada ele não resistiria a tentação. Não sei como, mas eu sabia, e é por isso que me senti e ainda me sinto tão mal.

Encaro a fachada do prédio. Minhas pernas tremem e minha respiração é superficial.

Hoje de manhã, eu acordei com a certeza de que  tinha que voltar. Tinha que entender o que realmente acontecera naquela noite, mesmo que eu já tenha me lembrado.

Mordo o lábio inferior e dou um passo bambo a frente, depois outro, e mais outro, até estar parada a poucos centímetros da porta. Levo a mão até a porta. Hesito. Então me afasto do prédio, indo até o outro lado da rua. Me encosto na parede puxando o ar com força.

Não posso. Ainda não.

Fecho os olhos.

♦️

Papai! — meu grito fino e um pouco infantil, ecoou pela casa — Papai!

Pulei do último degrau da escada e corro porta a fora, em direção a frente da casa, para o jardim onde meu pai espera.

— Papai! — grito. Ele se vira e sorri, abrindo os braços para me pegar. Ele tinha passado os últimos dois meses fora e eu estava morta de saudade — Pai!

Me jogo em seus braços e ele me envolve em um abraço forte. O cheiro dele ainda é o mesmo, mas está em coberto por uma grossa camada de fumaça de carro.

— Oi minha pequena! — ele me põe no chão e me olha de cima a baixo — Como você cresceu!

Sorrio envergonhada.

— Pai! — o Alan aprece gritando — Pai!

Me viro e o vejo vindo até nós. Ele não grita outra vez, ou corre, apenas anda rápido e com um sorriso grande no rosto.

— Filho — eles se abraçam rápido, mas com carinho — Me perdoe por não estar presente no seu aniversário, tentei vir a tempo mas...

— Tudo bem pai — meu irmão ergue as mãos, mostrando que não tem importância — Não fizemos nada.

Meu pai ergue as sobrancelhas surpreso.

— Como não? — ele parece realmente surpreso — Sua mãe não quis fazer nenhuma festa? Nada?

— Na verdade... — Alan coça a cabeça, desconcertado — Fui eu quem pediu pra ela não fazer nada.

— E por que não?

Solto uma risada e ambos me olham. Sei que posso estar parecendo louca, mas sempre que meu irmão responde a essa pergunta, sinto vontade de rir.

— Ele diz que já é homem e não precisa de festa, só porquê já tem dezesseis anos — respondo — Me pergunto se ele também vai  me abandonar também.

Deixe-me Ir / PARADOWhere stories live. Discover now