A mulher- Parte Final.

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Depois que mamãe se foi, papai já não sabia o que fazer, seu olhar estava perdido, chegava do trabalho e não dizia nenhuma palavra, Rosie estava ainda mais estranha, a mulher iria leva-la e eu precisava impedir. Eu não sabia o tamanho dos poderes da entidade, eu não sabia como ela tinha chegado a nós, papai não me contaria, eu precisava dar um jeito, o único jeito que soava viável era uma busca rápida no Google, onde encontrei um fórum contando sobre a mulher, não parecia real, mas mostrava desenhos dela, desenhos de crianças, que haviam desaparecido há muito tempo, aqui em nossa cidade.

Um dos desenhos me chamou a atenção, era ela, com a boca aberta, apenas um enorme buraco negro e sem dentes, seus olhos brancos como papel, e veias negras por todo o rosto, mas me lembrei de ter visto Rosie desenhar algo diferente, fui até seu quarto e mexendo em seus cadernos encontrei um desenho dela, um desenho de Rosie, mamãe e papai, dando as mãos, eu não estava ali. A porta do quarto de Rosie se fechou, eu me virei rapidamente, era papai.

- Ela quer leva-la, Gus! Ela vai leva-la!

- Não, papai, nós não vamos deixar!- agarrei os ombros dele e chacoalhei, papai começou a chorar como um bebê.

- Eu estava num fórum, e li algo que pode nos ajudar.- os olhos dele se levantaram para mim.- A mulher usa Rosie como fonte, ela não é forte o suficiente para nos atacar, mas enquanto Rosie estiver com ela, ela poderá fazer o que bem entender...

- E... o que... podemos fazer?

- Rosie ainda se importa conosco, olha.- mostrei o desenho a ele.- ela ainda quer que fiquemos juntos, e se a fizermos ver o que a mulher é, ela pode expulsa-la.

Papai se colocou de pé e abriu a porta, descemos as escadas procurando por Rosie, ela não estava ali.

- O porão.- eu disse baixo, papai concordou com a cabeça.

Fomos até o porão, o ar frio e úmido que vinha de lá parecia mais forte, acedemos as luzes, papai desceu na frente, um pé atras do outro com cuidado.

- Rosie? Rosie, você está aí?- papai gritou, os olhos brancos da mulher saíram da escuridão.- Rosie, querida, papai precisa lhe dizer uma coisa... A mamãe está morta... E ela a matou, porque a mamãe queria ir com você, e ela disse que não. Ela vai te deixar sozinha lá Rosie, igual as outras crianças que foram com ela, nós precisamos de você aqui com a gente. Rosie, eu te amo, e quero que você fique aqui comigo.

Os olhos pequenos e molhados de Rosie saíram dali, logo atras da mulher que nos encarava com raiva, mas pela primeira vez, eu a encarava, e não sentia medo. Rosie andou mais um pouco e encarou papai, virou-se para olhar para a mulher.

- É verdade? Você matou minha mãe? Você vai me deixar sozinha?- a mulher sussurrou algo inaudível para ela, Rosie apenas olhou para papai e sorriu, seus olhos com um brilho assustador.

Rosie andou até nós, nós conseguimos, havíamos conseguido fazer Rosie desistir de ir com ela, agora ela tinha que expulsa-la.

- Rosie!- eu disse- Agora você precisa manda-la embora, precisa dizer para ela ir.- ela assentiu e se colocou de frente para a mulher, segurou minha mão e de papai, enquanto a mulher sussurrava para ela, Rosie apertou nossas mãos, e papai me olhou.

- Você prometeu!- Rosie disse.- Você disse... Eu os atraí para cá... Vamos!- papai me olhava agora confuso.

- Rosie...- eu disse.

- Mande-a embora, Rosie!- papai disse alto, agora eu tentava faze-la soltar minha mão, mas ela não soltava.

- Você prometeu que levaria os dois!- Rosie batia o pé e discutia com aquela figura à nossa frente, eu tentava empurra-la, mas ela não se movia, continuava naquela discussão com a mulher.- Vamos, Gus! Você vai comigo!

- Não, Rosie!- relutei- Eu não quero ir! Me solta!- Rosie fechou a cara, mas continuou me puxando.- Papai! Papai, não deixe ela me levar, papai!

Rosie continuava me guiando ao imenso escuro do porão, onde eu sabia que seria meu fim, a mulher parecia satisfeita com toda a situação mesmo depois da pequena discussão com Rosie, sentia meu corpo fraco, queria me jogar no chão, eu tentava parar Rosie cravando meus pés no chão frio do porão, a puxando para trás, mas nada a parava, aquela já não era mais Rosie, aquela já não era mais a doce irmãzinha que eu tinha a semanas atrás, aquela mulher a matou, e a transformou em um zumbi paranormal. Em questão de segundos senti as mãos firmes de papai me agarrarem, ele me puxou me tirando do escuro que estava prestes a me engolir, Rosie virou-se assustada, mas já era tarde demais para ela voltar para me pegar, apenas pude ver mãos saindo do breu agarrando o pequeno corpo de Rosie, que gritou apavorada, ela foi arrastada para aquele "lugar", por todas aquelas mãos, suas ultimas palavras foram "Gus, não me deixe sozinha!".

Papai se colocou a minha frente, enquanto a mulher avançava para mim, ele, pela primeira vez, se mostrou corajoso, ele encarava a criatura nos olhos, me protegendo. A mulher não o tocou, mas tentava vir até mim de qualquer maneira, era isso, papai não havia falado com ela, então ela não podia feri-lo, mas eu já, então eu era o ultimo que seria levado.

- Papai, ela quer me levar!- gritei apavorado, a mulher continuava imóvel de frente para papai.

- Não se preocupe, Gus, eu não vou deixar!- ele disse.

Papai não parecia mais aquele covarde que não queria lutar contra aquela mulher, que a deixou matar mamãe e agora levar Rosie embora, eu era o único e ultimo que papai tinha, e ele faria de tudo para me proteger.

- Corra, Gus! Corra!- papai gritou, saí de trás dele e corri, passando pela mulher que agarrou meus ombros.- Você não vai leva-lo, sua vagabunda! Venha, venha me pegar, vadia!- papai gritou.

A mulher me soltou rapidamente, papai conseguiu a atenção dela, ela foi em sua direção. Papai a empurrou e agarrou pela cintura, a puxando para onde Rosie foi puxada, a mulher lutava contra mais papai parecia forte o suficiente para conte-la, a fonte dela, que era Rosie, já havia sido levada, agora ela era fraca, e ele podia derrota-la. Ele se jogou contra o escuro puxando a mulher junto com ele, uma luz forte iluminou o lugar, me fazendo fechar os olhos.

- Eu te amo, Augusto.- essas foram as ultimas palavras que ouvi de meu pai.



Uma voz  doce chamava pelo meu nome, foi quando abri os olhos e me encontrei deitado no sofá da sala, Sra. Mendes chamava por mim enquanto seu marido falava no telefone com a polícia.

- Augusto? Augusto!- ela chamou.- Você pode me ouvir?

- Cadê meu pai?- eu disse já começando a chorar.- Papai! Papai!

- Augusto, você sabe onde está seu pai?

- Ela o levou.

- Quem? Quem o levou Augusto?

- A mulher.


Eu estava sendo levado pela viatura até a delegacia, eles iam reportar o caso como desaparecimento, mas eles não estavam desaparecidos, eu sabia onde eles estavam, não onde, mas com quem. Uma garoa fina cobria as ruas do bairro, enquanto gotículas se instalavam nos vidros da viatura, paramos em um sinal vermelho, um dos policiais respondeu o rádio, foi quando olhei pela janela, estávamos na frente da casa de Thiago, eu podia vê-lo, ele estava em seu quarto no segundo andar, sentado na imensa janela, de frente para ele Rosie estava sentada, ela disse algo e ele se aproximou, ela sussurrou em seu ouvido, Rosie virou seu rosto em minha direção, e pude ver seus olhos brancos, ela apenas sorriu pra mim, enquanto agarrava a cabeça de Thiago e a arrancava para fora.



Fim.

Delírios de uma mente quase sãWhere stories live. Discover now