Capítulo Quatro

662 114 39
                                    

As boas garotas choram, as más sorriem mesmo querendo gritar.

Esse sempre foi o meu lema. Robert me deixou em casa às quatro da manhã em ponto. Se despediu com um beijo rápido e praticamente me expulsou do carro dizendo:

— Nos vemos no colégio.

Eu assenti e saí do Impala que à luz da lua parecia brilhar mais que o normal. O vento gélido da noite me fez arrepiar e novamente eu abracei meu próprio corpo. Segui silenciosa pelo caminho até entrar em casa. Já no meu quarto tirei toda maquiagem e passei um hidratante na pele. Troquei de roupa e após olhar uma última vez pela janela, deitei na cama. Instantaneamente recordei da cama de casal dos pais do Ralf. Talvez eu estivesse levando tudo para um patamar extremo. Era óbvio que Robert também me amava. Ele não teria dito tudo o que me disse se não amasse. Ou diria?

Eu mal dormi à noite. Volta e meio minha mente se inundava de pensamentos e eu não conseguia descansar. Meus olhos arderam em lágrimas que eu me recusei em derramar.

Pela manhã após minha rotina habitual de arrumação, mais cedo que o normal, fui até o quarto dos meus pais. Encontrei minha mãe enrolada em uma toalha, passando creme hidrante na pele.

— Que cara é essa? — Ela questionou assim que me viu. — Não sabe que precisa dormir no mínimo seis horas por noite para estar minimamente apresentável?

— Dormi mal. — Me limitei a responder e sentei na cama observando ela pelo o espelho. Ela tirou a toalha e começou a se vestir. Ela odiava a forma como a barriga tinha ficado após a gravidez. Mesmo depois da lipoaspiração e de inúmeros tratamentos estéticos ela ainda odiava a barriga perfeita dela. — Acho que não vou para o colégio hoje. — Contei mesmo sem ela perguntar.

— Vai sim, é mesmo uma grande perda de tempo, mas temos um trato com seu pai. Na verdade já era para você estar nas passarelas de grandes desfiles. Eu não consegui levar nosso nome ao estrelato, porém você conseguirá. Afinal eu não posso fracassar em tudo nessa vida. Já fracassei quando perdi minha chance de ser uma grande estrela para ter você. Outro fracasso eu não vou aceitar.

— Acha que meu nascimento foi um fracasso? — Questionei e ela sorriu irônica.

— Ora, agora não é hora para sentimentalismo, querida. Vá logo tomar seu café e ir para o colégio! Será que pode fazer pelo menos isso sem estragar tudo mais uma vez? — Seu tom sarcástico me fez revirar os olhos.

Levantei da cama e saí imediatamente do cômodo. Desci para tomar café e me deparei com meu pai falando ao telefone. Parecia um assunto bem sério já que ele se encontrava bastante exaltado. Pouco depois desligou a ligação e suspirou pesadamente sentando à mesa.

— Algum problema? — Questionei preocupada e ele me lançou um olhar pouco amigável.

— Como se você se importasse com algo além do seu mundo cor de rosa, Katie. Me poupe de tamanha hipocrisia uma hora dessa da manhã! — Ironizou e eu peguei a minha barrinha de cereal sobre o prato. Era tudo que minha mãe mandara a Corina preparar para mim.

Observei meu pai comer waffle com cobertura de chocolate e saí da mesa o mais rápido que podia. Não suportava as tentações dos cafés dele.

Meu mundo não era cor de rosa como ele apontava. Havia muitas cores nele e nem todas eram belas.

Peguei minha bolsa e notei Corina fazendo sinal para eu ir até a cozinha. Acompanhei ela já sabendo do que se tratava.

— Então, como foi a festa?

— Não foi como eu esperava. — Respondi desanimada e ela franziu a testa.

— Por quê?

— É complicado, Ina. As vezes o Robert parece tão próximo, tão acolhedor, sabe? Mas de repente em um piscar de olhos tudo muda completamente e ele fica distante. Como se tudo não passasse de um jogo para ele. — Contei amargurada.

— Não fica assim, querida. Eu já te disse que é melhor você avaliar bem essa relação. Ao que me parece está mais envolvida que ele.

— Mas ele disse que temos uma conexão especial. Que vai me levar para o baile. — Pontuei confusa e ela me abraçou.

— Conversem sobre isso, põe ele contra a parede se for o caso. Ele precisa decidir se quer viver essa relação ou não.

— Você tem razão. Eu vou fazer isso. Obrigada, Ina.

Ela sorriu me abraçando e eu me despedi dela. O fato de ser sexta-feira me animou um pouco. Gaspar pegou as meninas pelo caminho e tudo parecia finalmente encaixado em seu devido lugar.

— Will é tão gostoso e melhor, ele quer me levar ao baile. — Belinda contou eufórica dentro do carro.

— Achei que você iria com o Tyler. — Glória e eu comentamos ao mesmo tempo.

— Ainda não me decidi qual convite irei aceitar. Eles terão que dar o melhor deles para que eu possa escolher. — Respondeu envaidecida e eu ri ironicamente.

— Você acha mesmo que eles vão ficar esperando sua majestosa decisão? — Questionei e ela arregalou os olhos.

— Você acha que não?

— Eu acho que Tyler seja o garoto certo para ir ao baile. Afinal ele é do time e é conhecido. Agora me diz, quem conhece o Will?

Belinda pensou por um momento e quando Gaspar estacionou o carro na frente do colégio ela suspirou. — Você tem razão, Katie.

— Eu sempre tenho razão.

Glória permanecia mais na dela, desde a festa. Cismou em ser misteriosa e eu não tinha paciência para isso.

No colégio todos comentavam animados sobre a festa. Robert me beijou de surpresa quando me aproximei dele pronta para fazer o que Corina me sugeriu.

— Topa ir no boliche hoje à noite? — Ele inesperadamente me convidou.

— Eu... Achei que você não estivesse mais interessado em mim.

— De onde você tirou isso, Katie?

— Pela forma como me tratou no final da festa. — Expliquei e ele pareceu realmente espantado.

— Eu provavelmente estava muito bêbado, não foi minha intenção te dispensar. — Respondeu e eu suspirei pesadamente. — Ei, você sabe que é especial para mim, não sabe? — Puxou o meu queixo me fazendo olhar em seus olhos.

— As vezes você me deixa tão confusa. Prefiro que você diga a verdade sobre o que sente. Se não estiver levando tudo tão a sério ao menos diga para eu ter tantas expetativas.

— Mas é claro que eu levo nosso lance a sério. — Rebateu sério me deixando extremamente contente. — Muito a sério. E então, te pego às oito?

— Certo. Mas não se atrase!

— Pode deixar, gata. — Me deu um selinho e eu involuntariamente sorri.

Recostei no armário e observei ele se afastar. Por onde passava as garotas o olhavam com atenção. Algumas suspiravam abraçando os livros ao peito. Ele tinha esse poder sobre nós. Eu ri pensando o quanto eu tinha sido idiota em imaginar que não estávamos bem. Talvez nunca tivéssemos tão bem antes.

***

— Céus, Sara Black não desiste de nos presentear com a visão medonha dela com essas roupas do século passado? — Belinda recriminou no vestiário e todas as garotas riram.

Uma coisa que aprendemos desde cedo era sempre ser a fonte da risada. Nunca o alvo.

— Ela acha que está arrasando. — Molly zombou rindo.

— Não vamos zoar, meninas. Talvez Sarah Black tenha um terrível déficit mental, pois só isso explicaria o péssimo gosto para roupas. Até para ser ridícula é necessário ter limites, e ela ultrapassa com maestria. — Ironizei terminando de me vestir e todas riram ainda mais alto. Até que Glória apontou para trás e eu me virei.

Sarah​ Black estava de braços cruzados me olhando com cara de poucos amigos. Eu sorri com sua tentativa ridícula de me intimidar. Dei um tchauzinho e ela respirou fundo. O que eu não sabia era que isso não acabaria ali.

Bad girlWhere stories live. Discover now