Capítulo 19

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Você não é nada para mim, Mia.

Aperto os olhos com força.

Não estou mais soluçando ou fungando, agora são apenas lágrimas. Silenciosas e cheias de dor, escorrendo pelo meu rosto, enquanto olho para a água passando debaixo da ponte.

Eu não tenho uma filha.

As palavras dela doeram mais do que todo o desprezo que recebi durante todos esses anos.

Nunca tive.

Cada momento que passamos juntas, mesmo que tenham sido poucos, passam  diante de meus olhos. Eles me torturam.

Ouço passos se aproximando mas não me viro, continuo com os olhos fechados. Poucos segundos depois sinto uma mão no meu ombro.

— Mia? — abro os olhos. Adam está abaixado ao meu lado, sem se importar com a altura — Você está bem?

Olho para ele. Parece preocupado e isso acaba comigo.

Balanço a cabeça lentamente.

Ele se senta e me puxa em um abraço. Não recuso.

— Está tudo bem, agora — ele sussurra — Estou com você.

Não digo nem faço nada, apenas continuo quieta, só deixando que minhas lágrimas molhem sua camisa.

Não sei quanto tempo ficamos assim, mas é o suficiente para que as lágrimas cessem. Mesmo depois que elas param continuo com a mesma expressão vazia no rosto. Não tenho forças para expressar mais nada.

Estou tão cansada. O dia mal começou e já me sinto derrotada.

Adam coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e vira meu rosto para ele.

— O que aconteceu? — balanço a cabeça e mordo o lábio — Mia...

— Foi a Kat — solto, a voz rouca — Nós... Nós brigamos.

Ele levanta as sobrancelhas, surpreso.

— E... Como foi?

Dou de ombros. Horrível. Cruel. Desolador....

— Normal — digo.

— Normal? — ele pergunta — Mia, o que aconteceu de verdade?

Fecho os olhos e suspiro. Não é um assunto que eu queira falar agora, mas ele veio até aqui só para ficar comigo e tentar me ajudar não seria justo fazer isso com ele.

— Ela me disse... Coisas. Coisas que eu não sabia. — abaixo o rosto — Meu pai fez ela prometer que ela cuidaria de mim antes de morrer — dou de ombros. — Eu já devia saber. Ela nunca se preocuparia comigo se meu pai não pedisse. E ela também disse... Que não tinha mais filha. Que nunca teve.

Sorrio, um sorriso vazio. Pela primeira vez desde que saí de casa percebo que o que doeu não foi escutá-la dizendo isso, mas sim a certeza de que ela estava certa. A Mia, a menina que um dia fora filha dela, estava morta.

— Ela disse isso? — ele parece incrédulo — Como ela pôde ser tão cruel? Meu Deus...

Ele olha para a água, indignado. Aproveito para observá-lo. A forma como ele se coloca no meu lugar, como se preocupa... Poucas pessoas já fizeram isso por mim.

Seguro sua mão e ele aperta levemente, irradiando ondas de calor por todo o meu corpo. Ele me olha e com a outra mão acaricia meu rosto.

— O que posso fazer para você se sentir melhor? — forço um sorriso fraco — Não gosto de vê-la assim.

Deixe-me Ir / PARADOOnde histórias criam vida. Descubra agora