capítulo 27

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Verônica S. Miller
...Um mês depois...
Acordo e não vejo Adrian ao meu lado. Me espreguiço e vejo um enorme buquê de flores
vermelhas em cima do aparador e, ao lado, uma bandeja com meu café da manhã. Olho no
relógio e dou um pulo da cama ao ver que já passa das onze da manhã.
— Droga! – praguejo desequilibrando-me, ainda sonolenta. Caminho até as flores e nelas
há um cartão.
“Minha linda, sinta o cheiro dessas rosas... Elas roubaram o teu perfume. Te Amo!!!
Adrian”
Dou um leve sorriso e acaricio as lindas rosas vermelhas.
Começo a tomar meu café. Esqueci completamente que hoje farei a ultrassonografia.
Completo hoje, três meses de gestação. Adrian está animado com a possibilidade de saber
sobre o sexo do bebê. Eu duvido que dê para ver algo, mas quando esse homem coloca algo na
cabeça, é impossível contrariar.
— Bom dia! – Terry entra no quarto toda sorridente de short e mini blusa toda rasgada.
— Bom dia! – sorrio. — É moda agora? Andar toda rasgada?
Ela me olha e senta em minha cama.
— Adrian disse que vai tacar fogo no meu guarda roupa – ela dá uma gargalhada e não
aguento.
— Se eu fosse você, não duvidaria – digo rindo.
— Vocês são muito caretas, credo! Estou custando pra fazer Jonas aceitar que eu coloque
um piercing.
— Está falando sério? – pergunto espantada. — Aonde irá colocar?
— Hummm... Em algum local proibido – ela me olha arqueando as sobrancelhas me
deixando horrorizada.
— Vai colocar um piercing lá?
— Nãooo! É brincadeira – ela ri. — Deveria ter visto sua cara.
— Sua louca! – digo não conseguindo conter minha risada.
— O Montanha já está lá fora – ela diz se referindo ao meu segurança. Há um mês, Adrian
contratou um segurança para que ficasse me seguindo pra lá e pra cá. Até tentei argumentar,
mas, como já disse, Adrian tem uma personalidade difícil.
— É Paulão, e não montanha – digo.
— Aquele cara me assusta. Eu sou a metade dele, Verônica. Não sei como você consegue
lidar com as exigências do meu irmão. Ele é muito chato às vezes.
— É. Ele está com medo de alguma coisa. Sabia que ele vem recebendo alguns telefonemas
anônimos?
— Não. Quer dizer, Jonas até me disse alguma coisa parecida, mas, espere... – ela me olha
assustada. — Acha que pode ser aquele tal de Charles?
— Adrian acha que sim. Já se passou um pouco mais de um mês desde que... você sabe.
— Nem me lembre daquilo – ela diz num sussurro assustado.
— Ele acha que Charles está muito quieto e que pode aprontar a qualquer momento. Eu disse que se ele quisesse nos fazer algum mal, ele já teria feito.
— É. Pode ser. Não acho que ele fará alguma coisa contra você. Acho até, que ele já se
conformou.
— Assim espero.
— Bom, estou te esperando lá embaixo. Adrian ligou e disse que irá direto para a clínica.
Está resolvendo algumas pendências na empresa. Sem a Alana, o trabalho dele dobrou. – ela
diz.
— Prefiro que ele trabalhe 24hrs, a ficar ao lado daquela mulher.
— Essa é outra que está muito quieta. Eu me preocuparia mais com ela, do que com esse tal
de Charles. Nunca gostei dela – ela diz saindo do quarto.
Termino meu café e vou para o banho. Coloco um vestido soltinho florido e uma sapatilha.
Seco os cabelos e os deixo soltos. Passo uma maquiagem bem leve e pronto.
— Bom dia, Maria – cumprimento-a assim que entro na cozinha. — Onde está o Max? –
pergunto a ela.
— Bom dia, Verônica. Max está no jardim com a Rose. Desde que Adrian a trouxe, esses
dois não se desgrudam – ela sorri.
Rose é a mais nova integrante da família. Adrian cumpriu a promessa de trazer uma
namorada para o Max. Agora, ele quase não me dá atenção.
Caminho pelo jardim e os vejo em volta da piscina.
— Max! – grito por ele.
Ele me vê e vem correndo abanando seu rabo. Rose vem logo atrás.
— Meu garoto. Está fazendo muita bagunça Max. Olhe só pra isso? – digo apontando para
os buracos feitos por eles no jardim. Estavam cavoucando toda a terra. Ele se aninha em meus
braços e lambe meu rosto.
— Achei minha linda esposa! – ouço a voz de Adrian atrás de mim. Viro-me e me deparo
com ele. Está com o paletó cinza nos braços e caminha em minha direção com um lindo
sorriso no rosto. Quando chega até mim, me abraça e me beija docemente.
— O que faz aqui? Terry disse que iria direto e nos encontraríamos lá – digo confusa.
— É eu sei. Mas... – ele olha para minha expressão confusa e sorri. — Não aguentei ficar
longe de você – conclui e me beija novamente.
— Bobo. Amei as flores. São lindas – digo.
— Não tanto quanto você. Mas querida, eu vim por outro motivo também – ele se afasta e
me observa.
— O que foi? Não diga que cancelou a viagem? – perguntei com um fio de esperança.
— Não meu amor. Infelizmente, terei que viajar. Não é por causa disso.
— Ai meu Deus, Adrian. Desembucha logo. Já estou ficando preocupada.
Ele me olha cauteloso.
— Eles aceitaram.
— Eles quem? Aceitaram o que?
— Os médicos. Eles concordaram que seria melhor sua mãe continuar o tratamento aqui em
casa. Disse que será bom para a recuperação dela e que seria importante ela estar mais
próxima de você. – Ele termina de falar, mas ainda estou processando cada palavra que saiu
de sua boca.
— Co-mo assim? – gaguejo sem reação.
— Sua mãe, meu amor. Vamos trazê-la para casa.
Fico estática. Meus olhos se enchem de lágrimas e meu corpo fica trêmulo.
— Está brincando! – exclamo com a voz embargada.
— Não estou não, amor. Assim que voltar de viagem, eu prometo que a prioridade será
trazê-la para cá. Já pedi para que contratem os profissionais adequados para cuidarem dela –
diz e me puxa para ele. Adrian toca meu rosto e me olha nos olhos. Ele não imagina a
felicidade que sinto nesse momento.
— Achei que ficaria feliz. Por que está chorando? – ele limpa minhas lágrimas.
— E-eu não sei. É tão... Tão... Ai meu Deus! Eu vou ver minha mãe fora daquele lugar?
Não estou acreditando que ela estará aqui, conosco. Obrigada – digo ainda desnorteada e sem
conseguir me expressar direito.
— Não tem o que agradecer meu amor. O que te faz feliz, me faz feliz também. Eu sei o
quanto você sofreu e o que você passou pra conseguir um tratamento digno para ela. Te ver
assim, tão feliz e podendo estar ao lado dela, é o que eu sempre quis. Mas é melhor que tenha
em mente que vai ser difícil às vezes. A doença dela está na fase crítica. Vou fazer de tudo
para que ela tenha o melhor tratamento e conforto aqui em casa. Mas vou te pedir uma coisa,
não quero vê-la triste. Nenhum dia sequer. E tudo que tiver de enfrentar pela frente, quero que
conte comigo. Pois vou estar aqui pra você sempre. Entendeu?
— Eu já disse o quanto amo você? – pergunto e minhas lágrimas não cessam.
— Já. Mas não me importo de ouvir você dizer, por toda a minha vida – ele sorri e me
beija.
— Eu amo você – digo.
— Eu também te amo – ele diz e me beija mais uma vez. — Agora vamos. Quero conhecer
nosso filho – ele sorri.
***
Chegamos ao consultório. Adrian está mais nervoso do que eu.
Está inquieto e se revira em seu assento nervosamente.
— Para com isso. Está me deixando nervosa – digo.
Ele me olha e tenta disfarçar.
Seu telefone toca. Ele atende no primeiro toque.
— Adrian... Mas que merda! Se não vai abrir a maldita boca, melhor não ligar mais porque
não irei atender – ele esbraveja e desliga.
— Outra vez? Isso está ficando assustador – digo e ele me encara.
— Deve ser algum palhaço que não tem o que fazer. Hoje de manhã, recebi um envelope na
empresa. Havia uma carta, mas foi escrita no computador e não tinha remetente.
— O que estava escrito? - pergunto curiosa.
— Veja... – ele responde, tira a carta do bolso da calça e me entrega. Pego a carta das mãos
dele e abro.
“Tenha cuidado, ela corre perigo”.
Congelo ao ler as palavras. Estava se referindo a mim?
— Mas que merda é essa? – pergunto olhando para ele, assustada.
— Estou querendo saber. Viu o porquê que não quero que saia sozinha?
— Sra. Verônica Miller – a enfermeira chama me tirando a atenção.
— Vamos. À noite, em casa, conversaremos sobre isso – diz.
***
... Mais tarde...
— E aí. Me conta, como foi? – Maria pergunta querendo saber sobre a consulta.
— Tirando o chilique que Adrian deu na sala, quando a médica disse que só a partir do
quarto ou quinto mês, saberemos o sexo do bebe, de resto, foi tranquilo. Ele até chorou quando
ouviu a batida do coraçãozinho – ri sentando-me no sofá ao seu lado.
— Não chorei não – ele diz. — Me emocionei, é diferente – ele conclui fazendo todos
caírem na gargalhada.
— Querida, vou subir. Preciso arrumar a mala pra viagem. Sairei amanhã bem cedo.
— Precisa ir mesmo? Três dias é muito, Adrian. Por que não posso ir junto?
— Porque você iria me desconcentrar – ele diz alisando minha coxa e sustentando sua cara
de safado.
— Aqui não, gente! – Terry resmunga. — Aprendam a se comportar. Não quero meu
sobrinho ou sobrinha presenciando essas safadezas aqui em casa – ela ri.
— Vá se ferrar – ele diz a irmã. — Que tal se jantássemos fora hoje?
— Oba! Eu quero – Terry diz toda alegre me fazendo rir. A cara de Adrian é impagável.
— Só pra constar, estava falando com a minha mulher – ele lança um olhar mortal para ela.
— Só pra constar, eu não sou surda. Mas, eu também vou. Não que eu não goste da comida
da Maria, é que eu tô a fim de sair.
— Cadê o Jonas? Pede para ele te levar pra sair – ele resmunga enfurecido.
— O meu namorado, disse que não pode vir hoje, pois ele irá viajar com você. Olha só que
legal – ela ironiza.
— Ouvi o meu nome? – Jonas grita da porta da sala. Ele caminha até nós e vejo Terry
surpresa com sua aparição repentina.
— O que faz aqui? Disse que não viria – ela pergunta parecendo chateada.
— Adrian, precisamos conversar – diz dando um beijo em Terry e, pela sua cara, lá vem
bomba.
— Diga.
— Saiu o resultado. Pasmem. O avião realmente foi sabotado.
— Não brinca com isso – Adrian diz e se levanta tão rápido, que me assusto.
— Não estou brincando. Amanhã devem oficializar e certamente, estará em todos os
jornais. Mas o pior não é isso – ele nos olha cauteloso.
— Sério? Não sei o que pode ser pior.
— Espere! Vá com calma, Jonas. Não entendi, ainda tem mais coisa? – pergunto assustada.
— Michel Alves. O que sabia sobre ele, antes de trabalhar para você? – Jonas o interroga.
— O que isso tem haver? O cara tá morto – ele responde e algo me diz que vem coisa ruim
por aí.
Jonas abre sua maleta e retira uma pasta arquivo. Dentro dela, algumas folhas impressas.
— Meu contato me mandou isso hoje à tarde – ele entrega as folhas para Adrian.
— Que merda é essa? – Adrian pergunta analisando rapidamente os papéis.
— Michel era procurado pela polícia internacional por tráfico de drogas. Ao que consta,
seu nome verdadeiro é Mikhail Ivanov. Ele é russo.
— Aonde quer chegar com isso tudo? – ele pergunta perplexo.
— O seu piloto, está bem vivo. Foi preso ontem tentando sair do México com uma grande quantidade de drogas.
— Uau! – Terry diz aterrorizada.
— Mas... Co-como? Ele estava naquele avião Jonas.
— Pode até ser, mas, em algum momento, ele deve ter saído – Jonas rebate.
— Vivo? Ele era o melhor piloto que tínhamos. Sérgio não era muito confiável ainda, tinha
pouco tempo conosco, por isso sempre ficava como copiloto. Isso é absurdo e muito confuso
pra minha cabeça – ele diz andando de um lado para o outro.
— Isso explica por que não acharam o corpo dele – Terry diz e uma luz me acende.
— E a Sara? – grito em pânico e todos me olham. — O corpo dela também não foi
encontrado. Ela está viva não é? Encontraram ela também? – pergunto descontrolada.
— Eu sabia que essa vadia não iria morrer tão fácil – Terry resmunga e Adrian diz a ela
para calar a boca.
— Anda Jonas, desembucha logo! Onde ela está? Estava com ele não estava? – avanço nele
e Adrian me puxa.
— Verônica, fique calma.
— Não peça pra que eu fique calma, Adrian. E se ela voltar? O que você vai fazer? Pior...
E se ela bater aqui na porta com seu filho ou seja lá de quem, no colo? – digo apavorada e ele
parece pensar nessa possibilidade.
— Não sabemos nada sobre a Sara, Verônica – Jonas diz, mas eu não acredito nele.
— Fique calma, meu amor. Você não pode ficar desse jeito – Adrian tenta me acalmar e me
dá um abraço forte.
— Podemos falar com ele? Onde ele está sendo mantido? – Adrian pergunta para Jonas
ignorando completamente o que eu disse.
— Ainda não tenho essas informações. Sabe como funcionam essas investigações, não é?
São sigilosas. Se Michel teve alguma coisa com a sabotagem do avião, a polícia irá descobrir.
— Já pensou na hipótese da Sara ter ajudado o Michel? – Terry pergunta.
— A troco de que ela faria isso? Eu não acredito que Sara esteja envolvida. Ela não
arriscaria a vida de inocentes e nem a do nosso filho. Não acredito que ela esteja nessa com
ele. Pra mim, ela está morta – Adrian diz e sinto que luta contra algo dentro dele. Talvez, nem
ele mesmo, acredite em suas palavras.
— Vocês acham que os telefonemas anônimos podem ter sido dele? Do piloto, sei lá – digo
ainda com a sensação de que tem muito mais coisa nessa história toda.
— Não – Adrian responde.
— Também acho que não – Jonas diz.
— Então só pode ser ela. É isso. Ela sabe sobre nós, Adrian. Por isso enviou a carta hoje
dizendo que eu corro perigo. Ela quer me matar – digo estática. O pânico só aumenta a cada
possibilidade que vejo dela aparecer a qualquer momento na minha frente.
— Isso é ridículo, Verônica – Adrian ri me deixando furiosa.
— Você recebeu uma carta ameaçando ela? – Jonas pergunta espantado.
— Não. Claro que não. A carta só dizia que ela corria perigo – Adrian responde
naturalmente.
— Você é louco? Isso dá no mesmo. – Terry se levanta do sofá e anda até Adrian.
— Me dá a carta – ela pede. — Se esse piloto safado está vivo, Sara pode muito bem estar
viva também. E se for ela quem mandou a carta e está ligando?
— Vocês todos estão loucos – Adrian diz retirando a carta do bolso e entrega para a irmã.
— Quer saber... Jonas, eu quero todas as informações sobre a prisão do Michel. Infelizmente,
não posso adiar ou cancelar a viagem. Assim que voltar, quero ver esse filho da puta
pessoalmente. Enquanto isso, eu quero que cuide de tudo e me mantenha informado. Viajarei
sozinho. Você ficará aqui cuidando desse assunto – ele diz e Jonas assente. — Vou para o meu
quarto – ele conclui e sai da sala nos deixando paralisados olhando para ele enquanto sobe as
escadas.
— Acho que ele não está legal – Terry diz me deixando ainda mais apreensiva.
— Vou para o quarto também. Acho que depois dessa, perdi até a fome – digo e me retiro
da sala.
Assim que entro no quarto, não vejo Adrian. Ando pelo corredor e noto que a porta do
quarto do bebê está entreaberta. Me aproximo sorrateiramente e abro a porta devagar. Adrian
está sentado na poltrona branca com os cotovelos apoiados em sua coxa e as mãos sustentando
sua cabeça baixa.
— Está pensando nela, não está? – digo e ele me olha atento. — Se ela voltar eu...
— Hei! Quantas vezes eu vou ter que falar que é só você que amo, meu amor. Só estou
tentando digerir isso tudo. Parece tudo tão absurdo – ele diz com a voz cansada. — Não vou
deixar ninguém chegar perto de você. Não vou deixar ninguém te machucar. Entendeu? – ele
diz se levantando e me puxa para ele. — Você entendeu?
— Sim.
— Eu pensei em redecorar o quarto para que sua mãe pudesse ficar aqui. O que acha? – ele
sorri.
— Acho uma boa ideia – digo, mas minha mente está longe.
— Acho que podemos decorar o outro quarto para o bebê. Assim, ele ficará mais perto de
nós.
— Você precisa ir mesmo? – pergunto mudando de assunto.
— Sim. Eu quero que você me prometa que não irá sair de casa à noite. Durante o dia, o
Paulo pode te levar onde quiser.
— Tudo bem. Não tenho para onde ir mesmo – digo rindo.
— Nós vamos passar por esses problemas juntos, meu amor. Só quero que você não surte
toda vez que ouvir o nome da Sara. Ela está morta. Morta. E não interessa o que os outros
dizem, ela sempre vai estar morta para mim – ele diz e me dá um beijo suave. — Eu te amo.
— Eu também amo você – digo.
— Acho que podemos tomar um banho, comer algo bem leve e ver um filme. O que acha?
— Só se eu puder escolher – digo e ele ri.
— Certo – ele diz me dando mais um beijo e seguimos para o quarto.

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