SPELAION - PARTE VIII

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Chawla abriu os olhos assustada. "Mas que merda é essa?!". Massageou as têmporas, tentando não se concentrar no nó que estava sentindo no estômago. Tentou pegar um cigarro no maço com as mãos trêmulas, mas não conseguiu segurá-lo. "Okay... Foco. É apenas cansaço". Chawla respirou fundo algumas vezes olhando para um pequeno quadro com a foto de uma borboleta no parapeito de um observatório com grandes cataratas desfocadas ao fundo. Puxou o relatório, ainda com as mãos trêmulas e tentou voltar ao trabalho e afastar aquele sentimento. Sempre fora muito boa em evitar sentimentos complexos e afastar suas fontes de preocupação mergulhando em pilhas de trabalho.


Observou as linhas no relatório. Picos de autoconsciência e queda brusca. "Você estava tentando fugir? Do que? Da simulação? Não. Quanto mais perto de cruzar o nível você chegava, mais rápida era a queda. Era da detecção do computador que você estava fugindo, não era?"
Chawla tentou imaginar como a detecção do computador deveria parecer ao monge. Um sentimento de estar sendo observado? Não, provavelmente algo interior, analisando pensamentos e mudanças internas. Isso deveria ser bem invasivo para as simulações. "Mais uma coisa que eu não havia considerado que deveria parecer óbvia para mim. O que mais eu não levei em consideração? Preciso fazer uma reunião com a minha equipe para criar um diagnóstico para todo o programa. Existem falhas demais. A própria detecção do programa estaria de alguma forma influenciando e impedindo as simulações de atingirem a singularidade?". Chawla fechou os olhos e a imagem do corvo bicando o olho tentando arrancá-la de dentro invadiu seus pensamentos. Um arrepio gelado subiu pela sua espinha e ela chacoalhou a cabeça, tentando se livrar da imagem. " Não. Se fosse assim, isso iria aparecer em várias outras simulações, não? Ou talvez isso esteja relacionado com o nível de autoconsciência?". Chawla começou a sentir um mal estar tomando seu corpo. Um aperto na garganta e uma vontade incontrolável de chorar, seguido por uma tremedeira nas mãos e uma ânsia de vômito nervosa. Sentiu seu corpo ficando pesado e o mundo ao seu redor ficando desfocado. Olhou para o quadro da borboleta, buscando a calma. A borboleta agora estava desfocada e as cataratas estavam com o foco correto. Isso não deveria ser possível. O ar começou a ficar pesado, quase líquido. "Ah, não..."


"Não! Não! Não! Isso não está acontecendo Isso não é real. Eu estou sonhando ainda." Chawla sentou apressadamente na cadeira e abraçou seu corpo. Os tremores se transformaram em convulsões. Chawla perdeu o controle dos membros e seus braços caíram no seu colo tremendo. O silêncio preencheu seus pensamentos como uma enchente tentando afogá-la. "Isso não é real!". Chawla fechou os olhos e tentou respirar fundo para se acalmar. "Eu sou real!". Sentiu seu corpo ser puxado em todas as direções e apertou os olhos. O ar foi arrancado de seus pulmões, dando lugar forçado ao silêncio. Sentia fortes pancadas em lugar nenhum tentando arrancá-la a força do seu ser. "Eu existo!"

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