prólogo

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Ser mãe nova e solteira,foi uma das tarefas mais difíceis da minha vida,porém, me transformou na mulher forte que eu precisava ser. Tenho orgulho de toda a minha trajetória, mas daria tudo para não ter que passar por todos os aborrecimentos os quais passei.

Engravidei do amor da minha vida aos dezesseis anos de idade, foi irresponsabilidade nossa, mas adolescente com hormônios a flor da pele, não costumam ter muito juízo. Morávamos no interior de Goiás, há cinco horas da capital, nossas fazendas eram vizinhas e nossas famílias rivais. A fazenda da família Ramos,que no caso é a minha e a fazenda da família Faccini que é a de Roberto,praticamente comandavam o capital da cidade. As fazendas tinham ecoturismo,promoviam eventos,passeios e um monte de outras atividades que rendessem dinheiro.

Vovô João e seu Mateo, eram inimigos declarados,viviam em constante disputas para ver quem era o mais rico da cidade e preferido pelo povo e pelos políticos. As famílias se odiavam,não se uniam por nada nesse mundo. Até que eu,no auge dos meus quinze anos,tive o desplante de me apaixonar por Roberto Faccini,mais conhecido por Beto.

A paixão era recíproca, nos encontrávamos as escondidas por dentro do mato e fugiámos para tomar banho na cachoeira que ficava em uma trilha de uma fazenda pequena. A gente se amava,mas o medo nos impedia de sermos felizes por completo.

Um dos tios de Beto fora assassinado,o principal suspeito era meu tio,o irmão da minha mãe o qual eu mais amava,e eu não acreditava que alguém da minha família fosse capaz de cometer tal atrocidade e eu o defendia com unhas e dentes. Beto ficou com raiva de mim e se afastou. Sofri por dias, até que perto do meu décimo sexto aniversário,o mesmo me procurou,pediu perdão e naquela noite,resolvi me entregar a ele.

Meses depois,meu tio foi declarado inocente e em seguida alguém me delatou para meu avô.

Lembro como se fosse hoje,meu avô me chamou para uma conversa com todos os membros da família e explanou meu caso com Beto,o olhar de julgamento das pessoas,acabou comigo. O tapa que eu levei de meu pai,até hoje dói. Se naquela época, vovó ainda fosse viva, certeza que teria ficado ao meu lado, ela foi a alma mais bondosa que já morou naquela maldita fazenda.

Naquele mesmo dia,me mandaram fazer as malas e ir morar com uma tia avó em São Paulo.

Não demorou para que eu tomasse ciência da gravidez. Entrei em desespero,tomei diversos chás e até cogitei me jogar da escada,mas felizmente não perdi o bebê. A minha tia descobriu antes mesmo que eu contasse para ela e ela prometeu cuidar de mim,e assim o fez.

Infelizmente,Beto não pôde saber da filha,na época celulares não eram acessíveis ,internet  era bem difícil e eu não fazia ideia do número do telefone fixo da casa dele, poderia mandar uma carta, mas provavelmente esta nunca chegaria nele.

Minha família da fazenda, ignorou totalmente o fato de eu estar grávida e quando Roberta nasceu,minha mãe propôs que eu desse para a adoção,recusei a ideia sem noção e minha tia também, a partir daquele dia,minha mãe nunca mais me procurou e eu não recebi nenhuma ajuda financeira mais.

Beta ainda não tinha um ano, quando fiquei sabendo que seu pai havia casado e a moça estava grávida dele. Aquilo foi como uma facada em meu coração,mas eu tive que seguir em seguir em frente, nosso amor não poderia ser possível, não naquela época onde nossas vidas eram comandadas por nossos familiares. Beto tinha que ser feliz e ele nem sabia onde eu estava, não tivemos despedidas,ele não tinha culpa do meu sofrimento.

Refiz minha vida também, namorei um rapaz e em poucos meses casamos,porque eu estava grávida novamente e não queria mais dá tanto trabalho para a tia Ângela.

Meu casamento acabou, quando minha caçula tinha cinco anos. Meu ex marido tinha uma amante que fez questão de jogar na minha cara que ele havia dado uma casa pra ela e sustentava os filhos dela,como se fossem dele. Não gritei,não briguei. Apenas joguei as roupas dele em um saco de lixo,e pedi ajuda a um vizinho para trocar as fechaduras da casa e deixei um bilhete na porta.

Quem fez escândalo foi ele, que não aceitou aquilo de forma nenhuma e por diversas vezes, tentou reatar, mas fui firme em minha decisão.

Mas o que fazer quando não se tem trabalho e têm duas filhas para criar e a pensão paga para uma delas não passava de uma mixaria? Pôr a mão na massa e fazer o que eu sabia. Costurar. Vovó antes de morrer,me ensinou o básico da costura e tia Ângela me ensinava mais um pouco todos os dias, e era uma coisa que eu amava fazer,tanto que a maioria das roupas de minhas filhas,era eu mesma quem confeccionava.

Com o dinheiro das roupas,manti minha casa, minhas filhas,e a escola delas. Abri uma loja,pequena,porém me dava um lucro muito bom que me deu a oportunidade de poder pagar o ensino superior, dos meus dois presentes de Deus.

Aos trinta e oito anos de idade,eu sou a mulher que com quinze eu não imaginaria ser. Fui forte,sou forte e sempre serei. Tia Ângela, é meu anjo da guarda,sempre me amparou e  serei eternamente grata.

Nesses vinte e dois anos que se passaram,aconteceram tantas coisas,meu avô morreu, meu tio, minha mãe e meu pai assumiram a fazenda e continuam ricos,mas nunca nem me procuraram para saber se eu estava precisando de algo, nunca. Mas ainda bem,que deles,eu nunca precisei.

Nossos Filhos  (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora