Prólogo

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10 ANOS ANTES

     - Vamos Agnes! Você precisa ser forte! - Coitada da minha irmã, mal se aguentava em pé com tanta dor e angustia, talvez pelo o que eu acabei de fazer- matar Edgar O'neil com uma pá não era o que eu havia planejado para a minha curta vida, mas não aguentava mais apanhar e vê-lo batendo e violentando as minhas imãs, Agnes já não tinha mais força para brigar com Edgar, ele era muito mais forte e a violentava sempre que queria ou que estava bebendo o que acontecia com muita frequência. Por causa da sua bebedeira diária e falta de cuidado com uma criança pequena e machucada ele pagou caro com a própria vida . 

     - Temos que tomar o máximo  de distância daqui! - Meu tom por mais encorajador que fosse ainda assim, transmitia medo e terror por tudo o que estava acontecendo.

     - Também estou com medo Pink, não sei de onde você tira tanta força, mesmo estando tão machucada - Kakau me olha como se não entendesse como tudo aquilo estava acontecendo tão rápido. 

     - Essa foi a unica oportunidade que tivemos e Deus sabe  quanto tempo que  estávamos presas  naquele inferno - Respiro, mas sempre caminhando, algo que fizemos a noite toda e até agora não havíamos  parado pra nada. - Ainda bem que aquele monstro estava sozinho e que aquela mulher horrorosa saiu e nós conseguimos fugir, fico só imaginando a cara da Maria quando encontrar o seu amante morto e que nós fugimos.

O silêncio voltou a reinar, ficamos calados por mais uma boa parte do caminho.

Para onde estávamos indo era um grande mistério a unica coisa que tínhamos certeza e que nunca mais veríamos a cara daquele monstro.

Não sei como eu fui parar naquele inferno, Agnes e Kakau também não. Não sei se fui raptada ou se os meus pais me venderam ou algo do tipo, prefiro acreditar que fui roubada deles, já que não sei nem mesmo o meu nome. Kakau também não sabe o seu nome, ela chegou no inferno alguns anos antes de mim e por muito pouco não foi vendida por um traficante de órgãos , talvez esse também fosse o meu fim. Agnes é a unica que lembra de verdade o seu nome. Ela chegou bem depois de mim e kakau e  já tinha quase doze anos de idade. 

No inicio Edgar e Maria nos colocavam para arrumar toda a casa, cuidar de alguns animais que eles possuíam e nunca podíamos sair de dentro da propriedade, nem abrir a porta pra ninguém, eramos proibidas de ir a escola, a igreja ou até mesmo a feira ou mercado. 

Com o passar do tempo as coisas foram ficando piores e foi quando tudo começou a acontecer; as violências gratuitas, surras e mais surras, todos os dias,  xingamentos e não demorou muito pro primeiro estupro acontecer com a Agnes, logo depois da sua primeira menstruação. Não só o corpo que doía  mas  a alma também, eramos como zumbis sem rumo e direção em meio a escuridão, não podíamos confiar em ninguém simplesmente por que não conhecíamos nada além de sofrimento.

Andamos por alguns dias, bebíamos água da chuva, de pequenos riachos quando passávamos por algum, mas o pior mesmo era a fome, não tínhamos comida e não comíamos desde muito antes de sair da casa de Edgar.

     - Olha aquilo não são laranjas? - Kakau apontou - E se a gente pegar só algumas? Será que o dono vai dar faltas de algumas laranjas? Tem tantas?

Nos olhamos, era simplesmente três pares de olhos famintos, olhos machucados, inchados por ainda estarem com grandes hematoma e sem nenhum cuidado, olhos tristes mas com um pequeno brilho de esperança pelo menos para saciar a fome.

Com cuidado passamos por baixo da cerca de arame farpado e começamos a pegar as laranjas, no inicio tentávamos descasca-las do jeito que dava, a fome era tanta que não importava se as cascas iriam ferir nossas bocas, já que os ferimentos que trazíamos em nossos rostos e boca naquele momento era o menor de nossos problemas já que a fome era maior do que qualquer outra coisa.

O desespero por comer alguma coisa era tamanho que não prestamos atenção ao grupo de homens armados que nos cercavam.

- Ora, ora - um dos homens falou em um português estranho- O que temos aqui, se não três ratinhas?

Meu estomago naquele momento doeu, não sei se porque parei de comer, literalmente as laranjas ou por sua acidez, já que não estavam tão doces assim.

     - Não somos ratas! Só estávamos com fome, só foram algumas laranjas, vocês tem tantas aqui! - Falei olhando o homenzarrão que havia nos chamadas de ratinhas.

     - Quem rouba um, rouba um milhão! - disse - Pelo jeito vocês já sabem disso pela a coça que levaram - olha para cada uma de nós - Mas não sou eu quem decido o que vai acontecer com vocês, ratinhas...

     - Já disse que não somos ratas!! Só estávamos com fome! - Ele me encara.

     - Caminha, não quero ouvir mais nada, só abrem a boca agora quando for pedido para fazer, caso contrario esses machucados que vocês carregam nunca mais vão desaparecer do rosto de vocês, capisce?

Fomos colocadas em um galpão, onde se guardava muitas sacas de laranjas para ser vendidas.

Esperamos, esperamos e esperamos e quando a noite começava chegar lá fora e começava a escurecer dentro  do galpão uma senhora com pouco mais de cinquenta anos, veio e nos olhavam como se fossemos alguma novidade, bizarra, mas novidade.

     - Chi ha fatto questo con questi poveri? - Ela fala com o homem que nos chamou de ratinhas.

     - Non lo so, signora, li abbiamo trovati così, rubando le arance.

     - Va bene! - Ela da com a mão.

Que língua é essa que eles estão falando? Não entendo nada! Mas e linda de se ouvir, parece uma melodia sem música, não que eu tenha ouvido muito música, mas as vezes maria colocava quando estava feliz por alguma coisa.

Olho para Agnes e Kakau e elas também estão encantadas com o jeito que as palavras saem de suas bocas.

     - Mio nome é Giordia Rizzo, mas vocês podem me chamar de Nonna - Fala com um sorriso que não chega aos olhos, mostrando uma covinha no rosto , talvez seja pena o que ela está sentindo ao nos ver assim.- E como eu devo chamar vocês?

 Agnes e Kakau não respondem nada e ficam me olhando como se estivessem me pedindo permissão para responder.

A senhora percebe a nossa exitação, mas continua com o sorriso no rosto, esse sorriso agora e de divertimento e não mais de pena.

- Que tal vocês vir comigo, lá dentro da casa vocês poderão tomar banho, comer uma comida de verdade e dormir em uma quente e fofinha. - Continua com o sorriso em seu rosto. - Que Tal?

Agnes e Kakau dão um passo a frente em direção a senhora.

     - Você não vem PinK? - pergunta Agnes.

Eu as olho com o meu olho bom, já que o outro ainda continua inchado. Balanço a cabeça em negativa e falo com toda a calma que tenho, sabendo que posso ser punida por dizer o que penso de pessoas que nunca vi na vida e que podem ser tão ruins quanto Edgar.

     - Não! - continho balançando a cabeça - Agora a pouco eramos chamadas de ratas e agora querem nos alimentar - dou um suspiro forte, tentando não pensar no pior mas sem sucesso-  E se forem piores do que Edgar? - sussurro.

Minhas irmãs dão um passo atrás de mim, se abraçando e com uma mão cada uma em mim.

     - Molto bene! - Seu sorriso aumenta - Temos uma jovem lobinha e sua pequena matilha. - ela olha pro grandalhão atrás. - Não se preocupa, bambina nesta casa ninguém fará mal algum a vocês, pode confiar em mim. - Ela estende sua mão pra mim, sabe que se eu for as outras virão sem problema nenhum.

     - Como eu terei certeza disso?- não estava em condições de exigir nada, mas como diz o ditado "gato escaldado tem medo de água fria". 

     - Você vai ter que confiar em mim, bambina.

Eu estava com medo, mas eu tinha um fio de esperança que ela poderia estar falando a verdade e foi nesse fio que eu segurei em sua mão que estava estendida pra mim e a agarrei trazendo comigo as duas únicas pessoas que eu realmente confiava. As minhas irmãs.











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