Crystal Pier

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"Desculpe coração, me desculpe coração, mas vamos ter que começar novamente" – Towers.

Perrie Edwards sentou na areia sem se importar com a roupa ou o cabelo voando em sincronia com o vento frio; abraçou seus joelhos olhando fixamente para o mar enquanto pensava nas duras palavras que havia trocado com Henry. Ela sentia-se vazia, afinal parte de sua história havia ganhado um ponto final. Há duas semanas planejavam detalhes do casamento, e horas atrás havia jogado a aliança de noivado em alguma parte da água enquanto andava pelo píer estranhamente vazio.

Henry Smith era um cara de poucas palavras, sutil e sofisticado. Tão diferente da loira, muitos diriam que os opostos haviam se atraído, e apesar de se sentir presa à uma realidade que não pertencia, aprendeu a se adaptar em nome do seu amor. Smith era filho do diretor executivo da Goudinz e tinha grandes chances de no futuro ocupar a cadeira mais importante da maior empresa no ramo imobiliário da Califórnia. Durante os seis anos em que ficaram juntos, Perrie frequentemente o acompanhava em jantares de negócios e festas estupidamente sofisticadas.

Terminar com Henry foi sem dúvidas uma das coisas mais difíceis que já sujeitou o seu coração. Apesar de odiar suas meias sujas pela casa, amava o jeito que a beijava quando ia embora. Perrie jogou a cabeça para trás — havia se livrado das brigas que se tornavam cada vez mais constantes, mas também havia se livrado do cappuccino de todas as manhãs ou das vezes em que o homem aparecia no estúdio com chocolates para que a mulher não ficasse brava por desmarcar algum compromisso em cima da hora. Havia se livrado sem ter escolhido se livrar.

Nenhuma lágrima descia, a loira apenas olhava fixamente para o mar em sua frente pensando em nada, como se estivesse anestesiada. Em sua mente rondavam centenas de perguntas que não sabia e não tinha condições de responder; não sabia explicar porquê Henry havia sido tão baixo, mas agora pouco fazia importar. Sua parte racional finalmente estabeleceu contato com a parte sentimental e, naquele momento, houvera um consenso entre ambas de que amar era um risco, e que talvez o amor poderia não valer tanto a pena assim.

Ela se levantou em direção à onda que quebrava quase instantaneamente depois de sua formação. Caminhou devagar, até que sua canela ficasse completamente submersa e sentisse a água finalmente se chocar conta seus pés e voltasse logo em seguida, causando uma sensação de leveza. Continuou assim por um bom tempo, até que sentiu, além da água, um objeto duro que a machucou com a força da correnteza.

Antes que o mar puxasse de volta, inclinou-se e pegou o objeto com as mãos: uma garrafa de vidro. Balançou a cabeça em reprovação, já se preparando para descartar de uma forma mais correta. Mas o estado do objeto chamou sua atenção, e ao analisar o recipiente, percebeu que não estava vazio. Algo preenchia quase que completamente o bojo da garrafa, mas não conseguia identificar o que era. Perrie saiu da água e tentou abri-la, mas além da rolha, o gargalo estava vedado com uma espécie de corda de sisal fina, então olhou para os lados e não viu outra saída, a não ser quebrar o vidro.

A loira caminhou em direção onde seu carro estava estacionado, temendo encontrar com Henry outra vez, visto que o estacionamento ficava perto do chalé onde horas atrás terminaram o noivado. Centenas de pessoas felizes e animadas passavam causando um enorme contraste em comparação com o seu humor, deixando-a ainda mais frustada. Sua mente alertava a cada segundo que deveria fugir o mais rápido possível daquele ambiente estupidamente californiano ou entraria em colapso.

Encontrou, para a sua felicidade, um conjunto de lixeiras seletivas e usou o ferro da estrutura para quebrar a garrafa. Descartou o vidro devidamente e, para a sua não tão surpresa, o conteúdo revelou-se ser papel. A real surpresa foi, na verdade, não ser apenas uma folha e, sim, várias. Assim que a garrafa se quebrou, os papéis se espalharam pelo chão, até porque não estavam lindamente amarradas como se vê nos cinemas ou contado em histórias românticas.

— Só pode ser brincadeira — a loira bufou, olhando em sua volta e procurando as câmeras de uma possível pegadinha.

Ao juntar todas as folhas, percebeu que estavam úmidas apesar do conteúdo parecer um tanto preservado. As palavras desenhadas à mão formavam vários textos que temeu lê-los ali, afinal a pequena umidade poderia desmanchá-los.

Agachada no chão, a mulher jogou a cabeça pra trás e deu risada, olhando novamente para os lados: Ela havia encontrado uma garrafa com uma mensagem dentro.

WineWhere stories live. Discover now