CAPÍTULO 19

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Ainda estou imóvel dentro do carro, Kang me tirou depressa daquela praça, ele cobriu meus olhos durante tempo o bastante para que eu não visse a continuação daquela linda demonstração de amor.

Quando ele estaciona na calçada de uma praia é o momento em que decido acordar do transe. Aqueles lábios destinados a mim tinham outro destino naquele momento, eu estava tão machucada, tudo estava acontecendo tão rápido. Eu demorei cinco anos para erguer os muros de Rose Collen e então em menos de dois meses aquele maldito homem consegue fragilizar as minhas paredes apenas com olhares e demonstrações de afeto com aquela garota perfeita.

Dói tanto.

Dói de uma forma tão cruel.

Dói como se eu fosse morrer.

Lembro dos olhos verdes de Phill Collen naquele hospital, os olhos verdes e tristes do meu pai. É esquisito pensar que eu poderia estar bem agora, se eu não soubesse quem era meu pai biológico eu não saberia que ele estava a beira da morte.

Eu juro que estou tentando me manter firme, mas o que eu posso fazer? Não é como da primeira vez, ele não vai sumir da minha vida e continuar vivendo a dele por aí, ele vai embora e eu sei que nunca mais irá voltar.

- Rose. - A voz doce de Yoon Ho me acalma e decido fechar os olhos por um instante.

Meu nome soa tão bem vindo de seus lábios ardentes, assim como Yeon soava perfeito nos lábios do antigo narcisista, quase posso sentir o quão prazeroso era ouvi-lo chamar meu nome, vê-lo dizer a mim todos os seus medos e anseios enquanto eu me sentia sortuda por ter sua confiança.

- Rose. - O homem ao lado no volante chama uma segunda vez e sinto que estou dolorida demais para dar uma de Rose Collen - Quer falar sobre aquilo? - Balanço a cabeça em negativo - Então, quer caminhar pela praia?

Penso por um segundo e decido que seria bom respirar por alguns minutos antes de ir para casa e ver tudo desmoronando enquanto finjo para meu pai que apesar dele estar morrendo, está tudo bem.

Balanço a cabeça em positivo e ele retira seu cinto saindo do carro.

Olho para aquela maldita praia e só então percebo que aquele não é um bom lugar para largar a minha dor, porque foi lá que pela primeira vez, o meu primeiro amor me deu um voto de confiança.

Kang Yoon Ho dá uma batidinha na janela do carro com os nós dos dedos e abaixa um pouco na altura da janela, aperto o botão que automaticamente faz com que o vidro baixe e o rapaz de olhos brilhantes me olha com preocupação. Ele não me pressiona, ele não me fala nada, seus olhos apenas estão vidrados nos meus.

Lembro tão bem que aqueles olhos me vigiavam durante noites e mais noites de dor.

Lembro tão bem que aqueles lábios não eram destinados a mim, mas não se importavam de sugar a minha dor sempre que eu necessitava.

O homem de cabelo escuro se inclina para frente e apoia seus braços na janela, ele continua a me olhar e não sei se é errado ou certo, eu nunca sei, mas não consigo carregar esse peso sozinha por enquanto.

Lábios ardentes.

Ele ainda tem lábios ardentes e agora posso senti-los enquanto os meus tocam os dele, devagar e sem pressa eu tomo seus lábios como meus.

Ele não hesita.

Lembro de todas as vezes que o vi mascando chiclete verde, pois seus lábios tem um sabor de menta inconfundível, o mesmo que senti a um mês atrás, a um ano atrás, em todas as vezes que eu quis me livrar da culpa de ser quem eu sou. O beijo está sincronizado, no ritmo da dor mais intensa que já senti, devagar, sem pressa, com sentimento.

A ruiva está em meus pensamentos, passando os nós de seus dedos por toda a extremidade do narcisista que por direito é dela - meu - e por impulso o carinho que estava no meio daquilo tudo se desvia junto com meu rosto, quando deixo os lábios de Kang vejo-o abrir os olhos e esperar que eu diga algo.

Não sei o que dizer.

- Rose, - Ele inicia e olha para baixo sem jeito algum - eu não posso fazer isso.

- Desculpe. - Digo e pressiono minhas unhas contra a palma das minhas mãos, isso virou um hábito.

- Não, não deve pedir desculpas. - Seu tom é sereno e ele esboça um sorriso - Eu não me importo, eu amo você Rose, você me trouxe de volta a vida. - Seus gestos com as mãos são rápidos demais - Eu só não quero que você se machuque, de novo.

- Não vou me machucar. - Tento me recompor.

- Já está machucada. - Ele retira minha máscara com convicção.

Eu o odeio.

Não, eu o amo.

Kang sabe exatamente quem eu sou e acho que ele só está esperando o momento certo para me contar, está me protegendo de mim mesma, da minha neurose, da minha ansiedade, da minha Rose Collen interior.

O caminho para casa é preenchido pelo som de Fleurie, era tão depressivo e cheio de dor, era minha trilha sonora favorita. Cada lágrima que derramei dentro do carro ficaria lá para sempre, nem todo o sabão do mundo poderia lavar aquelas lágrimas doloridas, pois elas contavam uma história, a história que carrego comigo durante cinco anos amargos e intensos.

Retoco a maquiagem quando o carro entra na mansão e tento disfarçar o inchado abaixo dos meus olhos, foi uma guerra, mas acho que minhas habilidades com maquiagem evoluíram bastante, então fiz um bom trabalho.

A sala de estar está silenciosa e tudo muito calmo, mas em segundos um som vem da cozinha, são risadas desenfreadas e num tom um tanto alto demais, parece a risada do meu pai, eu nunca mais ouvi a risada doce e aconchegante dele.

Entro na enorme cozinha e lá encontro o homem grisalho com o rapaz de cabelos loiros, os olhinhos dele estão fechados enquanto ele abre aquele lindo sorriso e usa suas mãos para cobrir o rosto, ele fica tão bem quando está sorrindo.

Jimin é um homem maravilhoso.

- Querida. - O homem mais velho nota minha presença e anda até mim com seus longos braços abertos me envolvendo em um abraço quente - Você demorou, achei que Yoon Ho iria buscar você.

- Ele foi. - Tento me aconchegar em seus braços e sinto que preciso de mais quando ele se afasta - Paramos para fazer um lanche e agora Kang está colocando o carro na garagem, desculpe a demora.

- Tudo bem. - Ele sorri e olha para Jimin enquanto fala comigo - O filho dos Park's veio procurar você, soube a pouco do acidente e estava preocupado.

- Eu. Estou. Bem. - Acho que as pausas repentinas tornaram a frase inacreditável.

Jimin está me observando com olhos preocupados e parece pedir permissão para se aproximar.

Nossos olhares estão conectados e quando o vejo ali sinto vontade de despejar todas as minhas ânsias, ele é tão bom para mim.

Eu não o mereço.

- Bom, já que chegou eu não preciso mais fazer companhia ao rapaz. - O homem diz e toma algo na caneca a deixando no balcão - Estou indo dormir agora.

- Mas, papai... - Constesto mas ele apenas sai despejando suas últimas palavras.

- Boa noite, crianças.

Jogo a bolsa no balcão e observo meus próprios pés, Kang deveria voltar da garagem logo.

Meu olhar continua baixo e consigo ver a sombra se aproximar, os dedos do homem loiro tocam as minhas mãos e minha primeira intenção é repelir seu toque, mas parece tão verdadeiro, para mim isso é o bastante por enquanto.

- Fiquei tão preocupado. - Ele diz e permaneço em silêncio olhando para nossas mãos unidas - Achei que perderia você, de novo.

O complemento "de novo" me deixa desconfortável e decido olhar para ele, seus olhos possuem uma linha leve de algo que parecem lágrimas, estou tão quebrada que não consigo me conter mais, estou desmoronando aqui mesmo, literalmente desmoronando em seus braços.

GOOD EVENING ✿ JJK (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora